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António Costa prometeu em 2015 que “todos os portugueses terão médico de família” e não cumpriu?

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
É um novo "meme" viral que acusa o primeiro-ministro António Costa de mentir, ao ter prometido em 2015 que "todos os portugueses terão médico de família" e, chegados a 2019, não ter cumprido e voltar a prometer a mesma coisa. Terá sido mesmo assim? Verificação de factos.

“Bastante original esta mentira agora, é a sério. Todos os portugueses terão médico de família, 2015. Todos os portugueses terão médico de família, 2019″. Esta é a mensagem veiculada através de um novo meme viral que acusa o primeiro-ministro António Costa de mentir e daí a montagem em que aparece na imagem com dois narizes à Pinóquio, a célebre personagem de ficção infantil de Carlo Collodi.

 

 

Confirma-se que António Costa prometeu em 2015 que “todos os portugueses terão médico de família” e não cumpriu, voltando agora em 2019 a fazer a mesma promessa? Verificação de factos, solicitada por leitores do Polígrafo.

De facto, no programa que o Partido Socialista (PS) apresentou nas eleições legislativas de 2015 (pode consultar aqui) encontra-se a garantia de “prosseguir o objetivo de garantir que todos os portugueses têm um médico de família atribuído“. Essa mesma garantia foi depois inscrita no programa do XXI Governo Constitucional, exatamente nos mesmos termos.

 

 

Não é uma promessa de que “todos os portugueses terão médico de família”, como indica a publicação em análise, mas também não deixa de ser uma garantia de “prosseguir” no sentido desse objetivo.

A publicação poderia ser assim classificada como falsa, mas o facto é que, em setembro de 2016, já nas funções de primeiro-ministro, António Costa prometeu mesmo e explicitamente que todos os portugueses teriam um médico de família até ao final de 2017.

Esse foi um objetivo assumido por António Costa no encerramento da rentrée política do PS, em Coimbra, num discurso em que se debruçou sobre questões sociais como a qualificação, o acesso à educação e à saúde, a inclusão e o combate às discriminações, sobretudo no que respeita a pessoas com deficiência. Com o fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e também presidente honorário do PS sentado na plateia, António Arnaut (entretanto falecido), o líder socialista sustentou a tese de que o seu Governo iniciou funções com cerca de 1,2 milhões de portugueses sem médico de família, número que se reduzirá no início de 2017 para cerca de 500 mil.

“Não estamos conformados e vamos continuar a trabalhar para daqui a um ano podermos dizer que deixou de haver portugueses sem acesso a médico de família“, declarou António Costa, antes de prometer igualmente novas valências ao nível de Unidades de Saúde Familiares, sobretudo no que respeita à saúde oral.

O objetivo voltou a não ser concretizado e entretanto, a 20 de maio de 2019, em declarações à Rádio Renascença, a secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, prometeu em nome do Governo que todos os portugueses terão médico de família em 2020. Raquel Duarte garantiu que “vai acontecer seguramente“.

Mais recentemente, a 16 de julho, a ministra da Saúde admitiu que a meta de atribuição de médicos de família para todos os portugueses ficará aquém do objetivo traçado para esta legislatura. Marta Temido revelou que há 700 mil portugueses sem médico de família.

“Estamos ainda com 700 mil portugueses sem médico de família atribuído. É um pouco mais do que no final de 2018“, disse a ministra, no decurso da inauguração de uma Unidade de Saúde Familiar no Bombarral, distrito de Leiria. “Neste momento tivemos apenas o movimento de aposentações e estamos ainda a completar o concurso de colocação de 305 especialistas em medicina geral e familiar, que por estes meses de julho e agosto estão a ser colocados, a assinar contratos e vão ter depois a lista de utentes atribuídas”, justificou.

Ou seja, em 2015 garantiu prosseguir o objetivo de atribuir um médico de família a todos os portugueses, em 2016 prometeu concretizar esse objetivo até ao final de 2017 e em 2019 voltou a fazer a mesma promessa mas apontando para 2020. Com a agravante de o número de portugueses sem médico de família ter aumentado entre 2018 e 2019, como reconheceu a ministra da Saúde.

Concluímos assim que a publicação em análise é imprecisa, na medida em que a primeira promessa explícita data de 2016 e não de 2015.

Avaliação do Polígrafo:

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