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Ana Catarina Mendes acusa Rio de “dar o dito pelo não dito”, ao defender as 35 horas para o setor privado. A socialista diz a verdade?

Legislativas 2019
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Se o debate entre Rui Rio e Jerónimo de Sousa foi caracterizado por um ambiente de grande cordialidade, o mesmo não se poderá dizer do pós-debate na SIC-Notícias, onde a secretária-geral adjunta de António Costa acusou o líder do PSD de incoerência por supostamente ter defendido o alargamento ao sector privado do horário de 35 horas semanais já praticado na Função Pública.

Ontem, na RTP, foi a vez de Rui Rio e Jerónimo de Sousa trocarem argumentos. Para não variar relativamente à quase totalidade dos debates televisivos que já se realizaram neste período de pré-campanha, o ambiente foi de serenidade e moderação.

Logo após o debate (a que pode assistir aqui), a acalmia deu lugar ao entusiasmo dos comentadores, especialmente o de Ana Catarina Mendes, que na SIC fez uma crítica inflamada ao que considera ser a incoerência de Rui Rio (veja o comentário na íntegra aqui). Disse a secretária-geral adjunta do PS perante o ar indignado do seu interlocutor no estúdio, o social-democrata António Leitão Amaro: “Mais uma vez neste debate, como vem acontecendo ao longo dos debates entre líderes partidários, [Rui Rio] dá o dito pelo não dito. Desde que é líder do PSD, o Dr. Rui Rio disse sempre que estava contra a reposição das 35 horas mas hoje diz que afinal devíamos estender as 35 horas ao sector privado.”

A ser verdadeira, a contradição não é de pormenor. A questão das 35 horas de trabalho da Função Pública tem sido central no debate político desde que o PS, juntamente com os seus parceiros, decidiram instituí-la. Por causa dela, já acusou Rui Rio, alguns serviços públicos, nomeadamente os do sector da saúde, têm vindo a dar sinais de debilidade provocados pela escassez de recursos humanos.

Mas será que Rui Rio afirmou mesmo que as 35 horas semanais deviam alargar-se ao sector privado?

Vejamos a transcrição literal da declaração de Rio: “(…) A partir do momento em que baixo [o horário de trabalho] na Função Pública, uma das coisas que eu acho mal na política é termos um governo que faz uma coisa e vem outro e a mesma coisa muda. Há muita instabilidade. O PSD só faria isso [voltar às 40 horas semanais] numa situação de emergência como a que existiu antes. Caso contrário vamos é lutar para que o desenvolvimento possa levar o sector privado também a essa redução, mas não é agora, é se nós tivermos crescimento e desenvolvimento económico que o permita. Neste momento não permite.”

debate quinzenal na Assembleia da República

Face às declarações de Rio, parece evidente que a acusação da secretária-geral adjunta de António Costa carece de rigor. O que Rio afirmou foi, em resumo, o seguinte:

  • Que é contra as 35 horas semanais;
  • Que não conta reverter a medida do Governo socialista por considerar que geraria instabilidade;
  • Que não acha justo que exista uma diferenciação entre o sector público e o privado;
  • Que considera que o ideal era que o sector privado se aproximasse do público;
  • Que isso só poderia acontecer se as empresas tivessem arcaboiço financeiro para sustentar o peso financeiro da medida;
  • Que neste momento isso não é possível.

Avaliação do Polígrafo:

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