- O que está em causa?Os aumentos sucessivos na fatura da eletricidade têm levado muitos consumidores a procurar métodos de poupança de energia. Está a ser promovido através das redes sociais um "dispositivo inovador" que promete reduzir esta conta em 90%. Será que estes dispositivos cumprem o que prometem?

"O VoltAce é o pesadelo das companhias de eletricidade. Estas tentaram escondê-lo dos consumidores comuns, tendo sido banido das lojas de retalho", destaca-se num anúncio enviado ao Polígrafo com um pedido de verificação da eficácia de um aparelho que promete "reduzir a fatura da eletricidade em 90%".
Num extenso artigo alega-se que os benefícios do aparelho "são inigualáveis" e que "os investigadores estão convencidos de que este dispositivo pode ditar o fim das faturas elétricas exorbitantes que afetam financeiramente o utilizador comum". O processo de instalação do dispositivo também é atrativo: "Basta ligá-lo à tomada mais próxima do disjuntor e já está. Depois de ligado, o LED verde indica que o dispositivo está em funcionamento."
Informa-se ainda que os eletrodomésticos "consomem sempre mais energia do que a necessária para funcionarem devido a ineficiências e a ruídos na onda sinusoidal" e que o aparelho atua na redução desses ruídos, "reduzindo igualmente a quantidade de eletricidade consumida".
Quem se deparar com este anúncio online vai achar que as suas preces foram atendidas, tendo em conta o aumento nas faturas de eletricidade. Mas será que a promessa de redução radical da conta da luz com a aquisição deste pequeno aparelho é expectável?
Em primeiro lugar, importa destacar que existem vários sinais de alerta que não devem ser ignorados no modo como este anúncio é apresentado. Desde logo, a presença de erros ortográficos e de concordância no texto. Além disso, são mencionadas entidades públicas, como a "Comissão dos Serviços de Utilidade Pública", que não existem, pelo menos em Portugal.
Uma pesquisa pela "VoltAce", no Google, também não permite encontrar informação concreta sobre a empresa. Os poucos dados disponíveis redirecionam o utilizador para a página de venda do produto. Mais um sinal de potencial burla: a fotografia de três homens que são apresentados como "criadores" do produto está disponível em vários bancos de imagens. Uma pesquisa reversa pela imagem também a sinaliza em vários sites de empresas, como aqui e aqui.

Contactada pelo Polígrafo, fonte oficial da Deco Proteste informa que não dispõe de informação técnica sobre o produto específico, mas informa que, no passado, já testou este tipo de equipamentos com alegações semelhantes. Chegou à conclusão de que "não correspondiam ao que anunciavam, podendo mesmo, em alguns casos, tornar-se perigosos para o consumidor".
"As alegações de poupança que surgem associadas a este tipo de soluções têm em comum a forma quase 'miraculosa' de como permitem poupar no consumo de eletricidade, sem apresentar qualquer fundamento técnico sobre a forma como o conseguem", informa a mesma fonte. Para informação mais detalhada sobre os testes já efetuados, a Deco recomenda a visualização de um vídeo em que vários aparelhos do género são testados. A conclusão é sempre a mesma: são inúteis e em alguns casos até perigosos devido às falhas de segurança elétrica que podem provocar, nomeadamente através de descargas elétricas ao tocar nos terminais dos equipamentos.
A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor lembra que os consumidores têm direito à qualidade dos bens, o que significa que estes devem ser aptos a satisfazer os fins a que se destinam, bem como a produzir os efeitos que lhes são atribuídos. "Tendo em conta a conclusão a que já chegámos de que alguns destes equipamentos podem tornar-se perigosos para os consumidores, tão-pouco podemos deixar de fazer referência ao direito à proteção da saúde e da segurança física. À luz desse direito, é proibido fornecer bens que, em condições de uso normal, impliquem riscos na sua utilização", assinala ainda.
Relativamente às alegações de poupança, a Deco garante que "caso se confirme que as mesmas são infundadas ou até falsas, podemos estar perante uma prática comercial desleal, sendo a mesma proibida nos termos da lei". Alerta ainda que face às propostas de aparelhos com as características indicadas, os consumidores devem ser especialmente cautelosos. "É sempre recomendável lerem atentamente todas as informações disponíveis sobre os produtos em causa, devendo pedir exemplares das descrições que contenham tais informações. Caso subsista alguma dúvida, os consumidores deverão tentar esclarecê-la junto do operador económico em causa e/ou com algum especialista (como é o caso da Deco Proteste)", recomenda ainda.
A plataforma de verificação de factos norueguesa "Faktisk" já verificou o artigo que circula agora em Portugal a promover este produto inovador. Na versão norueguesa, a empresa chama-se "VoltBox", mas promete os mesmo resultados na redução da conta da luz. O jornal de fact-checking chegou à mesma conclusão: o aparelho não é eficaz.
Em suma, tendo em conta os testes realizados pela Deco Proteste a aparelhos idênticos ao que é publicitado no conteúdo analisado pelo Polígrafo, estes dispositivos não cumprem o que prometem e podem até ser perigosos para o consumidor e para os seus aparelhos elétricos. Além disso, existem vários sinais de alerta neste anúncio em concreto para uma potencial situação de burla.
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Avaliação do Polígrafo:
