“Especialmente dedicada aos ‘ministros’ Poiares Maduro e Maria Luís Albuquerque pelas suas ‘brilhantes’ declarações proferidas acerca da sustentabilidade das reformas”, lê-se no primeiro parágrafo de um texto, intitulado “Indecoroso“, que se encontra a circular nas redes sociais e foi, inclusive, enviado ao Polígrafo para verificação.
Isto porque as seguintes palavras estão a ser atribuídas a Adriano Moreira, antigo presidente do CDS-PP: “Vergonha é comparar a reforma de um deputado com a de uma viúva; vergonha é um cidadão ter que descontar 40 ou mais anos para receber reforma e aos deputados bastarem somente três ou seis anos conforme o caso e que aos membros do Governo para cobrar a pensão máxima só precisam do juramento de posse; vergonha é que os deputados sejam os únicos trabalhadores deste país que estão isentos de 1/3 do seu salário em IRS e reformarem-se com 100% enquanto os trabalhadores se reformam na base de 80%.”
E prossegue o suposto autor do texto: “Vergonha é pôr na Administração milhares de assessores (leia-se amigalhaços) com salários que desejariam os técnicos mais qualificados; vergonha é a enorme quantidade de dinheiro destinado a apoiar os partidos, aprovados pelos mesmos políticos que vivem deles”.
Além de mais exemplos de “vergonha”, o texto termina com um apelo: “Esta deveria ser uma dessas correntes que não deveriam romper-se pois só nós podemos remediar tudo isto. Além disso, será uma vergonha se não reenviarem. ‘Não fazemos agravo a ‘ninguém’, salvo o escândalo de termos princípios, e História, e coragem, e razão.”
É verdade que este texto foi escrito ou proferido em algum discurso por Adriano Moreira?
O tema não é novo e, aliás, já tinha sido verificado em novembro de 2019 pelo Polígrafo.
Na altura, concluiu-se que não havia qualquer fundamento para atribuir a Adriano Moreira a autoria por este texto, que tinha vindo a ser propagado através de blogs e nas redes sociais há já alguns anos e que entretanto, nas últimas semanas, voltou a ser partilhado – após noticiar-se que Maria Luís Albuquerque seria a escolha do Governo de Luís Montenegro para o cargo de comissária europeia.
A única parte do texto que pode ser atribuída corretamente a Adriano Moreira é a última frase, que aqui se transcreve novamente: “Não fazemos agravo a ‘ninguém’, salvo o escândalo de termos princípios, e História, e coragem, e razão.”
Essa frase foi retirada do livro “A Espuma do Tempo – Memórias do Tempo de Vésperas”, de Adriano Moreira, e aparece completamente descontextualizada no final do texto apócrifo. Eis a passagem original no livro de memórias do antigo ministro do Ultramar:
“A utopia teve uma das expressões maiores com as inquietações do Engenheiro Trigo de Morais, um transmontano responsável pelos colonatos. Doente no Hospital do Ultramar desejou que o visitasse, e foi para me pedir que o mandasse enterrar no colonato para se misturar aos alicerces da obra que empreendera. Por ali ficaria quando o tempo chegou. Claro que a visita a Moçambique era uma oportunidade excelente para meditar longamente com Sarmento Rodrigues sobre a perspectiva nacional, estando ambos convictos de que, como declarei no discurso que fiz no Conselho Legislativo, em 27 de Setembro, desta forma ‘não fazemos agravo a ninguém, salvo o escândalo de termos princípios, e História, e coragem, e razão’.”
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Avaliação do Polígrafo: