- O que está em causa?Na entrevista de ontem à TVI, o primeiro-ministro garantiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) "está mais bem preparado do que no início da pandemia", sublinhando que "hoje nós temos mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico, mais assistentes operacionais" no SNS. O Polígrafo verifica os números nas estatísticas oficiais.

"Temos procurado dar resposta ao que são as necessidades de reforçar os recursos do Serviço Nacional de Saúde. Hoje nós temos mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico, mais assistentes operacionais no Serviço Nacional de Saúde", afirmou o primeiro-ministro António Costa, ontem à noite, em entrevista à TVI realizada no Palácio de São Bento, Lisboa.
Esta afirmação em concreto tem sustentação factual?
Consultando os dados oficiais disponíveis no Portal da Transparência do SNS verificamos que os respetivos trabalhadores estão divididos em 10 categorias ou grupos profissionais, a saber: médicos s/ internos, médicos internos, enfermeiros, técnicos superiores de Saúde, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assistentes técnicos, assistentes operacionais, técnicos superiores, informáticos, outros.
Desde o início da pandemia de Covid-19 em Portugal - recorde-se que os primeiros dois casos de infeção foram confirmados no dia 2 de março -, os números de profissionais ao serviço em cada uma das 10 categorias evoluiu da seguinte forma:
- os médicos s/ internos passaram de 19.602 em março para 19.291 em setembro (menos 311 no total);
- os médicos internos passaram de 10.696 em março para 10.275 em março (menos 421 no total);
- os enfermeiros passaram de 45.639 em março para 47.094 em setembro (mais 1.455 no total);
- os técnicos superiores de Saúde passaram de 1.736 em março para 1.734 em setembro (menos dois no total);
- os técnicos de diagnóstico e terapêutica passaram de 8.533 em março para 8.981 em setembro (mais 448 no total);
- os assistentes técnicos passaram de 16.573 em março para 16.948 em setembro (mais 375 no total);
- os assistentes operacionais passaram de 27.087 em março para 28.895 em setembro (mais 1.808 no total);
- os técnicos superiores passaram de 4.463 em março para 4.594 em setembro (mais 131 no total);
- os informáticos passaram de 610 em março para 612 em setembro (mais dois no total);
- os outros passaram de 2.372 em março para 2.458 em setembro (mais 86 no total).

Ou seja, em três categorias - médicos s/ internos, médicos internos e técnicos superiores de Saúde - verifica-se um decréscimo do número de profissionais ativos no SNS entre março (início da pandemia) e setembro (último mês com dados oficiais disponíveis) de 2020.
O primeiro-ministro afirmou que "hoje nós temos mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico, mais assistentes operacionais" no SNS. No que respeita aos médicos trata-se de uma falsidade. Quanto às restantes categorias, excluindo os técnicos superiores de Saúde (que aliás não foram referidos por António Costa), confirma-se que há mais profissionais ao serviço desde o início da pandemia.
No total das 10 categorias ou grupos profissionais, de resto, verifica-se um aumento de 137.310 em março para 140.882 em setembro (mais 3.572 no total).
Tendo em consideração que a ministra da Saúde, Marta Temido, no início de setembro, anunciou a abertura de concursos visando a contratação de 950 novos médicos para o SNS, optamos pela classificação intermédia de "impreciso".
É provável que o número de médicos venha a aumentar nos próximos meses (se os concursos forem concretizados), mas o saldo final dependerá sempre do número de saídas ou aposentações que se registarem entretanto e o facto é que, neste momento, há menos 732 médicos no SNS em comparação com o mês de março.
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Avaliação do Polígrafo:
