“Atingiram rapidamente a imunidade de grupo” e registaram um “muito menor número de mortes” por Covid-19. Nas últimas semanas o grupo religioso cristão Amish, conhecido pelos costumes ultra-conservadores e a utilização restrita da tecnologia, tem sido indicado como um caso de estudo nos Estados Unidos da América (EUA).
A receita do alegado sucesso para os membros desta comunidade terem fugido à vaga de contaminações e às mortes provocadas pelo coronavírus é revelada num “post” de 1 de junho, no Facebook: “Não se fecharam em casa, os seus filhos continuaram a viver normalmente, não usaram máscaras e sobretudo não se vacinaram.”

Será que foi mesmo assim que aconteceu?
Tal como verificou a plataforma de verificação de factos da Agence France-Press (AFP), a maioria dos conteúdos a circular em que esta tese é defendida têm como base um artigo do site brasileiro “Tribuna Nacional”, um conhecido site de partilha de desinformação. O Polígrafo já desmentiu em várias ocasiões alegações propagadas através deste meio.
Mais uma vez, a informação partilhada carece de contexto e apresenta conclusões erradas. É falso que os Amish registaram uma mortalidade muito mais baixa por Covid-19 em comparação com a restante população norte-americana.
Como base para a difusão da teoria está a ser citado um artigo no jornal norte-americano “Pennlive”, datado de 29 de março de 2021, que referia, por sua vez, uma notícia da agência norte-americana “Associated Press”, que indicava que 90% das famílias Amish da região de Lancaster, na Pensilvânia (que abriga a maior comunidade Amish), teriam então contraído Covid-19. Na altura, especialistas em doenças infecciosas garantiram que esta possível “imunidade coletiva” apenas traria proteção limitada.
O artigo também cita autoridades locais que indicaram, sem avançar números precisos, devido à recusa na testagem por parte de grande parte da comunidade, que um “grande número de mortes” foi declarado no momento em que se registou um maior número de doentes com sintomas correspondentes aos da Covid-19.
Além disso, Braxton Mitchell, epidemiologista do Departamento de Medicina da Universidade de Maryland que estuda as populações Amish e particularmente a de Lancaster, garantiu à AFP que não há evidências para determinar, como está a ser feito nas redes sociais, que a taxa de mortalidade seja menor entre essa população.
Segundo Steven Nolt, professor de história e estudos anabatistas na Faculdade Elizabethtown, não existem números oficiais sobre infecções ou mortes por Covid-19 entre a população Amish. Isto porque os registos médicos não indicam a religião dos pacientes. No entanto, garante, “a taxa de excesso de mortalidade foi mais elevada dentro da população Amish do que na população norte-americana como um todo”.
Um estudo publicado em 2021 por investigadores da Universidade da Virgínia Ocidental utilizou as informações de obituários publicadas num jornal Amish para examinar o excesso de mortalidade entre membros da comunidade em 2020. Os resultados indicam que “as taxas de excesso de mortalidade Amish são semelhantes às tendências nacionais nos EUA” e que a “taxa de mortalidade excessiva para os Amish aumentou 125% em novembro de 2020”.
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Avaliação do Polígrafo: