Na entrevista de hoje (17 de junho) à SIC Notícias, questionado sobre se a comissão parlamentar de inquérito ao “caso das gémeas” faz parte de “uma agenda política contra o Presidente da República”, André Ventura garantiu que “evidentemente que não”, até porque tem “o maior respeito pelo Presidente da República”. Contudo, não deixou de ressalvar que “não podemos viver num país em que haja vacas sagradas“.
“Em que, seja o Presidente da República, o Primeiro-Ministro, ou o Presidente da Assembleia da República, ou um ex-ministro, está acima da lei“, afirmou o líder do Chega, no mesmo dia em que inquiriu o ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, no âmbito da referida comissão parlamentar de inquérito, requerida precisamente pelos deputados do Chega.
Para Ventura, aliás, “estamos a falar de um caso que diz muito aos portugueses, mais até do que a maior parte dos casos. Porquê? Porque toca na saúde. E muitos sentem o que é a dificuldade de hoje em dia ter acesso à saúde: 94% dos hospitais têm falta de medicamentos em Portugal”.
Concluiu depois que “quando as pessoas olham para isto e vêem que há alguém, aparentemente por irregularidades, ou por razões de favorecimento, que passou à frente e obteve tratamentos de favor, eu não quero saber se é o Presidente da República, se é o Primeiro-Ministro, se é a Presidente da Comissão Europeia, tem que ser investigado“.
A percentagem indicada por Ventura – relativamente à falta de medicamentos – tem fundamento?
Sim. De acordo com os dados apurados na última edição do “Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar” (pode consultar aqui), referente a 2023 e promovido pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), 94,4% dos administradores consideram as rupturas de stock de medicamentos um problema grave (77% em 2020) e 47,2% consideram que afetam apenas medicamentos genéricos (33% em 2020).
As rupturas de stock de medicamentos ocorrem diariamente em 41,6% dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), semanalmente em 36,1% e mensalmente em 19,4%, com 2,7% a não registarem rupturas, indica-se no mesmo estudo.
Em novembro de 2023, quando o estudo foi apresentado, o presidente da APAH, Xavier Barreto, destacou que “94% dos hospitais entendem que as rupturas são um problema grave. Cerca de 20% dizem que acontecem mensalmente e 36% semanalmente, portanto, temos mais hospitais a dizerem que têm rupturas. Cerca de metade diz que são todos os medicamentos e a outra metade diz que são genéricos”.
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