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“As mulheres têm um pensamento mais conservador, mais maternal…”

Este artigo tem mais de um ano
O que faz um jovem de 24 anos filiar-se num partido marcadamente conservador? Justamente duas das bandeiras mais emblemáticas do partido: aborto e eutanásia, já que a vida "é um valor inegociável". Carlos Mariano Carvalho veio de Cascais e é o quarto desta série de entrevistas feitas pelo Polígrafo a jovens políticos. Católico praticante, considera que as mulheres são complementares aos homens na política por estes alegadamente serem mais propensos ao "risco". Confesso defensor da verdade na política, admite que já experimentou canábis, porque "não há que ter vergonha de o dizer".

Como é que surgiu a vontade de se juntar à Juventude Popular (JP)?

Entrei na política e o primeiro contacto que tive foi com a JP, onde tenho trilhado o meu caminho. Foi com 16 anos e com aquele sentimento dos jovens de querer fazer, de querer levar as coisas para a frente. Sempre tive também esse sentimento um bocadinho reivindicativo dentro de mim, tendo decidido procurar dentro do espectro político, daquilo em que eu acreditava, também falei com muitos amigos meus e estávamos ali à procura de ter um papel mais ativo em termos políticos, no sentido de perceber mais. E as juventudes partidárias também são escolas de pensamento.

Mas porque é que escolheu a JP e o CDS? Influências familiares, vivências no liceu…

Falei com amigos que estavam fora da JP, porque no fundo aquilo que eu fiz no início foi também procurar aquele partido que me representava melhor, dadas as minhas convicções, e tive esse cuidado de perceber, efetivamente, o que é que cada partido defendia. E, essencialmente, além dos valores, houve também uma coisa de que eu gostei muito na JP que foi a forma como fui acolhido. E aqueles que não eram meus amigos à data, quando eu me sentei com eles, o acolhimento que tive, a abertura que tive para participar, para integrar uma comissão política naquele caso, muitas vezes sem sequer saber os conceitos básicos, foi um bocadinho o learn by doing. E isso foi uma das coisas que mais me fez escolher o CDS.

“As juventudes partidárias também são escolas de pensamento”.

Recuando até essa altura em que tinha 16 anos, recorda-se do programa político do CDS? 

Entrei após as eleições autárquicas de 2013, uma altura em que até a própria campanha, neste caso do “Viva Cascais”, que é a coligação da minha terra, foi super dinâmica, foi super chamativa. Ou seja, havia uma presença de muitos jovens na rua e isso fez-me também querer dar o meu contributo. E foi também uma altura, como nós sabemos, em que tínhamos um Governo de coligação PSD/CDS, numa altura que não era efetivamente fácil, em que se viviam tempos de austeridade.

É lógico que há diferenças entre aquilo que éramos e aquilo que somos hoje. Não em termos de valores ou daquilo que são as linhas orientadoras do pensamento do partido, mas porque é claramente diferente aquilo que eram as políticas económicas em 2014/2015 do que poderiam ser hoje. E aquilo em que nós acreditamos enquanto políticas liberais, que é um dos pilares do CDS, o liberalismo económico, é lógico que estaria condicionado pelo facto de vivermos num período de austeridade e onde o peso do Estado nas famílias seria muito maior do que aquilo que nós idealizaríamos. Agora, em termos de causas sociais era exatamente o mesmo. Isso também foi uma questão que me marcou muito e fala-se de causas sociais, ou seja, a parte mais conservadora do partido: aborto, eutanásia e essas posições mais vincadas do CDS que continuam e que são transversais aos tempos de hoje.

Relativamente a esses valores em questões como o aborto e a eutanásia, acha que o CDS poderá alguma vez mudar de posição no futuro?

Há valores que são inegociáveis e a vida é claramente um deles. No fundo, é aquilo que se diz muito, que “o CDS tem que ser aquilo que se espera” e aquele partido previsível, digamos assim, que as pessoas e o eleitorado do CDS, onde eu me incluo, esperem. Que estes valores sejam constantes. Eu espero que com a evolução do tempo, o valor da vida não passe a ser negociável. E que o CDS seja um ponto intransigente neste caso e continue a ser aqui um baluarte da defesa nestas causas pelas quais muitas vezes lutou sozinho.

Mas é normal que alguns valores possam acompanhar a evolução dos tempos…

É lógico que as coisas evoluem, há novas formas de pensamento e certamente muitas vezes, em muitas discussões com amigos, e não é certamente a posição mais cool, muitas vezes me acusavam de ter palas nos olhos ou o que quer que fosse. E eu sempre disse que o ser conservador é o acreditar nestes valores… Ou seja, um conservador não é uma pessoa avessa à mudança. É uma pessoa que acredita na mudança sustentada, ou que não é avessa ao progresso. Alguém que acredite num progresso sustentado e não no experimentalismo social e, principalmente na questão da vida, eu acho que é mesmo inegociável e que, com toda a evolução que haja, o CDS tem que continuar a ser intransigente.

“Um conservador não é uma pessoa avessa à mudança. É uma pessoa que acredita na mudança sustentada”.

Intransigência que pode resultar do facto de o CDS ser um partido religioso. É religioso? Católico praticante?

Sim, eu sou católico praticante e acho que isso é também uma das grandes valências do CDS, que é nós podermos estar num encontro partidário e termos pessoas de várias religiões. Ou seja, essa ideia que se criou de que o CDS é só e apenas católico, ou o que quer que seja, não é de todo verdade. Nós temos pessoas de várias religiões, pessoas que não acreditam ou que preferem não manifestar os seus credos, e eu acho que isso é uma das coisas que também é boa no CDS e que também, muitas vezes, é importante desconstruir: cria-se um militante-tipo do CDS ou da JP que, muitas vezes, não é aderente àquilo que é a realidade.

Frederico Santana, 27 anos, coordenador da Comissão Instaladora da Juventude Chega e o segundo da série de entrevistas que o Polígrafo fez a seis jovens políticos nascidos entre a década de 1980 e o início do novo milénio, compara a "falta de interesse" das mulheres pela política com a falta de apetência que também demonstram em trabalhar na construção civil. Para a jovem esperança do Chega, que reconhece não ter escritores ou pintores de eleição, a questão da igualdade feminina é um tema "apaziguado". A sua prioridade é outra: "Lutar pelos meus compatriotas."

Considera que o CDS é um partido pluralista?

Completamente… Nós até temos pessoas no partido, nós somos um partido em que um dos pilares é a democracia-cristã. E temos pessoas de todas as religiões.

Carlos Mariano Carvalho
Fotos: Pedro Mensurado

Há divergências entre a JP e o CDS? Estamos a falar de um partido com bandeiras conservadoras e de uma juventude partidária formada por uma geração mais aberta a novos ideais…

Essencialmente, eu acho que é importante partirmos da premissa de que a JP é um órgão autónomo do CDS. Portanto, nós temos a nossa autonomia, que nos está conferida pelos nossos estatutos, é importante ter isso como ponto de partida. Apesar da nossa ligação natural, seja por via da matriz ideológica, porque partilhamos os mesmos pilares ideológicos, a verdade é que nós temos a nossa autonomia. E isso é bom porque é lógico que há divergência e é bom haver divergência – quando digo divergência é uma divergência no bom sentido, atenção -, porque nós somos jovens, temos um pensamento que certamente poderá ser diferente e, essencialmente, aquilo que nós tentamos fazer é olhar para os pilares do partido e fazer aquilo que nos compete, que é encontrar respostas para os jovens e traduzi-los em ideias concretas… A partir daí apresentamos medidas ao grupo parlamentar, apresentamos medidas ao partido, sempre num estilo colaborativo porque, no fundo, o sucesso do CDS é o sucesso da JP.

“Cria-se um militante-tipo do CDS ou da JP que, muitas vezes, não é aderente àquilo que é a realidade”.

E quais são essas medidas, em específico? Medidas com enfoque nos jovens…

Posso indicar várias medidas que temos. Por exemplo, nós fomos eleitos em congresso agora, a nova comissão política nacional, e apresentámos uma moção de estratégia global que contemplava 10 temas base para aquilo que era a nossa estratégia da JP. E nós conseguimos fazer aquilo que muitas vezes falta aos partidos políticos, que é olhar para os partidos e para a nossa matriz ideológica e traduzi-la em propostas concretas…

Nascidos entre a década de 1980 e o início do novo milénio, seis jovens políticos entrevistados pelo Polígrafo estão a viver a terceira crise de que têm memória. Se já na crise financeira de 2008-09 e no período de resgate da "troika" começavam a surgir as dúvidas, durante a pandemia de Covid-19 a geração a que pertencem confirmou que irá viver pior do que a dos seus pais. Em vésperas de eleições autárquicas, António Azevedo, 25 anos, membro da Comissão Política da Juventude Comunista Portuguesa, é o primeiro desta série. Com um discurso que em pouco ou nada diverge daquele que é utilizado pelos seus camaradas mais velhos, o jovem explica o que o motivou a aderir a um partido centenário - e, na boa tradição comunista, diz estar "disponível" para as tarefas que o "coletivo" decidir atribuir-lhe.

Tais como…

Como por exemplo, na questão da família – uma questão para a qual olhamos muito porque os jovens querem constituir família e muitas das vezes não podem -, nós pensamos em bonificações de empréstimos para a compra de casas para famílias com dois ou mais filhos. Ou ainda que 100% da licença de maternidade e paternidade seja comparticipada. Isto são pontos essenciais para dar estabilidade às novas famílias, para se estabilizarem.

Depois a questão da educação também nos parece fundamental e, quando falamos de educação, há uma questão que é a educação e a liberdade que muitas das vezes é colocada em causa. Nomeadamente com aquela questão do pai de Famalicão que queria escolher o melhor projeto educativo para os seus filhos e que se deu uma purga, digamos assim, pelo senhor secretário de Estado da Educação, ao dito pai que, efetivamente, não queria que os filhos frequentassem a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. E nesse caso temos uma proposta muito concreta que é o cheque de ensino, que já foi várias vezes abordada, tanto pela JP como pelo CDS.

Ainda na parte da educação, nós também temos propostas, principalmente uma delas super atual, que é a questão da saúde e da saúde mental, que está muito interligada aos jovens e com a parte da educação. Há muitos estudos que nos dizem que o efeito da saúde mental nos jovens, principalmente na educação, tem sido bastante grande no pós-pandemia Defendemos, por exemplo, o reforço do número de psicólogos nas escolas, que é manifestamente insuficiente.

Podia indicar aqui várias outras medidas, como por exemplo no campo da corrupção, nós propomos o alargamento da prescrição das penas por corrupção para 20 anos…

Nesse caso não especificamente relacionado com os jovens…

Não, mas também é direcionada aos jovens. Há uma falta, os jovens muitas vezes não credibilizam o sistema político muito também por questões de corrupção.

O que é que entende por “meritocracia”? As condições sociais e tudo o que pode influenciar o processo de evolução até à nomeação para um cargo são ou não relevantes?

É claro que há essa influência. No fundo, aquilo que eu entendo por meritocracia é dar lugar ao mérito. Mas há aqui uma questão que eu acho que é importante: a igualdade de oportunidades. No ponto de partida e não no ponto de chegada. Isto é, por exemplo, falando no elevador social, nós temos que dar as mesmas oportunidades a todas as pessoas no ponto de partida e não no ponto de chegada. Todos nós temos que ter acesso a uma educação de qualidade. E para a meritocracia tem que ser exatamente a mesma coisa. Isto atenuando aquelas questões sociais de que falava.

Ou seja, é claro que tem a sua influência, mas temos que garantir que uma pessoa que ande, por exemplo, nos Salesianos do Estoril, que é uma das melhores escolas do país, e uma pessoa que ande numa escola pública tenham direito ao mesmo nível de educação. Nesta questão do mérito, vemos muitas vezes pessoas escolhidas para cargos por amizades, por clientelismos, pelo cartão partidário…  E essencialmente, o critério que deve ser utilizado, é o mérito dessa pessoa.

Catarina Ferraz é a mais nova desta série de entrevistas. Tem 22 anos, os mesmos que o Bloco de Esquerda leva de existência. Candidata à Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão nestas autárquicas, considera que enquanto mulher pode fazer a diferença na política, dando voz "a quem a não tem". Diz que o que menos gostaria na vida era de ser odiada, um sentimento extremo que no seu caso pessoal é direccionado para duas figuras históricas: Mussolini e Salazar.

E no CDS é isso que acontece? É garantida essa forma de subir dentro do partido? Por mérito? Nomeadamente agora nas eleições autárquicas, nas concelhias locais…

Eu falo da minha experiência enquanto militante da JP e do CDS. A verdade é que as pessoas muitas vezes têm uma ideia de um “House of Cards” em versão pequena e a verdade é que, até hoje, não encontrei qualquer tipo de parecença com essa realidade. Quer se acredite ou não, a realidade é bastante diferente e, no meu caso, por exemplo, foi o primeiro processo autárquico a que eu estive ligado e vi mesmo isto. Vi pessoas empenhadas, que conheciam a sua terra, pessoas com mérito a assumir os seus cargos. É claro que em 252 candidaturas apresentadas, é lógico que é difícil fazer essa filtragem. Mas é exatamente para isso que existem estruturas locais, estruturas distritais, coordenadores autárquicos que têm esse trabalho. Para mim, além do mérito e em questões autárquicas, acho que é importante a ligação à terra, o facto de uma pessoa que se candidata a uma autarquia conhecer as pessoas, conhecer os problemas.

Carlos Mariano Carvalho

Disse que para existir a “meritocracia” temos que garantir uma educação de qualidade para todos. Como é que o CDS pensa fazer isso? Privatizando tudo? 

Eu acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra. E a verdade é que o CDS consegue combinar uma corrente mais liberal com uma corrente mais conservadora, resultando também em medidas mais ponderadas. Isto nunca resultaria nem numa privatização de todo o sistema de ensino, nem numa nacionalização do sistema de ensino.

Defende portanto o atual modelo, ficar como está…

Não, não. Porque o que é que acontece hoje em dia? Há uma escola para pobres e uma escola para ricos. Ou seja, uma pessoa que não tenha meios próprios, está condenada, digamos assim, porque há grandes exemplos de escolas públicas, mas apenas têm à sua escolha esse tipo de escola. Uma pessoa que tenha meios, pode escolher entre a escola pública e a escola privada, pode escolher o projeto educativo para o seu filho. E aqui eu acho que é importante dar liberdade de escolha às pessoas e não criar, à partida, esta divisão de classes. E então trazemos aqui aquela questão que é o cheque de ensino, que já foi mais do que abordada e dá às escolas a obrigação de terem que se desenvolver, os seus currículos, os seus espaços. Mesmo dentro das escolas públicas, desenvolverem os seus programas, dar mais autonomia às escolas para poderem ter o maior número de alunos e depois isso terá também o seu impacto naquilo que receberá em termos financeiros…

“Há uma escola para pobres e uma escola para ricos. Ou seja, uma pessoa que não tenha meios próprios, está condenada. (…) Uma pessoa que tenha meios, pode escolher entre a escola pública e a escola privada, pode escolher o projeto educativo para o seu filho. E aqui eu acho que é importante dar liberdade de escolha às pessoas e não criar, à partida, esta divisão de classes”.

Mas sendo uma escolha pessoal e partindo do princípio de que as escolas privadas são dotadas de melhores condições, não seria previsível que todos os pais recorressem ao cheque de ensino para colocar os filhos numa escola privada?

Isso obrigaria também as escolas públicas a quererem ser melhores e traz também um conceito que é muitas vezes associado à direita que é a competitividade saudável e que faz com que as escolas tenham que se desenvolver.

Sugere que as escolas públicas entrem numa competição para se tornarem melhores ou iguais às privadas, mas para isso não bastava dar aval a um maior investimento no ensino público?

Mas nós estamos a partir aqui de uma premissa de que as escolas privadas são melhores, o que também não é totalmente verdade. Eu próprio andei em escolas públicas e foi um projeto que os meus pais escolheram para mim. A única coisa que nós queremos é que haja efetivamente uma oportunidade de escolha.

Bruno Matias, 30 anos, solta umas gargalhadas quando diz que ainda se considera um "jovem" político. Nascido na África do Sul, crescido em São Pedro do Sul e a viver oficialmente na zona sul do país, uma das suas principais bandeiras é a descentralização. Demora a apontar falhas ao Governo, mas admite que há um sério problema nos salários dos jovens. Quanto à política de "boys" no seu partido, da qual é recorrentemente acusado de fazer parte, nega que ela exista e considera que "é perfeitamente normal essa ligação para convidar pessoas".

Mas para haver uma oportunidade de escolha tem que haver uma diferença entre a escola pública e privada. Se a ideia é que se aproximem uma da outra, com base em que características é que seria feita a escolha dos pais? Proximidade ao local?

Não, mas não tem que ser a nossa morada que define a escola, não é? Tem que ser o projeto educativo que os pais querem para os filhos…

E qual é a diferença entre o projeto educativo numa escola pública e numa escola privada?

Mas é claro que há, começa nas infraestruturas que muitas das vezes são completamente diferentes, até na própria autonomia da escola. Isto parece-me importante. Aquilo que o cheque de ensino também traria era acabar com aquele sentimento de conformismo, muito estatal, que é associado à escola pública. E fazia com que as escolas tivessem que se atualizar, com que tivessem de concorrer, digamos assim, pelos seus alunos.

Há escolas que eu conheço, por exemplo, que são públicas e que são extremamente requeridas pelo seu projeto educativo e que pautam pela diferença. Nós olhamos para a Escola Secundária Dona Filipa de Lencastre e há corridas para comprar casas naquela zona. Porquê? Porque tem um projeto de qualidade. E é uma escola pública. Tem um projeto educativo que atrai os jovens. E, acima de tudo, aquilo que o cheque de ensino traria era exatamente esta necessidade de as escolas se atualizarem, competirem, atualizarem os seus currículos, as suas infraestruturas, de forma a fazer com que os alunos possam optar por uma ou por outra.

Se a ideia é incentivar as escolas públicas a uma melhoria, não poderíamos fazer isso de uma forma mais direta e apostar no investimento neste tipo de ensino?

O haver possibilidade de escolha não é mau. Porque efetivamente são diferentes, as escolas públicas e as privadas. E oferecem serviços diferentes.

Mas se uma oferece serviços melhores, como disse ao nível das infraestruturas, pergunto-lhe mais uma vez: não seria de esperar que todos os pais escolhessem o ensino privado para os filhos?

Oiça, muitas vezes não é só da infraestrutura, é também ao nível do acompanhamento dos alunos…

Os pais não vão querer que os filhos sejam acompanhados ao máximo? À partida será esse o objetivo dos pais…

Não, nem sempre… Porque se a escola pública se atualizar, os pais certamente vão querer que o filho continue na escola pública.

Portanto se a escola pública se atualizar deixam de ser necessárias as escolas privadas…

Não, claro que não. Porque são coisas completamente diferentes…. Aqui a grande premissa, que eu acho que é importante, é dar a possibilidade de escolha aos pais, que hoje em dia não há.

Carlos Mariano Carvalho

O CDS tem registado intenções de voto historicamente baixas na generalidade das sondagens. Como é que explica esta aparente incapacidade de captar e segurar eleitorado? 

Começo com uma resposta que é super clássica no CDS: as sondagens são sondagens. E a verdade é que se nós olharmos para sondagens, por exemplo, nunca mais me esqueço, nós antes das eleições europeias, com o Nuno Melo, estávamos nas sondagens com 10% a 11% e em menos de três meses tivemos 6,4%. E depois culminou nas eleições legislativas com o resultado de Assunção Cristas. E por isso é importante também ter isso como ponto de partida. Sondagens são sondagens e muitas vezes estão erradas.

Aquilo que eu acho é que efetivamente, fazendo um ponto que só me vincule a mim, acho que não estamos a conseguir passar a mensagem. Aliás, seria utópico achar… E porquê? Porque falta aquela questão que eu estava a dizer que é olhar para os nossos pilares ideológicos e para a nossa matriz e conseguir traduzi-la em propostas concretas, que as há. Mas muitas vezes não estamos a conseguir saber comunicá-las da melhor forma. E isto requer um trabalho de comunicação importante. Estamos no século XXI, há novas formas de chegar às pessoas, trabalhar as redes sociais… Esse é um ponto importante para transpor aquilo que são as nossas ideias para a sociedade em geral.

“Não estamos a conseguir passar a mensagem. (…) Estamos no século XXI, há novas formas de chegar às pessoas, trabalhar as redes sociais…”

“Antigamente dizia-se que à direita do CDS só havia uma parede, mas hoje diz-se em tom de brincadeira que, pelos vistos, a parede era de ‘pladur'”

Este aparente declínio do CDS poderá abrir portas para a criação e ascensão de novas forças políticas? Ou a queda do CDS já é uma consequência do surgimento de novas forças, algumas com um crescimento exponencial…

Antigamente dizia-se que à direita do CDS só havia uma parede, mas hoje diz-se em tom de brincadeira que, pelos vistos, a parede era de pladur. Que se partiu, efetivamente, com o aparecimento de dois novos partidos. E eu acho que isso também se explica por aquilo que foi o entendimento da anterior direção do CDS. Ou seja, em eleições autárquicas e recuando um bocadinho mais, Assunção Cristas percebeu que conseguiria, com uma estratégia mais ao centro, captar mais eleitorado do PSD, nas autárquicas em Lisboa, e decidiu transpor isso para o nível nacional. Posicionou o partido mais ao centro, fez a sua política ao centro. E aquilo que fez foi abrir espaço à direita para o surgimento de novas forças políticas, como o Iniciativa Liberal e o Chega.

A quinta dos seis jovens políticos que o Polígrafo entrevistou, Sofia Matos, 30 anos, é talvez a mais experiente deste rol. Deputada à Assembleia pelo círculo eleitoral do Porto, fez pelo PSD um percurso que não se via a fazer noutro partido, mas nem assim se mantém fiel a todas as bandeiras dos sociais-democratas. Considera ser preciso combater as desigualdades no tratamento de homens e mulheres, mas não é feminista, até porque "não é através da promoção de um sexo, de uma entidade de género, que a valorizamos". Num cenário tal qual o de hoje, não crê que o PSD se coligue com o Chega para formar Governo, mas não desconsidera a hipótese se o partido de extrema-direita "se moderar".

Mas eu acho que a grande valência do CDS é o posicionamento que está por ocupar e que nós temos que saber ocupar num futuro próximo. É aquele posicionamento de uma direita moderada que não quer privatizar tudo mas que reconhece efetivamente a importância do público e do privado e da sua cooperação. Da direita que coloca as pessoas em ponto principal e que faz política a pensar nas pessoas. Da direita que no fundo sabe dialogar, que sabe convergir e primar pela diferença. Acho que essa é a diferença, essencialmente, que o CDS deverá ter entre a Iniciativa Liberal e o Chega. Nós temos pessoas dentro de casa que são liberais e temos pessoas que são conservadoras. E sentamo-nos todos à mesa e convergimos em posições que são moderadas.

“Antigamente dizia-se que à direita do CDS só havia uma parede, mas hoje diz-se em tom de brincadeira que, pelos vistos, a parede era de pladur. Que se partiu, efetivamente, com o aparecimento de dois novos partidos”.

E uma direita moderada, como diz ser a do CDS, faria algum tipo de coligação com a extrema-direita?

Quando se fala em direita moderada, honestamente, pessoalmente, aquilo que é o meu entendimento é que nós olhamos para a esquerda e não há qualquer celeuma entre o PS fazer uma coligação com o PCP que é um partido sanguinário. Que, se nós formos a ver, o comunismo no Parlamento Europeu está equiparado ao fascismo… E aí não há qualquer tipo de celeuma. Mas se o CDS se coligasse ao Chega, então “cairia o Carmo e a Trindade”.

Quando eu falo em direita moderada, como o caso dos Açores, por exemplo, que gerou muito sururu, digamos assim, a verdade é que hoje em dia está aberta uma “caixa de Pandora” em que são precisas maiorias. E havendo compromissos, é lógico que há linhas vermelhas que o CDS nunca poderá deixar passar, nomeadamente aquelas que eu disse no início que são inegociáveis, como o valor da vida, como um partido que acredita no perdão e que nunca poderia concordar com penas perpétuas, etc. Havendo cedências de parte a parte…

Recomende um livro e explique porquê.

Eu por acaso adoro ler e leio bastante. Vou recomendar o livro que estava a ler agora na praia, que é a autobiografia do Cavaco Silva. Eu sei que é um bocado sui generis mas é o que eu estava a ler.

“Já experimentei canábis. Podia ter-lhe dito que não, mas acho que não há que ter vergonha de o dizer”

Desviando-se daquela que é muitas vezes a posição do seu partido, Carlos Mariano Carvalho diz orgulhosamente ser feminista. Colado ao PCP em matérias de prostituição e legalização da canábis, o jovem popular confessa já ter experimentado esta droga leve, dizendo que uma das coisas mais importantes na política é “nunca se mentir”.

Fale-me sobre o feminismo. Qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça?

Fantástico. Começando exactamente por aí, eu acho que é uma causa importantíssima e exactamente porque não acredito que no século XXI ninguém ache que a mulher é inferior ao homem, que tem que ficar na cozinha… Eu honestamente sou presidente da Concelhia de Cascais e estou rodeado de mulheres na minha concelhia. E a verdade é que nós ganhamos muito com o facto de termos cada vez mais mulheres nos centros de decisão, porque efetivamente têm um pensamento diferente. E muitas vezes os homens têm um pensamento mais direcionado para o risco, as mulheres um pensamento mais conservador, digamos assim, mais maternal… E a junção destes dois pensamentos acho que é importante e que acrescenta muito ao partido.

E é feminista?

Sou sim senhor.

E… prostituição?

Acredito que é importante nós olharmos não só para o fenómeno e para a legalização ou ilegalização, mas dar um passo atrás e perceber o porquê de aquelas mulheres estarem ali. De aquelas mulheres ou aqueles homens estarem ali, porque não é um tema exclusivo às mulheres, apesar de ter nelas maior incidência. E acredito que muitas vezes há causas gravíssimas em que há carências sociais, até carências sociais ao nível do Ensino Superior que têm que ser resolvidas. Esse deve ser o primeiro ponto a ter em conta.

Legalização da canábis?

Completamente compra. Até porque acredito que, além de ser uma rampa deslizante para outras drogas mais pesadas, se bem que eu não acredito muito nesta questão de drogas leves ou pesadas, tem todas as questões relacionadas com aumentar dependências de álcool… E o facto de ter muita incidência e de poder provocar depressões. Ser também aqui um veículo para efeitos de bipolaridade, esquizofrenia, que não são efetivamente positivos.

Já experimentou?

Já. É das coisas que eu acho que o que é importante na política é nunca se mentir. E agora podia perfeitamente ter-lhe dito que não, mas acho que não há que ter vergonha de o dizer.

Quem é, neste momento, na política nacional, o principal inimigo do CDS?

Eu não vejo um inimigo, eu acho que o maior inimigo do CDS neste momento são, neste caso, os partidos que restringem liberdades todos os dias e que no fundo, nós enquanto jovens, fruto das suas medidas, não conseguimos perspetivar uma vida no futuro. Digna, com família… Portanto, acho que o inimigo do CDS neste momento é a política socialista vigente em Portugal.

Carlos Mariano Carvalho

Questionário de Proust

“Não gosto daquelas pessoas que utilizaram a sua via de poder para subjugar a liberdade das outras pessoas”

Ao bom estilo da democracia cristã, Carlos Mariano Carvalho não consegue identificar alguém que despreze ou uma figura histórica que odeie. Até porque considera que “o Homem é melhor do que o seu erro”. Quanto a si mesmo, diz ser teimoso e humilde, e carrega consigo um dos sete pecados capitais: a gula. Em resposta a algumas perguntas selecionadas do conhecido questionário de Proust, o jovem político revela que gostava de aprender a tocar guitarra e que o seu lema de vida não podia ser mais comum: “carpe diem”.

Qual é o seu principal defeito?

Sou muito teimoso.

E a sua principal virtude?

Eu sei que é estranho dizer isto… mas eu diria a humildade.

O que é que mais aprecia num amigo?

Num amigo o mais importante… acho que é estar numa amizade sem estar sempre em quezílias ou o que quer que seja. Não fazer de uma amizade um género de “House of Cards“.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

A minha avó.

E a que mais despreza?

Eu acho desprezar uma palavra um bocadinho forte. Tenho um bocadinho esta filosofia de que “todo o homem é melhor do que o seu erro”.

O que é que mais gosta de fazer?

É um bocadinho cliché, aquilo do “carpe diem”, mas eu diria aproveitar a vida.

Um escritor de prosa…

Não é uma pergunta fácil… Eu diria Miguel Torga.

E um poeta?

Claramente Antero de Quental.

Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.

Uma das coisas que eu digo sempre muito em termos de Juventude Popular é que “a JP será aquilo que nós quisermos”.

Lema de vida

Eu acho que não me rejo muito por lemas de vida.

Um país para viver…

Posso escolher Portugal? Então, convictamente, Portugal.

E uma flor para plantar…

Um girassol.

Que talento não tem e gostaria de ter?

Adorava tocar guitarra.

E extravagâncias? Tem?

A gula… claramente.

O que é que gostaria de ser?

Livre.

E o que é que não gostaria de ser?

Não gostaria que me vissem como uma pessoa desonesta.

Algum pintor de eleição?

Salvador Dali.

Uma personagem histórica que odeie.

Mais uma vez… Acho que não consigo identificar uma pessoa que odeie. Se for uma personagem de que não goste… acho que aquelas pessoas que utilizaram a sua via de poder para subjugar a liberdade das outras pessoas.

Como gostava de morrer?

É uma pergunta difícil. Eu gostava que as pessoas me recordassem de uma forma positiva.

E o seu estado de espírito atual?

Eu tenho sempre um estado de espírito que é… além de estar sempre a rir, estou sempre a divertir. E adoro transpor essa alegria para o meu dia-a-dia e para a minha vida.

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Outras entrevistas Sub-30 publicadas pelo Polígrafo:

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