- O que está em causa?No debate de hoje na Assembleia da República, apontando para uma notícia recente, o líder do Chega sublinhou que "a ministra da Agricultura sabia das contas arrestadas da secretária de Estado que acabou por ser demitida". Posto isto, criticou os "comunicados pouco claros" da ministra sobre se "sabia ou não de processos judiciais". Nesse âmbito, Ventura garantiu: "Não há contas arrestadas sem processos judiciais." Tem razão?

"A ainda secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, informou a ministra da tutela, antes de tomar posse como governante na passada quarta-feira [dia 4 de janeiro], acerca das contas arrestadas que partilha com o marido", noticiou o jornal "Público" no dia 6 de janeiro. Nesse mesmo dia, a secretária de Estado apresentou a demissão e, por seu lado, o Ministério da Agricultura enviou um comunicado às redacções em que é referido que a ministra Maria do Céu Antunes "não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais".
Dirigindo-se ao primeiro-ministro António Costa no debate desta tarde na Assembleia da República, o deputado e líder do Chega, André Ventura, mostrou uma fotocópia da notícia em causa sobre o facto de a secretária de Estado ter informado a ministra sobre as contas arrestadas.
"Não queria deixar de o questionar sobre esta notícia: a ministra da Agricultura sabia das contas arrestadas da secretária de Estado que acabou por ser demitida. Senhor primeiro-ministro, esteve aqui nesta câmara e disse-me a mim que mantinha a confiança total nesta secretária de Estado, disse à deputada Catarina Martins que era vergonhoso usar a situação de ser mulher como secretária de Estado, defendeu-a. Uma hora depois, o Presidente da República desautorizou-o com uma clareza inigualável. E agora sabemos que a sua ministra sabia destas contas arrestadas", começou por declarar Ventura.
"A ministra pode escudar-se em comunicados pouco claros, que sabia de processos judiciais ou não sabia. Vou só dar esta nota à ministra: Não há contas arrestadas sem processos judiciais", sublinhou o líder do Chega, questionando o primeiro-ministro sobre se mantém a confiança política na ministra da Agricultura.
Confirma-se que "não há contas arrestadas sem processos judiciais"?
Questionado pelo Polígrafo sobre esta matéria, Guilherme Figueiredo, antigo bastonário da Ordem dos Advogados, indica que "há duas formas de arresto: uma é o arresto judicial e a outra é o arresto criminal".
"Em ambas as situações, quando há um arresto, é declarado pelo juiz. No caso do arresto judicial (ou arresto de natureza privada), o juiz manda arrestar e equivale a uma providência cautelar e esta ou é instaurada antes da ação judicial ou durante a ação judicial. De qualquer forma, o arresto tem sempre um número que é o número do processo do tribunal", explica Figueiredo.
"No arresto criminal passa-se da mesma forma, pode mandar arrestar, mas é um arresto criminal que pode ser mandado arrestar pelo Ministério Público ou até por um particular que se sinta lesado. Esse arresto é ordenado pelos juízes de instrução que determinam a propositura - chamemos-lhe assim - ou a vontade. Se for o caso do Ministério Público, tem de ser determinado pelo juiz, o que significa que também é um processo", descreve.
Assim, ao saber das contas arrestadas, a ministra da Agricultura "tem conhecimento, no mínimo, do processo do arresto que está sempre inserido num outro mais amplo. Um arresto é uma providência cautelar, como é uma medida cautelar está sempre integrada em qualquer coisa. Há sempre um processo judicial ou criminal".
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Avaliação do Polígrafo:
