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“Assim incendiaram Portugal”. Vídeo mostra drone que provoca incêndios de grandes dimensões?

Sociedade
O que está em causa?
Segundo o narrador de um vídeo partilhado no Youtube, enviado ao Polígrafo para verificação, os "globalistas" recorrem a drones que provocam incêndios de grandes dimensões. Nas imagens indica-se, inclusive, que "foi assim que incendiaram" Portugal. Tem fundamento?
Screenshot

Um vídeo com três minutos de duração, enviado ao Polígrafo por um leitor, mostra um drone alegadamente capaz de causar incêndios. O registo, que circula no Youtube, inclui um narrador que indica que estes drones são utilizados pelos “globalistas especificamente para provocar incêndios” de grandes dimensões. “Esses mentirosos” dizem que os fogos são causados pelo “aquecimento global”, mas são eles “que os provocam”, acusa-se ainda no vídeo. “Assim incendiaram a Amazónia, assim incendiaram a Austrália, assim provocaram os fogos de Espanha, França e Portugal”, aponta o narrador.

Mas será mesmo assim?

Não. Exibidos nas imagens estão drones desenvolvidos pela empresa Drone Amplified, que têm como função realizar a gestão controlada de incêndios florestais. O vídeo tem origem na página de Youtube da empresa (publicado há seis anos) e não possui, claro, a narração que acusa os “globalistas” de provocarem incêndios com recurso a este drone.

O IGNIS é um sistema projetado para tornar o processo de combate e prevenção de incêndios mais seguro, eficiente e acessível, lançando pequenas esferas químicas (do tamanho de bolas de pingue-pongue) que, quando em contacto com o solo, inflamam. Este ato cria pequenos focos de fogo controlados que queimam a vegetação que poderia servir de combustível para incêndios florestais maiores, uma técnica conhecida como fogo controlado.

A tecnologia, segundo detalha o site da empresa, “capacita os bombeiros com eficiência, segurança e controlo incomparáveis ​​durante operações de queima prescritas”.

Os drones são feitos “para bombeiros”, para que possam iniciar com segurança incêndios prescritos ou queimadas. Segundo a empresa, “esta solução inovadora mantém os bombeiros longe de áreas de risco durante operações de queimadas de alto perigo, reduzindo significativamente o risco de fatalidades relacionadas a incêndios florestais em operações aéreas”.

Em Portugal, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem um “Plano Nacional de Fogo Controlado“. De acordo com a entidade governamental, sendo “Portugal continental um território predominantemente florestal onde um dos maiores riscos percebidos do setor está associado aos incêndios florestais”, a diminuição do risco “é decisiva na criação de confiança dos agentes no setor, proporcionando condições para o investimento”.

Verificando-se um “agravamento da acumulação de combustível vegetal que origina uma massa florestal contínua que, por sua vez, favorece as condições de ignição e de propagação de incêndio”, são necessárias estratégias de “defesa eficaz contra os incêndios”, que aumentem a área de gestão ativa.

Tendo a “manutenção das redes de gestão de combustíveis” um “custo elevado que condiciona a sua execução”, a ICNF afirma que “é de privilegiar a utilização de técnicas com uma relação custo benefício mais vantajosa“, como o fogo controlado, uma “ferramenta já conhecida”.

A entidade indica que o “seu manuseamento, na gestão de combustível em espaço florestal deve ser privilegiado sempre que possível”, ainda que seja uma técnica que “obriga a conhecimentos profundos do uso do fogo no ecossistema” que “não se pode aplicar indiscriminadamente, só podendo ser usada na floresta por florestais a quem for reconhecida essa competência”.

O recurso ao fogo controlado, “para além de minimizar o risco de incêndio, serve as necessidades de diversos utilizadores do território”, como a renovação de pastagens, a criação aberturas no mato denso e ajuda à constituição de campos de alimentação, que são ações essenciais para o pastoreio e para a caça.

Este vídeo já foi, inclusive, desmentido por plataformas de fact-checking como o “Estadão Verifica” sob a alegação de que o governo federal tinha comprado drones para provocar incêndios no Brasil.

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Avaliação do Polígrafo:

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