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A taxa de inflação em Portugal ascende a 9,3%?

Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
No Facebook comparam-se duas faturas de compras num supermercado: a primeira de outubro de 2021, a segunda de outubro de 2022. E assinalam-se os preços de quatro produtos em que se verificam "aumentos de 34,74% (rolo de papel de cozinha), 51,76 % (batatas fritas), 67,79 % (massa cotovelinhos) e 62,5 % (leite UHT meio gordo)". A partir do que se questiona: "9,3%? É realmente esta a taxa de inflação em Portugal à data de hoje?"

9,3%? É realmente esta a taxa de inflação em Portugal à data de hoje? Para não falar nos preços de combustíveis, eletricidade, gás, rendas, prestações de empréstimos, etc. Aqui estão duas facturas de compras realizadas em outubro de 2021 e outubro de 2022. Nos quatro artigos assinalados verificam-se aumentos de 34,74% (rolo de papel de cozinha), 51,76 % (batatas fritas), 67,79% (massa cotovelinhos) e 62,5% (leite UHT meio gordo)”, denuncia-se num post de 27 de outubro no Facebook, terminando com um pedido: “Alguém me explica como é que se estabelece em 9,3% a taxa de inflação?”

De acordo com a informação disponibilizada pelo Banco de Portugal, “a inflação consiste numa subida generalizada e sustentada dos preços dos bens e serviços consumidos pelas famílias. Numa economia de mercado, o preço dos bens e serviços pode variar em qualquer momento: alguns preços sobem, outros descem. Existe inflação quando os preços dos bens e serviços aumentam de forma generalizada (e não apenas o preço de alguns itens específicos), e esse aumento é continuado ao longo do tempo“.

Como se mede a inflação? A inflação é tipicamente medida utilizando um índice de preços no consumidor para comparar os preços atuais dos bens e serviços com os preços dos mesmos bens e serviços em períodos anteriores. Para isso utiliza-se um cabaz de compras composto pelos itens que são habitualmente comprados pelas famílias para consumo (por exemplo, bens alimentares, vestuário, comunicações móveis, combustíveis, bilhetes de transportes públicos ou despesas com rendas de casa, eletricidade e água)”, explica o Banco de Portugal.

Primeiro a pandemia, depois a guerra. Nas redes sociais, as consequências da inflação exponenciada por estas duas crises têm motivado diversas publicações e, numa das mais recentes, aconselha-se ironicamente: "Continuai a culpar empresas, a não querer aumentar as fontes energéticas (...) e a nem quererem saber dos bancos centrais. Continuem a não querer ver as maiores causas dos vossos problemas como também a apoiar o que os agrava." Na origem da indignação está uma queda de 4,6% na média da remuneração total bruta dos portugueses, de acordo com dados do INE que o Polígrafo conferiu.

“Os principais índices de preços são o Índice de Preços no Consumidor (IPC) e o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC). O IHPC é o índice utilizado na área do euro. Ao ser ‘harmonizado’ significa que todos os países da área do euro têm as mesmas categorias de bens e serviços nos seus cabazes e utilizam os mesmos métodos de cálculo. A composição do IHPC foi concebida de forma a que o cabaz de compras geral seja representativo em todos os países. Para além da despesa realizada pelos residentes num determinado território (país ou área do euro), o IHPC inclui também as despesas realizadas por turistas nesse território”, detalha.

“Se calcularmos a taxa de variação do IHPC de um período para outro, calculamos a taxa de inflação, ou seja, quanto é que os preços se alteraram (em percentagem) entre diferentes períodos”, acrescenta. “Como o cálculo da taxa de inflação pode ser baseado em comparações entre diferentes períodos, é possível analisar vários tipos de taxas de inflação: inflação em cadeia que apresenta a taxa de variação entre um mês e o mês anterior; inflação homóloga que apresenta a taxa de variação entre um mês e o mesmo mês do ano anterior; inflação média que apresenta a taxa de variação entre a média dos valores do índice no último ano e a média do ano imediatamente anterior. Das três, a mais utilizada é a inflação homóloga”.

De acordo com o último boletim do Instituto Nacional de Estatística (INE), a variação homóloga do IPC foi de 9,3% em setembro, valor mais elevado desde outubro de 1992 e um aumento de 0,4 pontos percentuais face ao mês anterior.

No portal do INE encontramos dados estimados mais recentes, de outubro, e estes apontam para uma inflação ainda mais elevada: “A taxa de variação homóloga do IPC terá aumentado para 10,2% em outubro, taxa superior em 0,9 pontos percentuais à observada no mês anterior e a mais elevada desde maio de 1992“. Ressalve-se que estes são valores estimados, visto que os dados definitivos referentes ao IPC do mês de outubro de 2022 serão publicados no dia 11 de novembro.

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Avaliação do Polígrafo:

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