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António Costa: “Em cada governação do PS crescemos mais do que em qualquer governação da direita”

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
"Nos governos de António Guterres crescemos mais do que nos governos de Cavaco Silva, nos de José Sócrates crescemos mais do que nos de Durão Barroso e Passos Coelho. E agora voltamos a crescer mais do que quando vossas excelências governaram", afirmou ontem o primeiro-ministro em debate na Assembleia da República. Confirma-se?

Portugal desde 2015 até 2019 cresceu em média 2,8% ao ano, sete vezes mais do que nos 16 anos anteriores. E pela primeira vez desde o início do século nós recomeçámos a aproximar-nos dos países mais desenvolvidos da União Europeia: em 2016, 2017, 2018, 2019, 2021, 2022 e para o ano também assim vamos continuar”, afirmou o primeiro-ministro António Costa, no debate parlamentar de ontem sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2023.

Respondia ao líder da bancada parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, o qual sublinhou que “este é o Orçamento [do Estado] que continua a estagnação económica”. Nesse âmbito indicou que “entre 2016 e 2021, Portugal cresceu em termos acumulados 7%“, ao passo que “os países da coesão, aqueles que concorrem diretamente connosco e que recebem fundos europeus, cresceram em termos acumulados e em média 18%“.

“Esta melhoria traduziu-se no PIB [Produto Interno Bruto] per capita que cresceu 20% desde 2015″, prosseguiu Costa, na resposta. “E isso significa que ao longo deste Governo, da minha governação – se assim se pode dizer -, crescemos mais do que no período da governação da direita. Mas posso dizer mais. É que em cada período de governação do PS crescemos mais do que em qualquer período de governação da direita. Nos governos de António Guterres crescemos mais do que nos governos de Cavaco Silva, nos de José Sócrates crescemos mais do que nos de Durão Barroso e Passos Coelho. E agora voltamos a crescer mais do que quando vossas excelências governaram. É esta a realidade. São factos, são números.”

A principal alegação do primeiro-ministro tem fundamento?

Ao nível da taxa de crescimento real do PIB, o período entre 2016 e 2019 (formando o quadriénio do primeiro Governo do PS baseado na geringonça que tomou posse no final de 2015) destaca-se com as variações mais positivas desde 2002, quando Portugal aderiu à moeda única europeia.

A saber: +2,02% em 2016, +3,51% em 2017, +2,85% em 2018 e +2,68% em 2019. Média de 2,76%.

E depois de uma quebra substancial em 2020, ao nível de -8,25%, voltou a subir em 2021, ao nível de 5,48%, ainda assim não recuperando todo o volume perdido no primeiro ano da pandemia de Covid-19.

Entre 2002 e 2015, além de variações negativas da taxa de crescimento real do PIB em cinco anos, o maior aumento registou-se em 2007 com +2,51%. Foi a única vez, ao longo de todos esses anos, em que se superou a fasquia de +2%. No quadriénio 2016-2019, a taxa de crescimento foi sempre superior a +2% e atingiu mesmo o ponto máximo de +3,51% em 2017, um nível que já não era atingido desde o ano de 2000 (no final da década de 1990 chegou a superar a fasquia de +4%).

O aumento de 2021 foi o mais elevado desde 1990, sublinhe-se, mas importa ressalvar que a diminuição de 2020 foi a mais acentuada desde a década de 1950.

Quanto à comparação entre os referidos períodos de governação, o Polígrafo analisou os dados e calculou as respetivas médias de crescimento real do PIB que passamos a apresentar:

Período de governação de Aníbal Cavaco Silva (PSD), entre 1986 e 1995:

média de +4,04% do PIB.

Período de governação de António Guterres (PS), entre 1996 e 2001:

média de +3,73% do PIB.

Período de governação de Durão Barroso (PSD/CDS-PP), entre 2002 e 2004:

média de +0,54% do PIB.

Período de governação de José Sócrates (PS), entre 2005 e 2010:

média de +0,64% do PIB.

Período de governação de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP), entre 2011 e 2015:

média de -0,82% do PIB.

Período de governação de António Costa (PS), entre 2016 e 2021:

média de +1,37% do PIB.

Contrariando a afirmação de Costa, o facto é que a média de crescimento real do PIB no período de governação de Cavaco Silva foi superior à de qualquer outro período de governação, quer do PS, quer “da direita”.

Importa aqui sublinhar que os anos de mudança de Governo foram atribuídos ao primeiro-ministro com mais meses em funções nesse ano: a título de exemplo, Passos Coelho com 2011 em vez de Sócrates, ou Durão Barroso com 2002 em vez de Guterres. A partir deste critério excluímos das contas Pedro Santana Lopes que exerceu o cargo de primeiro-ministro durante cerca de oito meses, entre julho de 2004 e março de 2005. Ainda no que respeita ao período de governação de Costa, não consideramos 2022 por ainda não terem sido apurados os dados finais.

Confrontado por Miranda Sarmento (PSD) sobre o aumento da carga fiscal, esta tarde no Parlamento, o primeiro-ministro sublinhou a diferença entre carga e receita fiscal, assegurando que "o peso que é superior é o das contribuições para a Segurança Social porque, felizmente, o desemprego caiu para metade".

Embora tenha começado a afirmação apontando para a taxa de crescimento real do PIB, Costa referiu-se também pelo meio ao PIB per capita. Estaria a referir-se a esse indicador?

Mais uma vez, o Polígrafo analisou os dados e calculou as respetivas percentagens de crescimento do PIB per capita (a preços constantes) que passamos a apresentar:

Período de governação de Aníbal Cavaco Silva (PSD), entre 1986 e 1995:

crescimento de 43,5%.

Período de governação de António Guterres (PS), entre 1996 e 2001:

crescimento de 16,9%.

Período de governação de Durão Barroso (PSD/CDS-PP), entre 2002 e 2004:

crescimento 0,22%.

Período de governação de José Sócrates (PS), entre 2005 e 2010:

crescimento de 2,32%.

Período de governação de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP), entre 2011 e 2015:

decréscimo de 0,6%.

Período de governação de António Costa (PS), entre 2016 e 2021:

crescimento de 5,4%.

Também neste indicador é evidente que o maior crescimento foi registado no período de governação de Cavaco Silva, pelo que aplicamos o devido selo de “Falso” na declaração em causa de Costa.

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Avaliação do Polígrafo:

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