“Como limpar os rins sem dor, bom para todas as idades. Limpe os seus rins. Os anos passam e os nossos rins estão sempre a filtrar o sangue, a remover o sal, veneno e tudo o que seja prejudicial ao nosso sistema. Com o tempo, o sal acumula-se e isso precisa de um tratamento de limpeza. Como se livrar disso? É muito fácil, primeiro pegue num ramo de salsa e lave muito bem. Em seguida, corte em pedaços pequenos e coloque-o numa panela e adicione água limpa (um litro). Ferva por 10 minutos, deixe esfriar, coe numa garrafa limpa e coloque-o no frigorífico”, destaca-se na publicação em causa, partilhada desde há anos por milhares de pessoas nas redes sociais.
“Beba um copo por dia e você vai ver que todo o sal e veneno acumulado nos seus rins começam a surgir ao urinar. A salsa é conhecida como o melhor tratamento de limpeza para os rins e é natural“, garante-se no texto.
Segue-se uma enumeração de vários outros supostos benefícios da salsa para a saúde:
“É um poderoso antioxidante, rejuvenesce a pele; Contém beta-caroteno; Rico em sais minerais como cálcio, fósforo, ferro e enxofre; Rico em clorofila, combate o mau hálito, ajuda a limpar o corpo de toxinas e excesso de gordura; Rico em vitamina C: previne o cancro, problemas cardíacos e cataratas e infeções e ajuda a fortalecer o sistema imunológico do corpo; Por ser rica em cálcio, é muito adequada nas dietas para combater e prevenir a osteoporose durante a menopausa; É muito benéfico para as crianças e atletas; É diurética, ajuda a eliminar líquidos naturalmente, por esse motivo é usada em dietas para o tratamento de hipertensão e para a saúde dos rins; O alto teor de vitaminas e minerais faz com que seja ideal para o combate e prevenção da anemia, anorexia, fraqueza geral, cansaço, fadiga física e mental; Ideal para fortalecer cabelos e unhas; Muito bom para combater problemas de pele; Útil contra úlceras; A salsa a partir de um líquido oleoso chamado Apiol é usada contra febres intermitentes e neuralgia”.
Não sendo prático conferir todas estas alegações, focamo-nos nas principais: é o “melhor tratamento de limpeza para os rins”, reduz a hipertensão e é diurética.
Contactado pelo Polígrafo, Artur Mendes, presidente da Direção do Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos, adverte que “não há qualquer evidência clínica, em ensaios em humanos, publicada em revistas com prestígio, indexadas e com revisão por pares, que demonstre uma associação entre a ingestão de qualquer preparado de salsa e bons resultados clínicos renais, muito menos uma relação causal. Assim, não se pode afirmar que estes preparados ‘limpem os rins’, sejam diuréticos ou reduzam a hipertensão.
“O Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos não recomenda a sua utilização para estes fins e apela, isso sim, à ingestão de água e à redução da ingestão de sal, comprovadamente associados a bons resultados clínicos renais”, sublinha.
Também contactada pelo Polígrafo, a Direção da Sociedade Portuguesa de Nefrologia confirma que “não há estudos randomizados sobre o efeito da salsa na função renal“.
Por sua vez, Rita Lima, nutricionista no Centro de Cuidados Renais B. Braun, indica que “a salsa apresenta propriedades diuréticas e ajuda a prevenir cálculos (vulgarmente conhecidos como ‘pedras’) no sistema urinário, derivado da sua capacidade para aumentar a excreção de cálcio e aumento do pH e volume da urina”. Mais, “devido ao aumento do débito urinário, pode contribuir para a prevenção e melhoria de condições de hipertensão arterial”.
No entanto, Lima ressalva que “a maior parte da evidência baseia-se em testes com ratos e com a utilização de extratos concentrados de salsa, sendo recomendada a sua utilização através de suplementos para a obtenção do efeito pretendido”.
Quanto à alegação sobre o tratamento de limpeza dos rins, Lima diz que “não tem fundamentação científica relevante“.
“Os rins têm, por si, uma função excretora, de ‘limpeza’ do organismo. A salsa apenas poderá potenciar a sua função através de uma maior diurese, como referido anteriormente, mas não podemos encarar isso como um ‘tratamento de limpeza para os rins'”, conclui.
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Avaliação do Polígrafo: