- O que está em causa?Nas redes sociais, em várias línguas, apela-se a um boicote aos produtos "Made in Israel", supostamente identificáveis através dos três primeiros algarismos dos respetivos códigos de barras: 729.

"A marca comercial dos seus produtos. E tu sabes o que fazer", apela-se numa das publicações mais virais (milhares de partilhas e interações no Facebook), datada de 12 de outubro, em que se apela a um boicote aos produtos com origem em Israel, por causa da guerra em curso na Faixa de Gaza contra os militantes do Hamas.
E como identificar esses produtos? Supostamente através dos três primeiros números que figuram nos códigos de barras. De acordo com as publicações em causa, se os três primeiros algarismos são "729" é porque corresponde a "Made in Israel" (i.e., produzido em Israel).

"Boicote aos produtos fabricados ou comercializados pelo regime sionista de Israel. Atenção, o regime de Israel criou novos códigos para evitar o boicote: 729, 841 e 871", destaca-se noutro post, de 26 de setembro (neste caso é anterior ao ataque do Hamas contra Israel que ocorreu a 7 de outubro).

O modelo de código de barras mais comum apresenta um número com oito a 14 algarismos. A GS1 é uma organização sem fins lucrativos que atribui números únicos para códigos de barras, com destaque para os formatos EAN (European Article Number - Número Europeu de Artigo) e UPC (Universal Product Code - Código Universal de Produto) que "são impressos em praticamente todos os produtos de consumo do mundo" e "são os mais antigos e mais amplamente utilizados de todos os códigos de barras".
A referida organização informa que as empresas têm um prefixo (os três primeiros algarismos) nos códigos de barras que indica o respetivo país de origem, mas "uma vez que as empresas podem fabricar produtos em qualquer parte do mundo, os prefixos GS1 não identificam o país de origem do produto em causa".
Ou seja, o prefixo aponta para a sede ou registo da empresa, não para a origem do produto. A GS1 disponibiliza uma lista com todos os prefixos atribuídos, desde Portugal (560) até Israel (729). Quanto aos referidos 841 e 871, na realidade correspondem à Espanha (840-849) e aos Países Baixos (870-879), sem qualquer relação com Israel.
Acresce a possibilidade de a empresa que requereu o número de código de barras à GS1 não ser a mesma empresa que fabricou o produto.
Em suma, mais rigorosamente, o prefixo identifica o país de origem da empresa que requereu o número do código de barras, não o país de origem do produto, nem o país de origem do fabricante.
__________________________
Avaliação do Polígrafo:
