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Beber água de 15 em 15 minutos diminui o risco de infeção pelo novo coronavírus?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Está a circular nas redes sociais um texto sobre novas precauções a tomar contra o Covid-19. O autor, não identificado, afirma que foram validadas por "especialistas de Taiwan". Suster a respiração e beber água de 15 em 15 minutos são alguns dos conselhos dados para prevenir a infeção. Mas terão validade científica?

“O novo coronavírus pode não mostrar sinais de infecção por muitos dias… Então como é que alguém pode saber se está infectado? Quando as pessoas já estão com febre e/ou tosse e vão para o hospital, os pulmões geralmente estão já com 50 % de fibrose e é tarde demais”, salienta-se no texto.

“Especialistas em Taiwan fornecem uma simples auto-verificação que podemos fazer todas as manhãs: Respire fundo e segure a respiração por mais de 10 segundos. Se conseguir completar com sucesso este teste sem tossir, sem desconforto, recheio, aperto etc, isso prova que não há fibrose nos pulmões, ou seja, basicamente indica que não há infecção”, acrescenta-se.

“Toda a gente deve garantir que a sua boca e garganta estejam húmidas, e que nunca fiquem secas. Tome uns goles de água a cada 15 minutos pelo menos. Porquê? Mesmo que o vírus entre na sua boca o facto de beber água ou outros líquidos vai levá-lo através do seu esófago para o estômago. Quando estiver na barriga, o ácido do estômago irá matar o vírus. Se não bebermos água regularmente o vírus pode entrar na traqueia e nos pulmões e isso poderá ser muito perigoso”, conclui-se.

Confirmam-se estas informações?

O Polígrafo contactou o virologista Kamal Mansinho, que destacou que “quando uma pessoa vai com febre ou tosse ao hospital, não há fibrose nos pulmões.” E explica: “Existe uma inflamação nas vias aéreas, mas não fibrose necessariamente. A fibrose é uma consequência tardia de alguns tipos de infeções. Nunca é no imediato. O exemplo que ele deu não tem nenhuma validade. Não há nenhuma base, do ponto de vista dos mecanismos que levam ao desenvolvimento de fibrose, que sustentem esta prova.”

Relativamente ao exercício de suster a respiração, Mansinho afirma que “o que se propõe não tem qualquer validade do ponto de vista científico.”

Relativamente ao exercício de suster a respiração, Mansinho afirma que “o que se propõe não tem qualquer validade do ponto de vista científico.”

Em relação aos goles de água de 15 em 15 minutos, o médico esclarece: “No caso concreto do coronavírus, algumas células da boca, do nariz, da garganta, têm um receptor que funciona como fechadura, a que o vírus se liga para entrar nas células. Quando se diz que quando chega ao estômago e é destruído, não é verdade. Antes de chegar ao estômago pode causar infecção.”

“No caso concreto de alguns vírus respiratórios normalmente eles infetam porque temos células que estão prontas para receber o vírus logo no nariz, na garganta, nos brônquios. Se algum vírus chega ao estômago, ele já entrou para onde pretendia entrar, para as vias respiratórias”, conclui.

“No caso concreto de alguns vírus respiratórios normalmente eles infetam porque temos células que estão prontas para receber o vírus logo no nariz, na garganta, nos brônquios. Se algum vírus chega ao estômago, ele já entrou para onde pretendia entrar, para as vias respiratórias”, conclui.

Em suma, a informação que está a circular nas redes sociais, para além de não ter qualquer sustentação factual, está a difundir falsidades.

***

Nota editorial 1: este texto foi produzido pela redação do Polígrafo e cientificamente validado pela Direção-Geral da Saúde, no âmbito de uma parceria estabelecida entre as duas entidades a propósito de um tema que se reveste de um inquestionável interesse público.

Nota editorial 2: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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