O Chega nasceu em 2019. Como é que foi o seu percurso académico e profissional até ter aderido ao partido? Tem 27 anos de idade, anteriormente já se tinha envolvido na atividade política?
Sou licenciado em Gestão de Recursos Humanos, frequentei o mestrado em Gestão Hoteleira mas ainda não terminei, congelei a matrícula por falta de disponibilidade devido à minha vida profissional. A esse nível já fiz um bocadinho de tudo: trabalhei como operador de caixa, nas mudanças, como motorista, como vendedor… Atualmente sou consultor comercial na área da construção civil.
Relativamente ao Chega e à minha participação na vida política, antes de surgir o Chega, apesar de ter simpatizado com algumas figuras da política nacional, nunca nenhuma delas me cativou, porque eu sempre tive esta visão semelhante à do presidente do Chega, André Ventura. Por muito que haja ideias divergentes e que haja maneiras diferentes de estar na politica, fazem todos parte do mesmo saco. Eu para fazer a diferença tenho que ter liberdade de pensamento e de expressão para isso, que eu penso que não existe nos outros partidos.
Quando entrou no Chega, o partido não tinha uma estrutura organizada de juventude, ainda não havia um espaço aberto para os jovens…
Eu quanto entrei no Chega, há cerca de um ano, foi numa altura em que havia outra Comissão Instaladora da Juventude. E eu não lhe consigo dar grandes pormenores, porque também não os tenho, mas o projeto não correu de acordo com aquilo que era pretendido. Estavam a haver alguns desvios face àquilo que é a linha ideológica do partido e o interesse dessas pessoas, pelo que eu percebi, era mais pessoal do que pelo bem do país e do partido.
Houve algum momento do seu percurso em que percebeu que tinha mesmo de aderir a este partido?
Sendo sincero, quando o Chega foi fundado, e apesar de eu ser uma pessoa com muito pensamento crítico, acabei por ir um bocadinho atrás daquelas manchetes, daqueles tópicos das notícias a dizer que André Ventura era xenófobo, que era racista, e não me debruçava muito sequer sobre o Chega. Porém, passado algum tempo comecei a ver as interações do doutor André Ventura na Assembleia da República, agradaram-me bastante, mas como para mim isso não era suficiente, comecei a ler o programa do partido. Comecei, aí sim, a aproximar-me um bocadinho, indo a alguns eventos… E a partir do momento em que percebi que havia ali um espectro alargado de pessoas com sensibilidades diferentes não só para a política, mas para a vida, comecei a dar as minhas ideias. Pouco a pouco fui-me integrando, sempre fui muito bem recebido, sempre respeitaram as minhas opiniões, mesmo quando por vezes podiam ser um bocadinho divergentes daquilo que estava a acontecer…
Quão divergentes? Estava a falar do programa eleitoral e de se ter identificado com o mesmo, mas o facto é que esse programa foi sofrendo alterações…
Daquilo que estava no programa e mesmo com as alterações que foram sendo feitas, nunca tive nada face ao qual estivesse mesmo contra. Estive contra, por exemplo, uma ou outra votação na Assembleia da República, como a da Carta dos Direitos Digitais ou a da TAP, apesar de isto ser mais do ponto de vista pessoal e também, como não estou especializado nas áreas, não me parece que seja suficiente para deixar de apoiar o partido, até porque sou completamente a favor das grandes bandeiras do partido.
Nomeadamente a luta contra a corrupção? Na sua perspetiva, quais são os maiores problemas que Portugal enfrenta neste momento?
Além de um Governo socialista? A perda da soberania, ano após ano. Nós cada vez mais somos subsidiodependentes, é aquilo em que Portugal se está a tornar. Não temos uma política sustentável do ponto de vista económico, não se pensa o país a cinco ou 10 anos sequer, pensa-se ano após ano, pensa-se em como manipular os números para dizer que temos um crescimento que comparativamente aos restantes é miserável mas que, para o que passa na comunicação social, já é aceitável.
Pensa-se em tapar o buraco dos anos anteriores e pensa-se em anos de eleições. E acredito piamente que se não se começar a pensar o país a médio e longo prazo, todo o outro tipo de bandeiras que por vezes eu vejo a ser defendidas, que acho muito importantes, como as do Ambiente, da evolução do país no sentido da modernização digital, são inúteis.
“Se não se começar a pensar o país a médio e longo prazo, todo o outro tipo de bandeiras que por vezes eu vejo a ser defendidas, (…) como as do ambiente, da evolução do país no sentido da modernização digital, são inúteis”.
E o Chega não assenta o seu programa eleitoral nessas bandeiras por esse motivo, ou porque não está preparado para assumir determinadas posições?
Eu não posso responder em nome das pessoas que fizeram o programa eleitoral do partido. São pessoas que eu conheço e que estimo muito mas que, como deve calcular, não posso responder em nome delas. No entanto, sei que há várias pessoas, não só na direção nacional mas noutro tipo de cargos, que se preocupam bastante com esses temas. Inclusive temos um membro, que é o Pedro Frazão, que toca muito nesse tema do Ambiente. O tema não está esquecido e o nosso gabinete de estudos trabalha nesses temas.
No entanto, no nosso programa, e penso que com o objetivo de ser simples e fácil de compreender para as pessoas, pode não estar tão discriminado esse tipo de assuntos quanto algumas pessoas acham necessário. No meu caso, eu penso que é uma consequência das outras políticas que temos e não o primeiro passo.
Mas no programa eleitoral do Chega encontramos medidas muito específicas, desde a castração química até à prisão perpétua…
O nosso foco sempre foi muito à volta da Justiça e, nesse sentido, combater a impunidade criminal, de maneira que talvez por isso esteja mais explícito nesses pontos. Mas sem dúvida que é algo que está a ser estudado e que nós temos em conta.
Alguma vez ponderou aderir a outro partido?
Não, porque tenho pessoas próximas de mim que pertencem a esses partidos, sempre tive, bastante próximas, algumas das quais com cargos de liderança até. E não vou dizer que sei perfeitamente, uma vez que só dentro das organizações é que se sabe, mas tenho uma ideia bastante clara acerca do funcionamento desses partidos e não me identifico com o mesmo. Não só ao nível das juventudes partidárias, mas também pelo tipo de gestão que é feita nesses mesmos partidos, sendo que aquilo é um bocadinho mais um jogo de interesses, distribuição de cargos e favorecimento de x ou y… E a mim isso não me atrai.
E no Chega isso não acontece?
Eu ainda não verifiquei isso no Chega. Já verifiquei algumas tentativas, pelo que tenho visto em algumas distritais, como é lógico, nenhum partido é perfeito, principalmente um com dois anos de existência e que está sempre susceptível de ser infiltrado. Mas do que eu tenho visto, quando há tentativas desse tipo de ações são sempre paradas. De uma maneira ou de outra.
Este ano, no âmbito da primeira participação do Chega em eleições autárquicas, têm sido denunciadas muitas ligações familiares, nomeadamente em várias concelhias do partido. Recentemente, um jornal local noticiou que um ex-autarca, preso por corrupção, presidia à Comissão de Honra do Chega de Vila Verde. O nome dele é António Cerqueira e foi condenado a seis anos de prisão por três crimes de peculato, três de falsificação de documentos e um crime de abuso de poder. Tinha conhecimento?
Tive conhecimento talvez na mesma altura da notícia. O comentário que eu tenho a fazer é que mais uma vez se verifica que o Chega e o dr. André Ventura são coerentes com aquilo que defendem. O dr. André Ventura não consegue estar com as informações ao minuto no país inteiro e também está sujeito à falha. Neste caso, a falha foi não ter chegado a informação ao dr André Ventura. Mal ela chegou, as ações foram tomadas e esse senhor foi afastado, como é lógico, porque o Chega e os seus militantes defendem acima de tudo o escrutínio de todo o tipo de ações, de tudo o que possa envolver a gestão pública e de tudo o que possa interferir com a vida dos portugueses. Há concelhias que, se for preciso, são formadas há seis meses… Com pessoas das quais não temos muitas referências. E é normal que as mesmas estejam sujeitas a erros e a serem controladas por pessoas não tão idóneas.
“Há concelhias que, se for preciso, são formadas há seis meses… Com pessoas das quais não temos muitas referências. E é normal que as mesmas estejam sujeitas a erros e a serem controladas por pessoas não tão idóneas”.
Mas tendo André Ventura como figura principal na tomada de decisão… Aliás, disse agora que quando a informação chegou a André Ventura foi logo revertida. Não considera que a filtragem dos membros deveria ou não ser feita antes de estes começarem a ocupar os cargos?
Sem dúvida… Eu compreendo perfeitamente essa crítica e faz todo o sentido. Agora, o que as pessoas têm que entender é que nós temos um partido que cresceu em dois anos o que muitos partidos não cresceram em décadas e que o nosso orçamento é para um deputado. O partido não tem estrutura para o número de militantes que tem e muitas das pessoas que acabam por ter alguma responsabilidade nem sempre são as mais corretas.
Isso acontece com todos os partidos. Temos autarcas candidatos que já foram condenados por corrupção no PS, no PSD, no Bloco de Esquerda. Temos ex-terroristas das FP-25 que eram candidatos a Câmaras Municipais… Se eu concordo? Não. É algo que o Chega quer mudar? Sem dúvida. E por isso é que o Chega se diz anti-sistema. Agora, enquanto o partido for assim tão recente estamos sempre suscetíveis de cometer falhas dessas… Se me perguntar se me deixa contente esse tipo de notícias, como é lógico, não. Isso é tudo o que eu abomino e tudo o que eu sei que o meu partido abomina.
“Nós temos um partido que cresceu em dois anos o que muitos partidos não cresceram em décadas e que o nosso orçamento é para um deputado. O partido não tem estrutura para o número de militantes que tem e muitas das pessoas que acabam por ter alguma responsabilidade nem sempre são as mais corretas”.
Quem defende algo diferente de André Ventura tem ou não espaço dentro do Chega?
Sem dúvida que tem todo o espaço. Nós temos um partido muito plural, temos pessoas muito mais para a vertente nacionalista, outros que são democratas-cristãos, outros que são mais liberais. Temos ali todo o tipo de sensibilidades e as pessoas convivem de maneira saudável. Simplesmente, como em qualquer sociedade, uma troca de ideias, mesmo sem ser com expressões politicamente corretas, pode ser sempre educada, estruturada e saudável. Há pessoas que discordam do doutor André Ventura e que, se o souberem expor de maneira correta, educada e nos locais certos, continuam a ter todo o sucesso dentro do partido.
Qual é a sua posição relativamente à pena de morte?
Eu sou contra a pena de morte.
E a castração química?
Sou a favor.
Quer desenvolver?
Claro que sim, até porque são perguntas às quais sou sujeito muitas vezes e, portanto, tenho toda a facilidade em responder. Em relação à pena de morte, sou contra porque considero que a vida humana é inviolável, desde a sua concepção até à morte, e penso que não deverá ser nenhum Estado ou tribunal a decidir sobre a vida de uma pessoa. No que toca à castração química, o que eu defendo e o que o partido defende é que, caso uma pessoa tenha esse tipo de problemas de pedofilia e esteja disposta a sujeitar-se à castração química para reduzir a pena, poderá fazê-lo. Não será por obrigação, nem por imposição de quem quer que seja. Acho que não é algo assim tão cruel como as pessoas às vezes querem fazer parecer.
“Sou contra a pena de morte porque considero que a vida humana é inviolável, desde a sua concepção até à morte, e penso que não deverá ser nenhum Estado ou tribunal a decidir sobre a vida de uma pessoa”.
E a prisão perpétua…
Eu considero que a prisão perpétua é algo que em Portugal, caso fosse implementada, se calhar nos últimos 20 anos teríamos duas ou três pessoas que estariam sujeitas à mesma. Portanto, eu acho que é uma questão que é importante mas que não é muito representativa da nossa realidade, graças a Deus.
André Ventura e o Chega foram condenados em tribunal devido às ofensas dirigidas a membros da família Coxi, a quem chamaram de “bandidos” e “bandidagem”. Esta é uma atitude com a qual se identifica?
Eu penso que foram mal interpretadas as palavras do dr. André Ventura, mas também penso que tinham tudo para ser mal interpretadas. Isso digo-lhe já. Se eu me revejo… Como eu lhe disse, e acho que já referi duas vezes, eu sou totalmente contra o politicamente correto. E para mim, a partir do momento em que um Presidente da República, em vez de dar apoio às forças de segurança, dá apoio a alguém que efetivamente… Um deles pelo menos era, isso está provado, os restantes não sei, também não ando a investigar a vida dessas pessoas, era bandido… Eu acho normal que um líder político se refira às pessoas pelo que elas são.
“Um deles pelo menos era, isso está provado, (…) era bandido. Eu acho normal que um líder político se refira às pessoas pelo que elas são”.
Mas considera ou não que foi dito de forma pejorativa?
Eu considero que, como é lógico, depois de as ações serem feitas é sempre fácil julgá-las e pensar se há uma maneira ou outra melhor de as fazer. Agora, se eu acho que foi algo errado… Não. Se poderia ser um bocadinho mais correto? Sim.
O que são “portugueses de bem”? Identifica-se com essa terminologia?
Sem dúvida que me identifico. E acho que segregar nunca é bom, em 99% dos casos, mas neste caso acho que é essencial. Para mim, um português de bem é uma pessoa que põe a sua família e o seu país em primeiro lugar, que sabe perfeitamente que se não der um contributo ativo para esta sociedade, seja através do trabalho, da formação, da mínima cordialidade social e do respeito pelo próximo, que o país vai desmoronar-se. E já esteve mais longe disso. Um português de bem é alguém que está perfeitamente integrado na sociedade e que, se quer mudar a sociedade, vai fazê-lo através de uma maneira democrática e estruturada e não através de manifestações violentas, a viver à margem da sociedade…
“Um português de bem é uma pessoa que põe a sua família e o seu país em primeiro lugar. (…) É alguém que está perfeitamente integrado na sociedade e que, se quer mudar a sociedade, vai fazê-lo através de uma maneira democrática e estruturada e não através de manifestações violentas”.
E a sociedade está aberta à integração de todas as pessoas?
Eu considero que sim. Desde que faça sentido para a sociedade. Nós temos que pensar sempre na sustentabilidade da sociedade e, acima de tudo, a política tem que ser feita para as maiorias e não para as minorias. Temos que tentar integrar as minorias na nossa sociedade, sem dúvida, dentro do possível, desde que não vá contra a nossa maneira de estar e os nossos alicerces morais.
Considera que o Chega não discrimina com base na etnia, na orientação sexual?
Considero. Eu, enquanto pessoa, nunca o fiz. E das pessoas de quem eu me rodeio no Chega nunca ouvi um insulto homofóbico, racista…
E relativamente aos militantes do Chega que agrediram homossexuais em Viseu?
Eu vi essa notícia, mas li na diagonal. Para ser sincero, não tenho os dados todos nem tenho como os interpretar, mas se no meio de 30 mil habitantes temos pessoas que vão contra a nossa linha ideológica e outras parâmetros… Sim, sem dúvida. Nunca na vida podemos ser responsabilizados por essa questão. E digo mais, se não fossem militantes do Chega e fossem de outro partido qualquer, nunca na vida na notícia estava lá a dizer “militante do PS” ou “militante do BE”.
“A política tem que ser feita para as maiorias e não para as minorias. Temos que tentar integrar as minorias na nossa sociedade, sem dúvida, dentro do possível, desde que não vá contra a nossa maneira de estar e os nossos alicerces morais”.
O Chega tem um discurso muito crítico em relação aos “subsidiodependentes” do Rendimento Social de Inserção (RSI) que associa insistentemente às pessoas de etnia cigana. De acordo com os dados disponíveis, porém, apenas 3,8% dos beneficiários de RSI são pessoas de etnia cigana. De resto, um terço dos beneficiários são menores de idade e, portanto, não podem trabalhar. Porque é que o Chega se bate tanto por esta causa?
Começando pela questão dos ciganos, apesar de ser uma percentagem pequena de quem recebe os subsídios, acaba por ser muito superior às restantes face à população cigana. Pode não ser representativo para o país todo, mas é um mau princípio.
No que toca aos restantes, eu percebo a questão e percebo a interpretação que muitas pessoas têm dessa questão. O Chega é contra os subsidiodependentes não só pelo encargo que esses dão ao Estado, porque tal como disse o encargo que dão ao Estado pode não ser assim tão relevante. Mas o Chega preocupa-se com os indivíduos e sabe que uma vida de subsidiodependência vai renegar o individuo à mediocridade e às más condições de vida até à sua morte. E é nesse sentido que o Chega quer que as pessoas sejam produtivas e que estejam integradas numa sociedade de maneira a acrescentarem valor.
Há muito pouca informação vinda do seu partido relativamente à Educação. Posso apresentar-lhe, por exemplo, esta citação de Diogo Pacheco de Amorim: “As propinas a pagar por um curso de Engenharia Civil ou Informática terão necessariamente de tender para zero, enquanto que as propinas a pagar por um curso de Sociologia terão de tender para o custo real do curso.” De acordo com o vice-presidente do Chega, se os cursos de Ciências Humanas e Sociais forem mais caros, “o mercado também nisto funciona” e as pessoas tenderão a escolher cursos em que não seja preciso “só pensar umas coisas”. Na medida em que integra uma comissão instaladora de uma juventude partidária, qual é a sua posição relativamente às propinas? Abolir, aumentar, diminuir?
Agradeço-lhe desde já essa citação e concordo. Não vou dizer que tenho uma opinião tão vincada no que toca a em alguns casos se aproximar do zero e em outros ser o valor completo, mas sim, devem divergir. Eu penso que o objetivo maior deve ser sempre a nossa autorrealização e bem-estar pessoal, mas no fundo estarmos também integrados na nossa sociedade e contribuirmos de maneira útil. De maneira que, a partir do momento em que precisamos de pessoas numa série de áreas, devemos dar essa formação às pessoas com um custo muito reduzido. Enquanto que há outro tipo de cursos que, por muito que sejam interessantes ao nível cultural, do ponto de vista prático são inúteis.
Mas isso não seria também uma segregação? Estava a dizer há pouco que não gostava de segregar…
Eu penso que não, porque há bolsas. E penso que não deve deixar de haver bolsas de mérito e, quem tiver mérito, deve ter os estudos sempre comparticipados. E é para isso que existem as bolsas, é para tentar fomentar aquilo que é o chamado “elevador social”.
“As mulheres não têm tanto interesse, ou até apetência, para desempenhar cargos políticos”
Frederico Santana não foge daquela que é linha do partido: não se identifica com o feminismo, considera que as diferenças salariais entre homens e mulheres estão “completamente apaziguadas” e acha “ridículo a definição de qualquer tipo de quota”. Até porque não considera “que haja grande discriminação”, justificada pela presença de “mulheres em cargos de liderança”.
Recomende um livro e explique porquê.
Essa pergunta agora… Eu aqui vou mesmo ser institucional. Recomendo o livro “A nova direita anti-sistema. O caso do Chega”, do Riccardo Marchi. Para as pessoas poderem perceber um bocadinho mais o que é que é o Chega, as pessoas que o compõem, a verdadeira história e aquilo que defende.
É feminista?
Eu não me identifico com essas correntes ideológicas, de maneira nenhuma…
Quais correntes? Apenas o feminismo ou mais alguma?
O feminismo… Não me identifico. Considero que existem diferenças evidentes entre o homem e a mulher, que têm todas as qualidades necessárias, tanto um como o outro, para estarem integrados na sociedade, seja em que missão for…
Existem diferenças nos salários, por exemplo. Ainda há mulheres a ganhar menos do que homens…
Eu acho que isso está completamente apaziguado. E como deve calcular, se o homem está numa profissão de risco muito superior, vai ter um ordenado maior e se uma mulher está numa posição de risco inferior tem um ordenado menor…
Estamos a falar de homens e mulheres que exercem os mesmos cargos, mas com remunerações díspares…
Eu não tenho aqui os dados presentes comigo agora, mas creio que isso é uma questão muito pouco significante no nosso país e na maior parte dos países da Europa. Posso estar enganado, mas nos últimos dados que eu consultei não me parece que seja algo representativo.
Não considera ser necessário implementar medidas específicas para as mulheres de forma a promover uma maior igualdade de oportunidades, de salários?
Eu acho que as medidas específicas prendem-se mais em questões como a mulher querer criar uma família, ter filhos e, eventualmente, poder ser discriminada no local de trabalho. Isso aí dou todo o meu apoio. Temos que ter em conta, como eu disse, as diferenças entre os homens e as mulheres e isso é uma das diferenças fulcrais. Especialmente com a taxa de natalidade que temos em Portugal, que é cada vez menor, e com o envelhecimento populacional, temos que ter medidas no sentido de permitir às mulheres, caso queiram criar uma família, o fazerem. Agora, do resto… Não me parece que haja grande discriminação. Há mulheres em cargos de liderança.
Mas, por exemplo, na questão da política. Eu acho completamente ridículo a definição de qualquer tipo de quota. Agora para as eleições autárquicas, devido à quota que existe para a presença de mulheres, muitas vezes têm que estar a ir para lá as mulheres das pessoas a, b ou c. Ou tem que ir a prima ou a sobrinha. Porque as mulheres efetivamente não têm tanto interesse, ou até apetência, para desempenhar cargos políticos. A sociedade até pode mudar, mas agora não têm…
Não têm tanta apetência?
Não têm apetência, não têm interesse…
Mas acha que isso é uma condição biológica?
Eu acho que a liderança se vai desenvolvendo ao longo da vida. Claro que também há pessoas que nascem mais líderes do que outras, mas vai-se desenvolvendo… Mas isto, não me pergunte porquê, também não o estudei, mas verifica-se que há uma maior apetência dos homens para desempenhar cargos políticos. Eu nem digo capacidade, eu conheço uma série de mulheres na política que são melhores do que muitos homens. A questão nem é essa. Mas também, se for ver, não há mulheres interessadas em trabalhar nas obras.
Mas aí sim, estamos perante uma questão biológica…
Então, mas se quer entrar pela questão biológica, tudo é uma questão biológica. Isto não se vê só a levantar ferros, vê-se nas ações psicológicas que nós tomamos no nosso dia-a-dia.
É uma questão biológica as mulheres terem “menos apetência” para desempenhar cargos políticos?
Exato. Eu penso que, lá está, não há nenhum entrave hoje em dia na sociedade a uma mulher se juntar a um partido político ou a liderar um partido político.
Referiu-se várias vezes à comunicação social ao longo desta entrevista, em tom crítico. O seu partido tem uma relação hostil com a comunicação social. Entende-a como uma ameaça?
Eu acho que a comunicação social não tem que ser nem amiga nem inimiga. Tem que ser completamente imparcial. Agora, o que eu não respeito e que não me agrada nada e que acontece cada vez mais é que a comunicação social dê já os pensamentos escritos ou falados às pessoas. A comunicação social deve dar os factos. E os factos têm que ser mesmo os factos.
Agora, que é essencial haver jornalismo, isso é óbvio. Mas mais essencial é haver jornalismo independente. E o que me assusta ainda mais e que se verifica muito contra o meu partido – e por isso é que há pessoas que ficam irracionais e que lançam alguns ataques – é a falta de cumprimento do vosso Código Deontológico. Há jornalistas em que até se vê a cara de raiva a falar connosco. E isso é algo com o qual não podemos compactuar.
E quanto ao jornalismo de verificação de factos?
O jornalismo de verificação de factos, nomeadamente em Portugal, para ser sincero, assusta-me um pouco. Porque eu acredito que a verdade é algo incontestável. Não interessa a posição da pessoa, não interessa a ideia que tem, a verdade é a verdade. E acredito que não deve ser uma empresa ou uma associação de jornalistas a definir o que é a verdade ou a mentira. Cada cidadão, com o seu pensamento crítico e a sua capacidade de investigação, devia, se quer saber o que é a verdade, investigar um bocadinho sobre a mesma.
Questionário de Proust
“A pessoa viva que mais desprezo é o Eduardo Ferro Rodrigues”
Neto de Vasco Santana, pessoa viva que mais admira, admite, entre risos, que não gostaria de ser “socialista”. Com as respostas na ponta da língua, Frederico Santana revela, a algumas perguntas selecionadas do conhecido questionário de Proust, que gostaria de ser “uma pessoa que pudesse mudar o país para algo melhor”, que aprecia “lealdade” e que a personagem história que mais odeia é Estaline. Segundo o seu lema de vida, o jovem político não deixa “nada por fazer nem nada por dizer”.
Qual é o seu principal defeito?
Teimosia.
E a sua principal virtude?
Lealdade.
O que é que mais aprecia num amigo?
Lealdade também.
Qual é a pessoa viva que mais admira?
O meu avô, Vasco Santana.
E a que mais despreza?
Eduardo Ferro Rodrigues.
O que é que mais gosta de fazer?
Passar tempo com a família…
Um escritor de prosa…
Tenho algumas referências mas não tenho algum que possa eleger como o meu favorito…
E um poeta?
Miguel Torga.
Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.
“O futuro depende da nossa ação de hoje”.
Lema de vida
Não deixo nada por fazer nem nada por dizer.
Um país para viver…
Portugal.
E uma flor para plantar…
Não tenho resposta para essa pergunta… gosto muito de flores mas não tenho nenhuma favorita.
Que talento não tem e gostaria de ter?
Cantar. Gostava muito de saber cantar.
E extravagâncias? Tem?
Penso que não, não tenho grandes extravagâncias. Sou uma pessoa simples.
O que é que gostaria de ser?
Uma pessoa que pudesse mudar o país para algo melhor. É o que estou a tentar fazer..
E o que é que não gostaria de ser?
Socialista.
Algum pintor de eleição?
Não… Gosto de arte mas não tenho grandes referências de pintores.
Uma personagem histórica que odeie.
Estaline.
Como gostava de morrer?
Na tranquilidade do leito, acompanhado pela minha família.
E o seu estado de espírito atual?
Muito motivado a lutar pelos meus compatriotas.
__________________________________________
Outras entrevistas Sub-30 publicadas pelo Polígrafo: