“António Costa, ameaça! Quem recusar a vacina da AstraZeneca pode não vir a ser vacinado. É mesmo assim… Não tens direito a escolher a vacina que vais tomar contra a Covid-19. Vacinas da Moderna e da Pfizer é só para a malta do PS que vive às tuas custas”, alega-se num post de 19 de março no Facebook, com o seguinte comentário adicional: “Se não morres do mal… Podes morrer da cura”.
Nesse mesmo dia, vários órgãos de comunicação social (pode ler aqui, aqui ou aqui, entre outros exemplos) noticiaram sobre o polémico aviso do coordenador do grupo de trabalho (ou task force) do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, relativamente à toma da vacina da AstraZeneca. “Quem recusar vacina da AstraZeneca vai para o fim da fila“, destacou-se nas manchetes.
É verdade que, depois de ser retomada a administração dessa vacina em Portugal, quem for convocado para ser vacinado e recusar só voltará a ser chamado após se concluir a vacinação de toda a população. Essa passagem para o “fim da fila” não garante, porém, que venha a ser inoculado com uma vacina à sua escolha.
Trata-se de uma premissa que tem sido aplicada desde o início do processo de vacinação. Em declarações ao jornal “Público”, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo explicou que “o princípio no processo de vacinação é a não escolha da vacina, porque as vacinas aprovadas são igualmente boas e seguras“.
Esta medida levantou dúvidas junto da população e levou mesmo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) a manifestar a sua oposição relativamente a qualquer medida “de coação e de chantagem” exercida sobre pessoas que recusem a vacina da AstraZeneca.
Através de um parecer emitido no dia 19 de março, a SPP informa ter acompanhado “com preocupação a interrupção do processo de vacinação, devido às situações de distúrbios de coagulação ocorridas em indivíduos previamente vacinados com vacinas da AstraZeneca”. Ainda assim, a SPP considera que a suspensão da administração desta vacina foi uma decisão precipitada de alguns Estados, nomeadamente Portugal.
Embora subscreva o conceito emitido pela task force sobre o princípio de não escolha da vacina, a SPP não concorda com penalizações no âmbito deste processo. “Os indivíduos a vacinar nesta primeira fase são aqueles que têm maior risco de, ao serem infetados, desenvolverem doença grave e de maior associação à mortalidade, o que torna esta decisão ainda mais grave e desajustada“, sustenta a SPP no parecer.
De qualquer forma, mesmo depois de recusar a toma da vacina, ainda pode “voltar atrás na opção que tomou e decidir que quer ser inoculado”, informou a rádio Renascença.
“A médica de saúde pública Mariana Carrapatoso explica que quem recusar tomar a vacina da AstraZeneca ‘não será, nesta fase, contatado novamente para agendar uma data para a vacinação’. Isto porque ‘o plano de vacinação não contempla que os utentes possam escolher qual a vacina que vão tomar’. No entanto, o mesmo não significa que as pessoas tenham irremediavelmente de ir para o fim da fila. Há uma alternativa. ‘Se repensarem a sua recusa e quiserem ser vacinados, poderão contactar os serviços de saúde para tomarem a vacina que lhes foi proposta inicialmente ou de acordo com as possibilidades de agendamento'”, salienta-se na notícia da Renascença.
Quanto à alegação no post de que as “vacinas da Moderna e da Pfizer é só para a malta do PS”, importa salientar que o próprio primeiro-ministro (e secretário-geral do PS) António Costa já foi inoculado com uma primeira dose da vacina da AstraZeneca, como de resto fez questão de referir no último debate parlamentar.
Em suma, o post é enganador e difunde falsidades. Não há registo da suposta ameaça de António Costa. Quem recusar a vacina da AstraZeneca ainda pode recuar nessa decisão. Quem não recuar vai para o “fim da fila”, não lhe sendo negada a vacinação. E também não há indícios de que a regra de não escolha da vacina não esteja a ser cumprida por determinadas pessoas, nomeadamente a “malta do PS”, quando até o primeiro-ministro já tomou uma dose precisamente dessa vacina.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: