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Alerta de “fraude”: Aplicação para pagamento de estacionamento por telemóvel “retira dinheiro” indevidamente ao utilizador

Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A história propagou-se nas redes sociais (entre o Instagram e o Facebook), ao longo das últimas semanas, apontando para uma suposta "fraude" envolvendo uma senhora idosa em Oeiras, um panfleto da aplicação "paySimplex" e um "código QR" que, depois de ser lido por dispositivos móveis, pede acesso ao cartão de crédito e cobra 50 euros ao utilizador, no âmbito de uma campanha de "marketing". O Polígrafo verifica.

“Se virem isto nos vidros dos vossos carros deitem para o lixo. É fraude. Avisem também as pessoas mais velhas para não o fazerem. Quando se põe o ‘código QR’ pedem cartão de crédito. E depois tiram dinheiro. Estes estão na zona de Miraflores”. Este alerta, colado por cima de uma imagem com um “código QR” e o logótipo da aplicação “paySimplex”, tem sido partilhado em redes sociais como o Instagram e o Facebook desde meados de junho.

Os panfletos em causa surgiram no âmbito de um conjunto de ações de marketing que uma empresa de pagamento de estacionamento e outros serviços de mobilidade através de dispositivos móveis, a referida “paySimplex”, realizou no concelho de Oeiras, onde distribuiu cerca de 20 mil mil panfletos entre os dias 10 e 13 de junho.

A acusação de que se trataria de um esquema fraudulento de cobrança não autorizada via cartões de crédito surgiu na sequência dessa campanha. A troca de mensagens entre a empresa e a página que denunciou a suposta fraude, facultadas ao Polígrafo pela “paySimplex”, resultou na conclusão de que a visada, a quem foram cobrados 50 euros depois de esta ter inserido dados do seu cartão de crédito, teria acedido a outro portal depois de ter lido, com o seu telefone, o “código QR” impresso no panfleto.

Afinal, e de acordo com o diretor executivo da empresa, Miguel Santos Garcia, aquele código reencaminhava o utilizador para a loja online onde seria então possível descarregar a aplicação da “paySimplex”. De resto, “acresce que o sistema de pagamento com recurso a cartão de crédito, como referido na publicação em causa, não está sequer disponível na aplicação; apenas é permitido fazer carregamentos de saldo, com recurso à MB Way, PayPal ou com Referência Multibanco, saldo esse criado por ordem e instrução do utilizador e destinado unicamente a futuros pagamentos de estacionamento“.

O Polígrafo confirmou esta informação. Depois de nos ter sido remetida uma cópia do panfleto, seguimos os procedimentos normais de um utilizador: fizemos scan do “código QR”, fomos reencaminhados para um link e, posteriormente, para a loja onde poderíamos descarregar, gratuitamente, a aplicação.

A “paySimplex” salienta que “nunca foi alvo de qualquer queixa relacionada com fraude, como a presente”, uma acusação que a empresa refuta “por não ter qualquer fundamento“. Mais, garante que “exigirá uma retratação pública da autora da publicação, se necessário, com recurso à via judicial“.

O Polígrafo contactou também a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa que, embora não opere no município de Oeiras, tem uma parceria com a empresa em questão. De acordo com esta entidade, não foram recebidas “quaisquer reclamações ou queixas do serviço prestado pela ‘paySimplex'”, não havendo também “conhecimento de qualquer esquema fraudulento”.

“Mais se informa que pelo que foi possível apurar, a situação reportada ocorreu no concelho de Oeiras. Caso tivesse ocorrido em Lisboa, a ‘paySimplex’ está obrigada contratualmente a pedir autorização à EMEL para qualquer tipo de publicidade”, destaca a empresa, assegurando que procederia ao pedido de esclarecimento junto da “paySimplex” de forma a “prevenir quaisquer circunstâncias”.

“É de referir ainda que a verificação da validade dos estacionamentos com recurso a dispositivos móveis, por parte da fiscalização da EMEL, é feita exclusivamente através da pesquisa da matrícula numa aplicação, não envolvendo ou considerando quaisquer tipos de papéis ou informações colocadas nos automóveis ou acesso aos meios de pagamento que sejam usados nessas aplicações”, conclui.

Por seu lado, a Parques Tejo, empresa municipal que gere o sistema de estacionamento em Oeiras, revelou ao Polígrafo que “teve conhecimento que decorria uma campanha de marketing por parte da empresa ‘paySimplex’ por via de reclamações informais dos nossos utilizadores pelo incómodo de terem papéis nos seus para-brisas”,

“Por achar que nenhuma campanha deve ser promovida sem o seu conhecimento prévio, a Parques Tejo solicitou que a mesma fosse retirada de imediato“. Foi por esse motivo, agora conhecido, que a campanha iniciada a 10 de junho saiu de circulação três dias depois. Assim, a Parques Tejo não assume “qualquer responsabilidade sobre a ação de marketing da ‘paySimplex'”.

Quanto à situação reportada, a Parques Tejo apurou, junto da ‘paySimplex’, que se tratou “de um erro da reclamante”, tal como o Polígrafo já explicou. A empresa municipal de Oeiras acrescenta ainda que “não tem qualquer responsabilidade sobre as campanhas de marketing dos seus parceiros que por direito as queiram implementar, podendo apenas as limitar por forma a não incomodar os seus utilizadores, moradores ou visitantes”.

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Avaliação do Polígrafo:

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