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A Austrália está a expulsar imigrantes muçulmanos para evitar ataques terroristas?

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Não, não é verdade que a Austrália queira expulsar emigrantes para evitar criminalidade extrema. Notícia foi colocada a circular por um site sem qualquer base de veracidade.

A página do “Jornal Q” tem mais de 80 mil seguidores e um dos mais recentes artigos publicados tem o seguinte título: “A Austrália está a dar que falar. Muçulmanos receberam mensagem”. De acordo com o artigo em causa “muçulmanos que querem viver sob a lei islâmica ‘Sharia’ receberam ordens para deixar a Austrália, de modo a prevenir possíveis ataques terroristas. O primeiro-ministro John Howard chocou alguns muçulmanos australianos ao declarar: “Imigrantes não australianos devem adaptar-se!”

“Este é o nosso país, a nossa terra e o nosso estilo de vida”, terá afirmado o primeiro-ministro John Howard

Verdade ou mentira? Sobressai desde logo o facto de John Howard já não ser primeiro-ministro da Austrália desde 2007, há cerca de 11 anos. Quanto à declaração citada, foi proferida por Howard, de facto, mas em 2005, ao reagir aos ataques terroristas ocorridos então no metropolitano de Londres, Reino Unido. Embora Howard tenha proferido essa declaração, não é verdade que a Austrália tenha expulsado imigrantes muçulmanos da Austrália, “a fim de prevenir possíveis ataques terroristas”. Trata-se de uma efabulação a partir de uma declaração descontextualizada de Howard, com a agravante de o artigo do “Jornal Q” se referir ao tempo presente, como estando em curso esse processo de expulsão que é falso.

“Pegue ou largue, estou cansado de que esta nação deva preocupar-se em saber se ofendemos alguns indivíduos ou sua cultura. A nossa cultura desenvolveu-se através de lutas, vitórias e conquistas realizadas por milhões de homens e mulheres que buscaram a liberdade”, pode ler-se no artigo

Após essa introdução focada na declaração de Howard, o artigo do “Jornal Q” atribui erradamente a Howard uma série de outras declarações que, na verdade, são retiradas (e deturpadas) de um artigo de opinião escrito por um militar veterano da Força Aérea dos EUA, Barry Loudermilk, publicado poucos dias após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em território norte-americano.

“Pegue ou largue, estou cansado de que esta nação deva preocupar-se em saber se ofendemos alguns indivíduos ou sua cultura. A nossa cultura desenvolveu-se através de lutas, vitórias e conquistas realizadas por milhões de homens e mulheres que buscaram a liberdade”, pode ler-se no artigo. “Este é o nosso país, a nossa terra e o nosso estilo de vida”, acrescenta, para depois concluir: “Se não está feliz aqui, então pode partir. Nós não o forçamos a vir aqui, você pediu para estar aqui. Então respeite o país que aceitou você”.

Além de mal traduzido e deturpado, o texto é apresentado no artigo do “Jornal Q” como discurso direto de Howard que não é primeiro-ministro da Austrália há cerca de 11 anos e nunca proferiu tais declarações. É tudo falso, do princípio ao fim. Aliás, o próprio “Jornal Q” ilustra o artigo com uma imagem em que sublinha: “Muitos dizem que esta notícia é falsa, mas será mesmo? Austrália dá lição de civilização a todo o mundo!” É mesmo falsa.

 

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