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António Costa: “Foi com Ferro Rodrigues que o PS teve a primeira maioria absoluta da sua História nas europeias de 2004”

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Ao discursar no jantar de comemoração do 50.º aniversário do Partido Socialista (PS), o atual secretário-geral, António Costa, saudou "todos os antigos líderes" (incluindo José Sócrates, embora sem o nomear) do partido. Mas dedicou uma atenção "particular" aos dois que estavam presentes na cerimónia, nomeadamente Eduardo Ferro Rodrigues com quem - enalteceu - "o PS teve a primeira maioria absoluta da sua História nas eleições europeias de 2004". Afinal foi com Ferro Rodrigues e não com Sócrates, ou Costa está a reescrever a História do PS?

O contexto era o “Jantar Comemorativo dos 50 anos do Partido Socialista“, na noite de 19 de abril, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa. Depois de cumprimentar e elogiar dois convidados internacionais – o atual chanceler da Alemanha e ex-dirigente do SPD, Olaf Scholz, e o antigo presidente do Governo de Espanha e ex-líder do PSOE, Felipe González -, o atual secretário-geral do PS, António Costa, saudou “todos os nossos [do PS] antigos líderes, desde Mário Soares a António José Seguro”.

Ou seja, incluindo José Sócrates, embora sem o nomear. Mas com “particular” ênfase dedicado aos “dois que aqui estão presentes, entre nós, o Vítor Constâncio e o Eduardo Ferro Rodrigues“.

Dirigindo-se então a Ferro Rodrigues, em tom empolgado, Costa declarou:

“Recordarei sempre não só a honra que me deu de ter sido o líder parlamentar do PS na oposição aos Governos de Durão Barroso, mas recordar, porque às vezes nos esquecemos, que foi mesmo com o Eduardo Ferro Rodrigues que o PS teve a primeira maioria absoluta da sua História nas eleições europeias de 2004 onde, sob a liderança do Eduardo Ferro Rodrigues, o PS teve uma vitória estrondosa, a sua primeira maioria absoluta, e infligiu uma monumental derrota à direita em Portugal.”

Esta alegação suscitou dúvidas a um leitor do Polígrafo que, no Twitter, solicitou uma verificação de factos.

Afinal foi com Ferro Rodrigues e não com Sócrates que o PS conquistou a primeira maioria absoluta, ou Costa está a reescrever a História do PS?

Ora, nos livros de História escreve-se que a primeira maioria absoluta do PS foi conquistada nas eleições legislativas de 2005, sob a liderança de José Sócrates.

Na sequência da dissolução da Assembleia da República pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, que deitou assim abaixo o breve Governo de coligação PSD/CDS-PP liderado por Pedro Santana Lopes (que saltou da Presidência da Câmara Municipal de Lisboa para o cargo de primeiro-ministro, em substituição de José Manuel Durão Barroso que, por sua vez, tinha renunciado para assumir a Presidência da Comissão Europeia), o PS obteve 45,05% dos votos nas eleições legislativas de 20 de fevereiro de 2005, assegurando uma maioria absoluta de 120 deputados.

Em junho de 2004, ainda sob a liderança de Ferro Rodrigues, o PS já tinha vencido as eleições para o Parlamento Europeu, com 44,52% dos votos. Apesar dessa vitória, em frontal discordância com Sampaio que decidira aceitar a substituição de Durão Barroso por Santana Lopes no Governo sem convocar novas eleições legislativas, Ferro Rodrigues acabou por se demitir da liderança do PS menos de um mês depois.

Foi sucedido por Sócrates, que venceu as eleições diretas para secretário-geral do PS frente a Manuel Alegre e João Soares. E foi Sócrates quem liderou o PS nas eleições legislativas de 2005, arrebatando a maioria absoluta de 120 deputados.

Esta tarde, durante a conferência de imprensa do Conselho de Ministros extraordinário, onde o primeiro-ministro anunciou o aumento intercalar das pensões em 3,57% a partir do mês de julho, para ajustar as contas até 2024, António Costa lembrou, em crítica às previsões do PSD, que o aumento de pensões acontece ininterruptamente desde o ano de 2016. Confirma-se?

Nas eleições europeias de 2004, ainda que a vitória do PS tenha sido expressiva, o facto é que obteve tantos mandatos (12) quantos os dos restantes partidos em conjunto, a saber: nove para a coligação PSD/CDS-PP, dois para a CDU e um para o Bloco de Esquerda.

De resto, em número de votos também não conquistou uma maioria absoluta: 1.511.214 votos para o PS e 1.604.984 votos para os restantes três partidos ou coligações que conseguiram eleger eurodeputados.

Em suma, a alegação de Costa não tem fundamento – nem do ponto de vista formal (a figura de “maioria absoluta” não se aplica às eleições para o Parlamento Europeu em Portugal), nem do ponto de vista figurado (não elegeu mais de metade dos eurodeputados nem recolheu mais de metade dos votos expressos nessas eleições de 2004).

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Avaliação do Polígrafo:

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