O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, considerou na Assembleia da República, esta quinta-feira, a propósito dos protestos sucessivos realizados por elementos das forças de segurança ao longo dos anos, que a “fonte que alimenta o sentimento de injustiça não seca, pelo que, invariavelmente, as formas de protesto somam-se e radicalizam-se, porque o Estado trata mal as forças e serviços de segurança”. Na sua intervenção, atribuiu as culpas aos Governos dos últimos anos, responsabilizando a direita e o PS pelos “cortes, desrespeito e desconsideração” por aqueles que desempenham essas profissões.
Nuno Gabriel, do Chega, comentou imediatamente as afirmações do bloquista, apontando que “nem o grupo parlamentar dele próprio acredita no que ele aqui veio dizer”. Isto porque, no passado, “um senhor chamado Mamadou Ba, assessor do Bloco de Esquerda, chamou ‘bosta da bófia’” às forças policiais. É verdade?
A 21 de janeiro de 2019, Mamadou Ba partilhou, no Facebook, a seguinte publicação: “Sobre a violência policial, que um gajo tenha de aguentar a bosta da bófia e da facho esfera é uma coisa natural, agora levar com sermões idiotas de pseudo radicais iluminados é já um tanto cansativo, carago! Há malta que não percebe que a sua crença ideológica num outro modelo de sociedade, muitas vezes assente no privilégio doutrinário e não só, não salva quem todos os dias é violentado com o racismo. Portanto, fica o aviso que por estas bandas, não pastarão.”
O comentário foi notícia em vários meios de comunicação nacionais (aqui e aqui), dando conta de que o autor da publicação, na altura assessor do Bloco de Esquerda no Parlamento e dirigente da plataforma SOS Racismo, estaria a reagir a um incidente que tinha ocorrido, dias antes, no Bairro da Jamaica, no Seixal – e que motivou acusações de violência policial e de racismo, nomeadamente, por parte da bloquista Joana Mortágua.
Segundo reportou o “Jornal de Notícias”, tudo aconteceu após a PSP ter sido alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, tendo sido mobilizada, de seguida, para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal. “Na ocasião, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras”, escreveu o mesmo jornal. Cinco pessoas foram constituídas arguidas na sequência do incidente – quatro moradores e um agente da polícia.
Cerca de 10 meses depois, em comunicado enviado à comunicação social, Mamadou Ba informou que ia desvincular-se do Bloco de Esquerda. Uma decisão tomada num momento de “profunda divergência” com o partido e, precisamente, “no rescaldo dos acontecimentos do Bairro Jamaica” anteriormente citados, já depois de, segundo a “Visão”, o próprio Bloco de Esquerda se ter demarcado das palavras daquele que era, na altura, seu assessor parlamentar.
Porém, dias depois da polémica publicação no Facebook, Mamadou Ba deu mais algumas explicações sobre a natureza da sua afirmação, na mesma rede social: “publiquei um post dando conta da minha impaciência em aturar os sermões idiotas dos pseudo revolucionários iluminados em comparação com a obrigação que tenho de lidar com a bosta da bófia e da facho esfera. A partir daí, comecei a receber vários tipos de insultos e ameaças. E sim, bater em alguém porque é negro ou cigano, é uma bosta. Matar alguém porque é negro ou cigano é pior que uma bosta.”
Em esclarecimentos ao jornal “Observador”, Mamadou Ba notou ainda que, com as suas palavras, “não estava “a atacar a PSP nem a incitar à violência”, mas sim a destacar o que considerava um facto: ser um “horror” quando “a polícia mata alguém com base na raça”.
Perante estes dados, conclui-se que a publicação em que o ex-assessor bloquista faz referência à expressão “bosta da bófia” tem um determinado contexto, a denúncia de “violência policial” no bairro da Jamaica, no Seixal, que motivou a abertura de um inquérito da PSP que, por sua vez, resultou em dois processos disciplinares. Ainda assim não deixa de ser verdadeira a citação atribuída a Mamadou Ba, embora careça de contexto.
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Avaliação do Polígrafo: