- O que está em causa?Primeiro confessou que "a apreensão de envelopes de dinheiro no gabinete de uma pessoa que escolhi me magoa com a confiança traída, envergonha-me perante os portugueses e tenho o dever de pedir desculpa". Depois centrou quase todo o seu discurso na defesa da importância da "atração de investimento empresarial" que "é dever dos Governos". Nesse âmbito enalteceu que, "nestes oito anos" em que exerceu o cargo de primeiro-ministro, o investimento direto estrangeiro terá alcançado um valor global de 56 mil milhões de euros. Confirma-se?

Foi como que um primeiro ensaio de defesa do reduto de legitimidade da decisão política contra as suspeitas da Justiça (tráfico de influências, corrupção, etc.) que levaram à sua demissão e queda do Governo. Na comunicação ao país, esta noite, a partir do Palacete de São Bento, em Lisboa, o (ainda) primeiro-ministro António Costa sublinhou que "é dever dos Governos a atração de investimento empresarial" e, nesse âmbito, que "a concessão de incentivos financeiros ou aplicação de regras especiais a projetos classificados como de interesse nacional têm de decorrer com total transparência", pelo que "é regulado por lei, depende de avaliações técnicas exigentes por entidades colegiais, está sujeito a fiscalização e nunca, por nunca, pode resultar de mera decisão arbitrária ou discricionária de qualquer membro do Governo".
"Peço também a todos os portugueses que não confundamos de maneira nenhuma a responsabilidade individual de quem quer que seja - que só à Justiça cabe investigar e punir, se for o caso -, com o que é e deve ser o exercício da ação governativa. Faço-o hoje para que Portugal não desperdice oportunidades estratégicas para o seu desenvolvimento e, sobretudo, para que futuros Governos não percam instrumentos de ação política que são essenciais à atração do investimento, à valorização dos nossos recursos naturais e ao pleno aproveitamento das infraestruturas de que o país dispõe", afirmou Costa.
"É dever dos Governos a atração de investimento empresarial, designadamente promover a atração de investimento estrangeiro. Orgulho-me por, nestes oito anos, o investimento direto estrangeiro ter alcançado 56 mil milhões de euros. Investimento que contribuiu para a criação de mais de 640 mil novos postos de trabalho, dos quais 495 mil qualificados", enalteceu.
O valor indicado tem fundamento?
De acordo com dados do Banco de Portugal, desde que Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro (em novembro de 2015), o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em Portugal alcançou valores totais de cerca de 4.577 milhões de euros em 2016, 6.862 milhões de euros em 2017, 6.025 milhões de euros em 2018, 11.041 milhões de euros em 2019, 6.878 milhões de euros em 2020, 8.135 milhões de euros em 2021 e 7.998 milhões de euros em 2022.

Em 2023, até ao momento, regista-se um valor (ainda parcial) de cerca de 4.136 milhões de euros. O que perfaz um valor global de 55.652 milhões de euros entre 2016 e 2023.
Tendo em conta o valor parcial de 2023, é previsível que no final do ano venha mesmo a superar os 56 mil milhões de euros indicados por Costa.
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Avaliação do Polígrafo:
