Numa publicação de 14 de agosto no X/Twitter, com milhares de interações, questiona-se: “Mas quem é que tem 3.000 euros para dar por um T0?”
Refere-se ao anúncio de um apartamento T0 no Porto que estará a arrendar por 3.020 euros mensais, exibido no mesmo tweet através de uma imagem. De acordo com a informação visível, é um estúdio com apenas 35 metros quadrados de área bruta, sem elevador, localizado no centro histórico do Porto.
É real? Ou a história está a ser mal contada?
A imagem partilhada viralmente nas redes sociais foi retirada de um anúncio colocado na plataforma Idealista. Sim, é real.
Esse anúncio indica que a proposta começou por ser divulgada na Uniplaces, outra plataforma online que “atua como um marketplace para o arrendamento de alojamentos para estudantes e de média duração”, assumindo a função de “intermediar o contacto entre inquilinos e senhorios”, explicou ao Polígrafo fonte oficial da empresa.
Na página da Uniplaces, aliás, estão disponíveis mais detalhes sobre as condições do arrendamento em causa.
É descrito como um “estúdio moderno e totalmente renovado”, sediado no segundo andar de um “edifício típico” sem elevador, localizado “numa das zonas mais privilegiadas do Porto”, nas proximidades da Torre dos Clérigos e da Livraria Lello.
O apartamento tem uma casa-de-banho e capacidade máxima para alojar duas pessoas.
Segundo o anúncio, o preço do arrendamento mensal – os tais 3.020 euros – já inclui as despesas de eletricidade, água e Internet. O estúdio encontra-se mobilado e tem uma cozinha “totalmente equipada”. Informa-se também que será ainda cobrado, por cada hóspede, o correspondente ao “imposto municipal”, no valor de dois euros por noite. Uma taxa que, no entanto, “só será aplicada nas primeiras sete noites”.
Sobre a modalidade de contratualização, indica-se que é de natureza mensal, para uma estadia mínima de 28 noites – “a estadia mínima permitida na Uniplaces”, revelou fonte oficial da empresa. Mais, exige-se o pagamento de uma caução única antecipada de valor igual à renda mensal.
“Num contrato mensal, é sempre cobrado um mês inteiro, independentemente da data de entrada e do número de dias de estadia. Por exemplo, se se mudar a 20 de setembro, terá de pagar o mês de setembro inteiro, razão pela qual, neste caso, recomendamos que se mude no primeiro dia do mês”, esclarece-se no anúncio. No que respeita à política de cancelamento em vigor, informa-se que a “primeira renda” a pagar “será reembolsada a 100% se cancelar até 30 dias antes da data de início do contrato”.
A acrescentar aos encargos já referidos, o anúncio indica ainda que os arrendatários, no momento da mudança, terão de “pagar uma taxa administrativa ao senhorio”, cujo “montante depende da duração da sua estadia”: 425 euros para estadias inferiores a 59 dias; 358 euros para aquelas que durem menos de 129 dias; e 246 euros para as de longa duração.
Por essa via nota-se ainda que uma equipa da Uniplaces visitou “pessoalmente este local” e “confirmou a sua localização e autenticidade”.
Em declarações ao Polígrafo, fonte oficial da empresa sublinhou que “é uma nova oferta publicada na Uniplaces por um proprietário”, acrescentando: “Este anúncio foi verificado como parte do nosso processo padrão, no qual um fotógrafo profissional visitou o local, verificou a autenticidade do imóvel e capturou imagens para garantir que a listagem corresponde à realidade. A localização e as características do imóvel foram confirmadas durante esta visita.”
Apesar de reconhecer que “o valor mensal de 3.020 euros para um T0 de 35 metros quadrados no Porto pode parecer elevado“, a mesma fonte considerou ser “importante destacar que os preços dos imóveis na plataforma são definidos pelos próprios proprietários e podem variar significativamente em função de diversos fatores, tais como a localização, serviços incluídos e o público-alvo a que se destinam”.
De resto, importa notar que uma das fotografias que ilustram o anúncio, retratando a porta de entrada para o apartamento, dá a entender que o mesmo estará registado como um Alojamento Local (AL). Segundo informação divulgada no portal do Turismo de Portugal, “estabelecimentos de Alojamento Local são aqueles que prestam serviços de alojamento temporário, nomeadamente a turistas, mediante remuneração desde que não reúnam os requisitos para serem considerados empreendimentos turísticos”.
Porém, questionada pelo Polígrafo, fonte oficial da Uniplaces referiu que “não foi comunicada qualquer informação por parte do proprietário sobre a eventual utilização do apartamento como Alojamento Local”. E acrescentou: “De facto, é comum recebermos imagens do interior do prédio que podem incluir sinais ou referências a alojamentos locais, mas isso não significa necessariamente que o imóvel em questão seja destinado a esse fim.”
Mas o facto é que no site “Apartmentsofporto.com“ indica-se que este é um apartamento registado como Alojamento Local, detendo a licença número 108563/AL.
O mesmo apartamento está também disponível em plataformas como o Airbnb ou o Booking, de natureza predominantemente turística, onde é dada aos hóspedes a possibilidade de permanência no apartamento por períodos bastante inferiores – “no mínimo duas noites” – por um valor entre os 207 e os 272 euros para o período indicado (simulação feita com base nos valores fixados entre os dias 28 e 30 de agosto).
Perante estes factos, concluímos ser verdadeiro o anúncio que exibe um apartamento T0 na cidade do Porto a arrendar por 3.020 euros mensais, tal como se alega na publicação alvo de análise. No entanto, a promoção deste mesmo estúdio em plataformas de natureza predominantemente turística, e o facto de o mesmo estar registado, ao que tudo indica, como Alojamento Local, denota que não foi colocado no mercado com uma perspetiva exclusivamente habitacional. Ainda que esteja a ser disponibilizado como uma solução de mais longa duração – que pode ascender a vários meses – para quem quiser (e puder) optar por esse modelo.
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Avaliação do Polígrafo: