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Bill Gates esteve envolvido no lançamento do “EntoMilk”, um “leite cremoso” feito à base de insetos?

Internacional
O que está em causa?
Numa série de publicações partilhadas nas redes sociais alega-se que Bill Gates, empresário norte-americano, tem estado envolvido na promoção do "EntoMilk". Diz-se que será um "novo produto alternativo aos laticínios". Verdade ou mentira?

“Bill Gates ordena que o Governo substitua o leite de vaca por ‘leite cremoso de larva’”, lê-se numa de várias publicações partilhadas na rede social X, que disseminam esta narrativa. Segundo acrescenta a mesma thread, o bilionário pretende que esta seja uma evolução gradual nos hábitos alimentares e que seja generalizável a todo o mundo.

E, de modo a incentivar esse consumo, Bill Gates terá estado envolvido, até, no lançamento de um “novo produto ‘alternativo aos laticínios’ chamado ‘EntoMilk’”. 

Ora, a publicação remete ainda para um artigo publicado no site Planeta Prisão”, que se assume como “o maior acervo do mundo sobre pandemia, protocolos para vacinados, NOM [Nova Ordem Mundial], Grande Reset, Geopolítica e Bastidores do Mundo”. 

Segundo esta fonte, uma “caixa típica de EntoMilk é feita de milhares de larvas esmagadas”. Após os insetos serem “misturados e processados”, o resultado é um “líquido rico e cremoso que parece e age exatamente como o leite”, refere-se no artigo que, por sua vez, cita informação partilhada no portal norte-americano “Natural News”. 

Mas será que a narrativa é fundamentada?

Não. Como verificaram a Reuters e a AFP, o EntoMilk é um produto da empresa sul-africana Gourmet Grubb – entretanto extinta – que se especializava no fabrico de produtos à base de insetos. 

De acordo com um artigo publicado em junho de 2019 no “Business Insider”, com base em informação partilhada no site da empresa – que agora remete para uma página de apostas online –, o EntoMilk é uma alternativa láctea feita a partir de larvas da mosca-soldado-negro. É um produto que tem, segundo a companhia, “mais proteínas do que o leite de vaca tradicional, possui grandes quantidades de ferro, zinco e cálcio e não contém hidratos de carbono”.

De facto, um comunicado divulgado em dezembro de 2020 na página  – agora arquivada – de apresentação deste produto refere o nome de Bill Gates, mas não do modo como se afirma na publicação analisada: “Richard Branson, Bill Gates e Arielle Zuckerberg investiram em startups de produtos à base de insectos num passado recente e inúmeras espécies de insectos comestíveis foram popularizadas como potenciais superalimentos.” Porém, em qualquer momento se aborda o alegado envolvimento do empresário neste projeto, fazendo-se apenas referência às parcerias estabelecidas, pela empresa, com a Universidade de Tecnologia da Península do Cabo, na África do Sul, e a Agência de Inovação Tecnológica do país.

Em declarações à Reuters, Leah Bessa, co-fundadora da Gourmet Grubb, assegurou que nem Bill Gates, nem a entidade filantrópica que o bilionário fundou com a agora ex-mulher tiveram qualquer envolvimento na operação desta empresa. A mesma agência noticiosa informou ainda que um porta-voz da Fundação Bill & Melinda Gates garantiu que as alegações que dão conta de que o fundador da Microsoft lançou este leite feito à base de larvas não têm qualquer fundamento.

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Avaliação do Polígrafo:

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