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Área ardida na Amazónia em 2019 é muito inferior em comparação com todos os anos anteriores desde 2003?

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Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Publicação na rede social Facebook apresenta um gráfico com a evolução em números da área ardida (em km2) na Amazónia entre 2003 e 2019, indicando que no presente ano é muito inferior em comparação com os anteriores. "Não, a devastação da Amazónia não começou agora. E foi aliás bem mais severa durante os governos 'progressistas' de Lula e Dilma", conclui o autor da publicação. Verdade ou falsidade?

“Sobre a longa tragédia da Amazónia e sobre a mais absoluta falta de escrúpulos de uma extrema-esquerda alarvemente desonesta, que recorre a tudo para a sua guerra ideológica sem quartel. Não, a devastação da Amazónia não começou agora. E foi aliás bem mais severa durante os governos ‘progressistas’ de Lula e Dilma. O gráfico é meu, mas os dados são do INPE, Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil”, escreve o autor de uma publicação no Facebook que apresenta um gráfico com a evolução em números da área ardida (em km2) na Amazónia entre 2003 e 2019

 

 

Confirma-se que a área ardida na Amazónia em 2019 é muito inferior em comparação com todos os anos anteriores desde 2003, como parece ser evidente no gráfico da publicação em análise? Verificação de factos.

Ora, o autor da publicação baseia-se em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que pode consultar aqui. Os números apresentados no gráfico estão corretos.

O problema é que no gráfico compara-se números totais dos anos entre 2003 e 2018 com números parciais referentes ao ano em curso de 2019. Acresce a agravante de não se fazer qualquer referência a essa distinção entre números totais e números parciais, induzindo o leitor em erro: desde logo presumindo que os números referentes aos anos entre 2003 e 2018 também são parciais, isto é, registados no período homólogo (entre janeiro e agosto) desses anos.

Mas consultando a base de dados do INPE deparamos com mais uma agravante: é que os dados de 2019 são referentes ao período entre janeiro e julho, não incluindo o presente mês de agosto em que se verifica um enorme acréscimo de incêndios na Amazónia, muitos dos quais ainda ativos.

 

 

Outro elemento a ter em conta é que, ao longo dos anos, os incêndios e subsequente área ardida na Amazónia costumam sempre aumentar nos meses de Primavera e Verão, entre setembro e março. Ou seja, os números de 2019 apresentados no gráfico (sem qualquer referência ao facto de serem parciais, referentes aos primeiros sete meses do ano) não incluem a denominada “época de incêndios” na Amazónia que ainda nem sequer começou, além da presente vaga de incêndios já no mês de agosto.

A publicação em análise é um exemplo de como é possível utilizar dados verdadeiros para reproduzir desinformação: ou descontextualizando, ou omitindo informação fundamental, ou traçando comparações manipuladas e cientificamente erradas (não tendo ainda os dados totais de 2019, a comparação com os anos anteriores teria que ser feita no âmbito do período homólogo dos sete primeiros meses de cada ano).

 

***

Nota editorial: este conteúdo  foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam naquela rede social.

Na escala de avaliação do Facebook este conteúdo é:

Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo este conteúdo é:

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