Três pessoas com batas, máscaras e armas na mão surgem no início de um vídeo que está a ganhar força nas redes sociais. Este conteúdo está a ser associado a uma publicação onde se afirma que as autoridades chinesas estão a matar os pacientes infetados pelo coronavírus Covid-19. O clip, com cerca de um minuto, mostra ainda uma pessoa ensanguentada, deitada no chão, enquanto se ouvem sons que aparentam ser tiros.

Desde que começou a epidemia do Covid-19, são muitas as histórias e curas milagrosas que correm as redes sociais. O Polígrafo já desmentiu várias publicações sobre este assunto. Desde o final de dezembro, já foram confirmados 75.192 casos, segundo dados do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), citados pela Direção Geral de Saúde (DGS), de 19 de fevereiro.

O vídeo chegou a ser partilhado por James Woods, que questionava a veracidade deste conteúdo. Segundo a plataforma de fact-checking americana Snopes, várias publicações foram, entretanto, apagadas. No entanto, o vídeo continua a estar disponível na plataforma Twitter e chega a mais utilizadores a cada dia.

Mas será verdade que as autoridades chinesas estão a matar a tiro os pacientes das zonas de quarentena? Não, não é. Este vídeo é o resultado de uma montagem de três clips não relacionados e descontextualizados que pretendem contar uma história falsa.

O primeiro vídeo, onde supostamente surgem os médicos com armas, corresponde na verdade a imagens de polícias chineses. No capô do carro, que aparece de relance no vídeo, pode ler-se “polícia”. Segundo o Snopes, a origem do vídeo não foi identificada, no entanto é possível ver no banco de imagens Getty fotografias das forças policiais equipadas com vestimentas semelhantes às do vídeo.

O vídeo prossegue e surge o que aparenta ser um médico a tratar um paciente na rua enquanto se ouvem sons de supostos tiros. Este vídeo está também a ser partilhado nas redes sociais como sendo um “novo vídeo sobre a zona de quarentena na China”. “Pessoal médico a verificar pacientes com #coronavirus. Existem múltiplos relatórios de pessoas a morrer em suas casas. Os tiros que ouve no fundo são para impedir aqueles que querem escapar para terrenos baldios”, pode ler-se na descrição que acompanha este vídeo.

No decorrer do vídeo não aparece nenhuma arma e, enquanto se ouvem os supostos tiros, nenhum dos intervenientes parece estar preocupado com o tiroteio. Esta falta de relação entre a imagem e o som poderá resultar de uma manipulação do som. Poderá, por exemplo, ser um som de fogo de artifício, uma vez que o vídeo foi publicado poucos dias depois dos festejos do Novo Ano Lunar, celebrado a 25 de janeiro.

A terceira parte do vídeo mostra uma pessoa ensanguentada que aparece deitada no chão e, na sequência dos clips anteriores, tenta passar a imagem de que foi morta a tiro pelas autoridades chinesas. Segundo o The Observer, este vídeo corresponde a um acidente de motociclo, que fez uma vítima mortal e em nada está relacionado com o Cornavírus. No vídeo original, ao contrário do segmento que surge na compilação, não se ouvem quaisquer sons de tiros, o que reforça a argumentação de manipulação do som.

Concluindo: este conteúdo resulta de uma montagem de três vídeos captados em momentos e circunstâncias diferentes e que estão a ser utilizados para disseminar uma história falsa. As autoridades chinesas não estão a matar a tiro os pacientes infetados com o Covid-19.

Também os números citados na publicação que serve de exemplo estão errados: “Entretanto, [depois de] mais de 25.000 mortos eles começaram a matar todas as pessoas com o vírus na China”. Na verdade, segundo o relatório da ECDC, morreram 2.012 pessoas, das quais três não estavam em território chinês. Já o relatório mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), que data de 18 de fevereiro, regista 1.873 óbitos.

Em Portugal foram identificados 12 casos suspeitos de Covid-19. Até ao momento nenhum dos casos foi confirmado, tendo 11 deles tido um resultado negativo nas análises feitas. O 12.º caso suspeito foi identificado no dia 18 de fevereiro e as amostras biológicas estão atualmente em análise, segundo comunicado da Direção Geral de Saúde (DGS).

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