“A Joana não tem responsabilidade nenhuma sobre as pessoas que vão pôr comentários desagradáveis sobre os Anjos, que pelos vistos fizeram ameaças de morte. […] A interpretação que outras pessoas fazem do que dizemos não é controlada por nós”, disse esta manhã o humorista Ricardo Araújo Pereira, que esteve presente como testemunho no terceiro dia de julgamento entre a dupla musical Anjos e a autora do “Extremamente Desagradável” Joana Marques.
“Se alguém prejudicar objetivamente o trabalho dos Anjos, é-lhes indiferente, se alguém os ameaçar de morte eles não ligam, se se rirem deles eles querem um milhão de euros“, completou ainda em declarações aos jornalistas. “A Joana não é responsável pela maneira como as pessoas interpretam o que ela diz, pelo que decidem fazer por ela ter dito o que disse, quando o que ela diz não é ilícito. Se ela tivesse dito, vamos a casa deles matá-los porque esta interpretação do hino nacional merece que eles fiquem sem a cabeça, isso era uma declaração ilícita e era natural que então o tribunal a punisse”.
Será verdade que também Araújo Pereira já foi alvo de processos relacionados com piadas/paródias?
Sim. E um deles é bastante recente. Trata-de de uma denúncia ao Ministério Público movida por particulares relacionada com uma “rábula” (paródia/imitação) que o humorista fez, em 2023, sobre o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse ano, no programa “Isto é Gozar Com Quem Trabalha” (SIC), Ricardo Araújo Pereira fez uma sátira sobre o episódio em que Marcelo comentou o decote de uma jovem emigrante no Canadá. O humorista referiu-se ao Presidente como “O Mais Alto Magistarado da Nação” e ainda o apelidou de “Marcelo Rebarbado de Sousa”. A queixa-crime entregue ao MP alega crimes de “ofensa à honra” e “ultraje de símbolos nacionais”. Na apresentação do livro “Coisa Que Não Edifica Nem Destrói”, em dezembro de 2023, Araújo Pereira disse: “Ainda não tive notícias disso, estou à espera de saber o que é que o Ministério Público quer fazer. Secretamente, adorava ser julgado a cinco meses dos 50 anos do 25 de Abril. Gostava de ser julgado por fazer pouco do Presidente da República. Desde que não vá para a prisão. Mesmo multas não estou assim tão disponível para pagar.” Ao “Expresso”, confirmou entretanto quer “nunca mais ouviu falar do assunto”.
Já em 2011, segundo relatou à data o “CM”, uma piada da rubrica “Tesourinhos Deprimentes” resultou numa queixa por parte de um dos protagonistas do episódio. “Os ‘Gato Fedorento’ foram processados devido a uma frase proferida no programa ‘Diz Que É Uma Espécie de Magazine’ (RTP 1), que lhes pode custar 250 mil euros”, descrevia o jornal. A rubrica em questão “recordava um episódio de ‘Raios e Coriscos’, formato da década de 90 conduzido por Manuela Moura Guedes, que apresentou um dos participantes como ‘doutorado em Bioquímica'”. Foi Miguel Góis que protagonizou o momento-chave, quando brincou com a formação académica do convidado: “É que tem mesmo pinta de doutorado.”
Paulo Liberato de Almeida, o protagonista, interpôs uma acção contra os humoristas, a produtora Produções Fictícias (PF) e a RTP, escreveu o “CM”, no valor de 250 mil euros. Na altura, em declarações ao mesmo jornal, Teresa Schmidt, responsável das Produções Fictícias, disse que aquela situação não era propriamente inédita: “Esta não é a primeira vez que o grupo se vê envolvido num caso semelhante. “Não foram muitos [processos], três ou quatro, e nenhum teve sequência porque o tribunal considerou sempre que se tratava de paródia.”
_______________________________
Avaliação do Polígrafo: