Na perspetiva de Augusto Santos Silva, “é evidente para qualquer pessoa – que tem um mínimo de conhecimento do que se passa – que este é um processo eleitoral viciado“. Em entrevista à SIC Notícias, ontem à noite (5 de agosto), referia-se à eleição presidencial na Venezuela que culminou na reeleição de Nicolás Maduro, apesar da contestação desse resultado por parte dos partidos da oposição e do não reconhecimento pela maior parte da comunidade internacional.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-Presidente da Assembleia da República indicou depois “vários exemplos” nesse sentido. Desde logo “a inabilitação de candidatos. Corina Machado que é a líder mais importante e mais popular da oposição, não é a candidata da oposição a esta eleição porque foi impedida pelo regime de o ser. Com argumentos absolutamente falaciosos”.
“Como antes tinham sido inabilitados outros candidatos relevantes da oposição”, prosseguiu Santos Silva. “Mesmo assim, o facto de a oposição se ter unido, de ter escolhido um diplomata experimentado e muito moderado, muito reconhecido, o senhor Edmundo González… De se ter unido em torno dele e de ele ter feito uma campanha muito forte – e de todas as sondagens lhe darem um avanço, todas as indicações que havia do ponto de vista da mobilização das pessoas, sugerirem que ele pudesse ganhar -, levou o senhor [Nicolás] Maduro, em plena campanha eleitoral, a ameaçar que se não ganhasse haveria um banho de sangue“.
Posto isto, Santos Silva concluiu que “o regime de Maduro usa as eleições como as ditaduras usam as eleições. Para tentar encontrar uma legitimidade meramente formal, mas tendo o cuidado de impedir que as eleições sejam livres, competitivas e que possam ser acompanhadas internacionalmente e de forma independente”.
Confirma-se a suposta ameaça de “banho de sangue”?
“Se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil, temos que garantir o maior êxito. A maior vitória da história eleitoral do nosso país”, declarou Maduro num comício da campanha eleitoral, cerca de uma semana antes da eleição presidencial que se realizou no dia 28 de julho.
Não há dúvida quanto à ameaça. Ainda assim, noutro comício realizado poucos dias depois, Maduro tentou mudar o sentido do que dissera claramente. “Quem se assustou, que tome um chá de camomila”, começou por ironizar. “Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. (…) Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita”, afirmou.
O Presidente da Venezuela alegou então que o “banho de sangue” seria promovido pela oposição. “Eu disse que se a extrema-direita chegasse ao poder na Venezuela haveria um banho de sangue. E não é que eu esteja inventando, é que já vivemos um banho de sangue, em 27 e 28 de fevereiro”, sublinhou, referindo-se a outros acontecimentos históricos de violência política em 1989.
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