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O que está em causa?Colocando em causa a legitimidade do PS para falar sobre a dívida pública, no debate de hoje no Parlamento, o líder do Chega sublinhou que "no terceiro trimestre de 2021 a dívida pública atingiu pela primeira vez 130,5% do PIB". Tem razão?
"O PS a falar da dívida pública? Se isto não fosse uma piada, era uma tragédia! Em abril deste ano, Portugal teve a 12.ª maior dívida pública do mundo. O primeiro-ministro era António Costa, não era Pedro Passos Coelho. No terceiro trimestre de 2021 a dívida pública atingiu pela primeira vez 130,5% do PIB", declarou hoje André Ventura, líder do partido Chega, no debate sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2023 que ainda decorre na Assembleia da República.
A percentagem indicada está correta? E foi mesmo a primeira vez?
O deputado estaria a basear-se numa notícia de janeiro de 2022, informando na altura - com base em dados do Eurostat - que "Portugal registou, no terceiro trimestre de 2021, um rácio de dívida pública de 130,5% do Produto Interno Bruto (PIB), a terceira maior da União Europeia e acima da Zona Euro (97,7%) e do conjunto dos 27 (90,1%)".
A notícia era verdadeira, mas os dados entretanto foram revistos e atualizados. De qualquer modo, não seria a primeira vez que a dívida pública de Portugal teria ultrapassado a fasquia de 130% do PIB, como explicamos seguidamente.
Ora, de acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal (pode consultar aqui), a dívida pública no terceiro trimestre de 2021 ascendeu a 129,1% do PIB, abaixo dos rácios verificados nos trimestres anteriores: 134,2% no segundo e 138,3% no primeiro.
Ou seja, ao contrário do que disse Ventura, não atingiu exatamente 130,5% do PIB, nem seria a primeira vez, na medida em que já tinha chegado a 134,2% e a 138,3% (ponto máximo desta série estatística) nos dois trimestres imediatamente anteriores.
Aliás, desde o primeiro trimestre de 2013 até ao terceiro trimestre de 2017, o rácio da dívida pública manteve-se sempre acima da fasquia de 130% do PIB, chegando a atingir 135,2% no início de 2014.
Em 2017 iniciou uma trajetória descendente até ao ponto mínimo (desde o final de 2011) de 116,6% do PIB no quarto trimestre de 2019, voltando depois a subir com os efeitos da pandemia de Covid-19, até ao já referido ponto máximo de 138,3% do PIB no primeiro trimestre de 2021.
Entretanto já baixou novamente para 123,4% do PIB no segundo trimestre de 2022.
Ventura enganou-se no trimestre em causa e no valor exato da percentagem, ou baseou-se na notícia desatualizada de há 10 meses. Mas não deixa de ser verdade que, em 2021 (no primeiro e não no terceiro trimestre), o rácio da dívida pública atingiu a percentagem mais elevada de sempre. Tendo em consideração o sentido mais lato (não exclusivamente literal) da frase do deputado, optamos aqui pelo selo de "Impreciso".
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Avaliação do Polígrafo:
