“No país dos vigaristas. (…) Como somos enganados sem perceber. A Becel que tinha uma embalagem de 500 gramas alterou o peso para 450 gramas e subiu o preço quase para o dobro, de aproximadamente 3,5 euros para mais de 5 euros, diminuindo a quantidade em 50 gramas, mas mantendo a dimensão e forma e até o design da embalagem”, denuncia-se num post de 7 de março no Facebook, entretanto partilhado por milhares de pessoas.
“Não acaba aqui. (…) Não satisfeitos mantiveram a embalagem e diminuíram mais 50 gramas, passando a 400 gramas. Curiosamente vendem em simultâneo as embalagens de 400 e 450 gramas, (…) ao mesmo preço em ponto de venda. Coloca-se a questão: qual é o preço de quilo deste produto da mesma referência quando 450 e 400 têm o mesmo Preço de Venda ao Público? (…) Isto não é marketing ou estratégia, é puramente vigarizar o consumidor de forma impune“, sublinha-se.
O Polígrafo já tinha analisado uma publicação quase similar, em setembro de 2022. Mas esta denúncia entretanto voltou a ser partilhada nas redes sociais, ainda mais viralmente, motivando uma série de pedidos de verificação.
Nessa altura, questionada pelo Polígrafo, fonte oficial da Upfield – empresa do ramo alimentar que detém a marca Becel – confirmou que teve de “reduzir a quantidade (peso) de algumas referências” dos seus produtos, “como é o caso da Becel”. No entanto, garantiu que esta alteração “está claramente descrita nas embalagens, no site e na prateleira dos retalhistas“.
“Como muitas empresas do ramo alimentar, temos verificado aumentos significativos nos custos dos ingredientes e commodities (incluindo plástico, combustível, alumínio, etc.) nos últimos meses, o que afetou o fornecimento e aumentou os custos de fabrico”, informou a mesma fonte. E acrescentou que esta redução foi efetuada “para continuar a fornecer aos consumidores produtos acessíveis e de qualidade” e “minimizar o aumento de preços, garantindo que os processos de fabrico e operação sejam tão eficientes quanto possível”.
No caso específico da Becel, a Upfield explicou que “a redução foi de 50 gramas, de 450 para 400 gramas”, e que as embalagens anteriores à alteração foram mantidas “para minimizar o aumento de preços ao consumidor evitando novos processos com novas embalagens”. Em relação ao Preço de Venda ao Público (PVP), mencionado na publicação viral, a empresa indicou que, embora o possa recomendar, “o preço final de venda dos nossos produtos fica sempre ao critério de cada retalhista“.
Por sua vez, fonte oficial da Deco Proteste explicou que estamos perante a prática de “reduflação” e garantiu que esta “não é ilegal desde que a informação no rótulo esteja correta“. Segundo a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, “muitas vezes o consumidor sente-se enganado com estas subidas de preço que acha serem disfarçadas“.
Em suma, a denúncia no essencial é verdadeira, mas importa ter em atenção que se trata de uma prática legal – “desde que a informação no rótulo esteja correta” -, além da justificação da empresa.
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Atualização:
Na sequência da publicação deste artigo recebemos da parte da Upfield informação adicional que passamos a transcrever.
“Importa referir que o preço final (PVP) que o consumidor vê nas prateleiras é sempre do critério de cada cadeia de retalho e não do fabricante.
A Upfield tem realizado um intenso trabalho para minimizar o aumento de preços, garantindo que os processos de fabrico e operação sejam tão eficientes quanto possível, sem comprometer o sabor, a qualidade ou o desempenho dos seus produtos para os consumidores.
Como muitas empresas do ramo alimentar, temos vindo a verificar aumentos significativos nos custos dos ingredientes e commodities (incluindo plástico, combustível, alumínio, etc.) nos últimos meses, o que afetou o fornecimento e aumentou os nossos custos de fabrico.
Para continuar a fornecer aos consumidores produtos acessíveis e de qualidade, tivemos de reduzir a quantidade (peso) de algumas referências de alguns dos nossos produtos, como é o caso da marca Becel. Esta alteração está claramente descrita nas embalagens, no site e na prateleira dos retalhistas. Neste caso específico de Becel reduzimos em 50 gramas (de 450 gramas para 400 gramas) e mantivemos os tamanhos das embalagens para minimizar o aumento de preços ao consumidor evitando novos processos com novas embalagens.
Embora possamos recomendar um preço de venda (PVP), o preço final de venda dos nossos produtos fica sempre ao critério de cada retalhista.
Neste sentido, consideramos que quando o consumidor identifica o preço do produto, também deveria identificar o ponto de venda e a data, e não generalizar e não atribuir a definição do preço ao fabricante, uma vez que não é correto”.
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Avaliação do Polígrafo: