A recente discussão entre André Ventura, deputado e líder do partido Chega, e Eduardo Ferro Rodrigues, deputado do PS e presidente da Assembleia da República, em torno da utilização da palavra “vergonha” em reuniões plenárias ou debates parlamentares, gerou uma série de publicações nas redes sociais e motivou até uma petição pública visando a destituição de Ferro Rodrigues, procedimento que nem sequer está previsto no Regimento da Assembleia da República.
Numa dessas publicações, com origem no Facebook, traça-se um contraste entre Ventura – “eleito deputado para a Assembleia da República por 66.442 portugueses votantes” – e Ferro Rodrigues – “nomeado e eleito para a presidência da Assembleia da República pelos seus camaradas e compadres“.

É verdade que Ventura foi eleito “por 66.442 portugueses” enquanto Ferro Rodrigues foi “nomeado pelos seus camaradas”?
No que respeita ao primeiro, confirma-se que foi eleito deputado à Assembleia da República nas legislativas de 6 de outubro de 2019, mas não por “66.442 portugueses votantes”. Ao nível nacional, o partido Chega obteve um total de 67.826 votos (pode conferir aqui).
Contudo, Ventura foi eleito como cabeça-de-lista pelo distrito de Lisboa, círculo eleitoral em que a lista do Chega obteve um total de 22.053 votos. Ou seja, a publicação em análise não é rigorosa quanto ao número de votantes que elegeram diretamente Ventura como deputado.
Relativamente a Ferro Rodrigues, o facto é que também foi eleito deputado à Assembleia da República, na terceira posição da lista de candidatos do PS no distrito de Lisboa. Nesse círculo eleitoral, o PS obteve um total de 404.677 votos. Neste ponto, a publicação em análise sugere uma falsidade, ou pelo menos induz os leitores em erro.
Ora, Ferro Rodrigues não poderia ter sido eleito como presidente da Assembleia da República (está a exercer o segundo mandato consecutivo) se não tivesse sido primeiramente eleito deputado. E também não é verdade que tenha sido “nomeado e eleito” como presidente da Assembleia da República “pelos seus camaradas e compadres”.
A votação para o cargo decorreu no dia 25 de outubro de 2019, tendo Ferro Rodrigues, candidato único, obtido 178 votos favoráveis, 44 em branco e oito nulos, entre os 230 deputados. Ou seja, foi eleito com o apoio de várias bancadas parlamentares, muito além do total de 108 deputados do seu partido.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: