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Os discursos da noite eleitoral em três verificações de factos

Este artigo tem mais de um ano
André Ventura obteve mais votos do que a soma entre os rivais João Ferreira, Marisa Matias e Tiago Mayan? O líder do Chega ficou à frente do candidato do PCP em toda a região do Alentejo? Os candidatos de esquerda registaram o pior resultado de sempre em eleições presidenciais? O Polígrafo responde.

1.

A afirmação de André Ventura: “Há um dado que devemos realçar hoje: esmagámos a extrema-esquerda em Portugal. Esta candidatura teve mais votos do que o Partido Comunista de João Ferreira, o Bloco de Esquerda de Marisa Matias e a Iniciativa Liberal de Tiago Mayan todos juntos. Conseguimos demonstrar que só aqui há alternativa em Portugal”.

A análise: Estando a contagem fechada em todas as freguesias do território nacional, restando apenas três consulados no estrangeiro por apurar, de acordo com os dados oficiais providenciados pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, André Ventura foi o terceiro candidato com mais votos, 496.653 no total.

Em conjunto, os três adversários que referiu (incluindo Mayan da Iniciativa Liberal no campo da extrema-esquerda) obtiveram um total de 479.631 votos, distribuídos da seguinte forma: Ferreira obteve 180.473 votos, Matias obteve 164.731 votos e Mayan obteve 134.427 votos.

Ou seja, Ventura alcançou mais 17.002 votos do que a soma desses três candidatos. 

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro.

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2.

A afirmação de Rui Rio: “Chamo a atenção de que André Ventura é o segundo classificado no Alentejo todo, fica à frente do candidato do PCP no Alentejo todo”.

A análise: Consultando novamente os resultados oficiais das eleições presidenciais verificamos que André Ventura conquistou a posição de segundo candidato mais votado, apenas superado por Marcelo Rebelo de Sousa, nos três distritos que pertencem integralmente à região do Alentejo.

Destaque para Portalegre, onde Ventura registou o seu melhor resultado percentual em todo o país, com 20,04% dos votos nesse distrito. Nos distritos de Évora (16,76%) e Beja (16,19%) também conseguiu votações expressivas e a segunda posição, à frente do candidato apoiado pelo PCP que, tradicionalmente, mantém no Alentejo os seus principais bastiões eleitorais.

No entanto, a região do Alentejo não se limita a esses três distritos, abragendo também quatro concelhos do distrito de Setúbal e 11 concelhos do distrito de Santarém.

Ora, em Setúbal, nos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal, o segundo candidato mais votado foi Ferreira e não Ventura. Por outro lado, nos concelhos de Santiago do Cacém e Sines foi Ana Gomes quem conquistou a segunda posição.

Quanto aos 11 concelhos do distrito de Santarém que pertencem ao Alentejo, Ventura conquistou o segundo maior número de votos em quase todos. Só em Alpiarça é que o candidato comunista alcançou o segundo lugar.

Em suma, ainda que Ventura tenha sido o segundo candidato mais votado nos distritos de Portalegre, Évora e Beja, não chegou ao mesmo patamar em todos os restantes concelhos que integram a região do Alentejo, nomeadamente nos distritos de Setúbal e Santarém.

Avaliação do Polígrafo: Falso.

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3.

A afirmação de Francisco Rodrigues dos Santos:  “A esquerda voltou hoje a perder eleições depois da derrota eleitoral nos Açores. E eu sublinho o facto de a esquerda nunca ter tido um somatório tão escasso de votos como aconteceu nestas eleições presidenciais. A esquerda tem o pior resultado de sempre em eleições presidenciais na noite de hoje”.

A análise: Nas 10 eleições presidenciais até hoje realizadas – em 1986 foi necessário disputar uma segunda volta -, os resultados obtidos pelos candidatos de esquerda têm registado um progressivo decréscimo.

Nas eleições de 1976, em que só Pinheiro de Azevedo não era associado a tal corrente ideológica, os candidatos de esquerda obtiveram 85,64% dos votos (Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho e Octávio Pato).

Nas eleições seguintes, em 1980, o PS, o PCP, a UDP e outros partidos de esquerda sem representação parlamentar distribuíram o seu apoio por Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho e Aires Rodrigues, conjugando um total de 58,15% dos votos.

Em 1986, nas eleições que foram disputadas em duas voltas (a primeira e única vez, até hoje), os candidatos da esquerda obtiveram 53,69% dos votos (Mário Soares, Salgado Zenha e Maria de Lourdes Pintasilgo) na primeira volta e 51,18% dos votos (Mário Soares) na segunda volta.

Saltando até 1991, deparamos com o maior somatório de sempre dos candidatos apoiados por formações de esquerda: Mário Soares, Carlos Carvalhas e Carlos Marques conquistaram 85,84% dos votos.

Na única eleição disputada entre apenas dois candidatos à primeira volta, em 1996, Jorge Sampaio foi a escolha de 53,91% dos eleitores.

Em 2001, quatro candidatos de esquerda (Jorge Sampaio, Fernando Rosas, António Abreu e Garcia Pereira) totalizaram 65,3% dos votos.

Quando Cavaco Silva foi eleito pela primeira vez como Presidente da República, em 2006, apresentaram-se cinco candidatos de esquerda: Mário Soares, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira. No total angariaram 49,45% dos votos.

Na reeleição de Cavaco Silva, em 2011, três candidatos da área socialista e comunista (Manuel Alegre, Francisco Lopes e Defensor de Moura) somaram 28,47% dos votos. Constituía, até então, o pior resultado de sempre da esquerda em eleições presidenciais. Fernando Nobre, que não teve apoios institucionais de partidos de esquerda (14,1% dos votos), representou um corte na tradicional bipolarização entre os dois espectros políticos.

Em 2016, na primeira vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, candidataram-se seis figuras apoiadas ou associadas à esquerda (Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias, Maria de Belém, Edgar Silva, Henrique Neto e Cândido Ferreira), acumulando 42,25% dos votos em conjunto.

Este domingo, Ana Gomes, João Ferreira e Marisa Matias conseguiram 21,2% dos votos. Este resultado foi inferior ao pior resultado registado até aqui, os já referidos 28,47% em 2011.

 Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro.

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