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Aldeia olímpica do Rio de Janeiro custou 31 vezes mais do que a de Tóquio?

Desporto
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
O local onde os atletas ficaram alojados durante os Jogos Olímpicos (JO), em Tóquio, custou perto de 29 milhões de dólares. Já nos JO do Rio de Janeiro, em 2016, a aldeia olímpica custou 900 milhões de dólares. A garantia é dada nas redes sociais e é apresentada como prova da gestão corrupta associada ao Partido dos Trabalhadores. Mas será que os valores estão corretos?

A informação é avançada em inúmeras publicações no Facebook e no Twitter: “A aldeia olímpica de Tóquio custou 29 milhões de dólares. A do Rio 2016 custou 900 milhões de dólares. 31 vezes mais cara. Isso é tudo o que você precisa saber sobre a era lulopetista”, escreve-se num tweet de 29 de julho. Num post de Facebook com 63 mil partilhas divulgam-se os mesmos valores e conclusão: “São 31 vezes mais. PT maldito.”

“Lulopetista” é um termo usado no Brasil para designar aqueles que são filiados ou simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (“petistas”) e, neste caso, também uma referência ao antigo presidente do Brasil, Lula da Silva. Durante a gestão do PT e do mandato presidencial de Lula foram levantadas várias suspeitas de corrupção. Mas será que a aldeia olímpica do Rio de Janeiro custou 31 vezes mais do que a de Tóquio?

Não. A Agência Lupa, plataforma brasileira de verificação de factos, divulga um relatório da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados do Brasil que indica que a aldeia olímpica do Rio de Janeiro, o local onde ficam alojados os atletas durante as competições, custou 2,9 mil milhões de reais, ou seja, 913 milhões de dólares, o equivalente a 778 milhões de euros.

Porém, o valor não foi pago pelo governo, mas por um consórcio formado pelas construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht, ainda que com financiamento da Caixa Económica Federal, banco público brasileiro. Pela utilização da aldeia olímpica, durante dois meses, o Comité Organizador dos Jogos do Rio pagou cerca de 49 milhões de dólares, cerca de 42 milhões de euros. Quando o evento terminou, as casas foram colocadas à venda.

Uma das atuações da inauguração do maior evento desportivo do mundo, em 2012, mostra um conjunto de crianças em camas de hospital, rodeadas por profissionais de saúde e um vulto negro gigante, acompanhado de outros mais pequenos, a persegui-los. Nas redes sociais, a performance tem sido apontada como uma premonição da crise sanitária que o mundo atualmente enfrenta. É mais uma das muitas teorias da conspiração colocadas a circular sobre a pandemia.

Já a aldeia olímpica de Tóquio, apesar de as estimativas variarem, foi muito mais cara do que indicam as publicações nas redes sociais. Segundo a agência Reuters, custou 54 mil milhões de ienes, ou seja, 488,4 milhões de dólares, o que equivale a 416 milhões de euros. Já a Real Estate Japan, que faz assessoria a negócios imobiliários, estimava, em 2018, que o custo da aldeia poderia atingir os dois mil milhões de dólares. É certo que os valores apresentam uma forte disparidade, porém estão muito longe dos 29 milhões de dólares (cerca de 25 milhões de euros) apontados nas redes sociais.

No total, os Jogos Olímpicos de Tóquio tiveram um custo estimado de 15,4 mil milhões de dólares, ou seja cerca de 13 mil milhões de euros, o valor mais alto da história. A alteração da data do evento de 2020 para 2021 e a consequente necessidade de manutenção, adaptação à pandemia e os custos com funcionários justificam a derrapagem no orçamento.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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