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As meias magnéticas servem para “aliviar a diabetes” e “diminuir a glicose”?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Está a ser difundido nas redes sociais um vídeo promocional de meias magnéticas que supostamente têm capacidade - através de um processo de "acupunctura magnética" - de "aliviar a diabetes" e "diminuir a glicose", entre outros benefícios para a saúde. Tem algum fundamento médico/científico?

“Conheça para alívio das dores. Olha essas meias magnéticas para alívio da diabetes, que além de diminuir a glicose, ajuda na circulação sanguínea. Comprei para a minha mãe e ela amou”, destaca-se numa das publicações do vídeo em causa, de 3 de fevereiro, com mais de 36 mil visualizações acumuladas.

Nas imagens – a par da exibição das meias magnéticas e do incentivo à compra – enumeram-se “vários benefícios para o seu corpo” que supostamente resultam da utilização desse produto: “ajuda a regular a glicose no sangue”; “facilita a produção de insulina”; “restaura a saúde do pâncreas”; “melhora o processo do sistema digestivo”; “ajuda o sangue a circular melhor, reduzindo a retenção de líquido”; “minimiza o suor e a humidade”, etc.

Tem algum fundamento médico/científico?

Questionado pelo Polígrafo, o endocrinologista João Sérgio Neves sublinha que “a alegação é completamente falsa ou, pelo menos, infundada“.

Neves explica que “não era de esperar que uma intervenção deste género, que não tem uma relação direta com a diabetes, pudesse ter algum tipo de benefício. A diabetes é uma doença multifatorial, a parte alimentar e física são centrais para a gestão da doença e todos os doentes diabéticos precisam de tratamentos farmacológicos“.

Mais, “não há um único estudo científico e com robustez que demonstre que meias magnéticas possam ter um benefício na diabetes, nem que outras terapêuticas à base de campos magnéticos ou outras intervenções possam ser utilizadas para esse fim. Inclusive a Associação Americana de Diabetes – que todos os anos publica dados sobre como tratar a diabetes – diz que isto são terapêuticas que não têm fundamento“.

Nesse âmbito, Neves adverte que “estas terapêuticas alternativas podem divergir um pouco as pessoas do foco” e, consequentemente, descurar o tratamento recomendado para a doença.

Mais uma publicação viral nas redes sociais com "dicas de saúde" ou "curas milagrosas". Desta vez receita-se a ingestão de "água de limão com chia" que, supostamente, "elimina gordura abdominal, toxinas, retenção de líquido, gases", além de ajudar a "acelerar a perda de peso, normalizar a glicose, triglicerídeos e colesterol, atrasar o envelhecimento, melhorar a digestão, controlar a compulsão por comida". Tem fundamento?

No mesmo sentido aponta Davide Carvalho, diretor do Departamento de Endocrinologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHSJ), Porto, que sublinha: “A pesquisa da literatura científica para fundamentar a utilização de meias com capacidade magnética para tratar a diabetes mellitus é nula. Por tal motivo não consideramos que seja aconselhada a sua utilização”.

Carvalho aconselha os doentes diabéticos a serem tratados “recorrendo ao exercício, aos programas alimentares individualizados e à terapêutica personalizada de acordo com as suas características e da sua doença”.

Quanto a métodos alternativos, o endocrinologista admite o potencial benefício da acupunctura, mas avisa que não há dados científicos suficientes que permitam comprovar com segurança.

Remetendo para uma “meta-análise publicada em 2019 na Complementary Therapies in Clinical Practice, em que foram incluídos 21 estudos, com um total de 1.943 participantes”, Carvalho conclui que “podemos admitir algum efeito benéfico da acupunctura nos doentes com diabetes mellitus tipo 2 e obesidade, mas devido à pequena dimensão amostral e à baixa qualidade metodológica dos estudos incluídos, a evidência não é totalmente convincente“.

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Avaliação do Polígrafo:

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