O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Eleições Americanas. Declarações de Joe Biden e Donald Trump escrutinadas em oito verificações de factos

Este artigo tem mais de um ano
À medida que se aproxima a eleição presidencial dos Estados Unidos da América (EUA), agendada para o dia 3 de novembro, enquanto o processo de voto antecipado já está em curso, aumenta a tensão política e sucedem-se os ataques e acusações entre os dois candidatos: de um lado, o atual Presidente dos EUA e recandidato ao cargo, Donald Trump, com o apoio do Partido Republicano; do outro lado, o antigo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, com o apoio do Partido Democrata. Aumenta também a necessidade de escrutínio jornalístico sobre as declarações proferidas por ambos. O Polígrafo destaca oito exemplos de alegações falsas.
  • “Donald Trump disse que foi infetado pelas famílias de veteranos de guerra”.

  • Joe Biden, 9 de outubro de 2020.

Na realidade, o Presidente dos EUA nunca alegou ter sido infetado com o novo coronavírus por famílias de veteranos de guerra. O que Donald Trump disse exatamente foi que, como Presidente dos EUA, “havia a possibilidade de apanhar” a doença e que “às vezes” se encontrava “com grupos de famílias Gold Star [familiares diretos de pessoas que morreram em serviço militar]”.

Nessa mesma afirmação também referiu como exemplo de possível foco de infeção a cerimónia de nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal dos EUA que se realizou na Casa Branca, na origem de mais de uma dezena de infeções comprovadas. Em suma, a declaração de Joe Biden resvala para uma deturpação e extrapolação das palavras realmente proferidas pelo seu adversário político.

  • Avaliação do Polígrafo: Falso.

________________________________

  • “Tive a grande honra de ter sido preso, juntamente com o nosso embaixador nas Nações Unidas, nas ruas do Soweto, quando tentava ir ver Nelson Mandela a Robben Island”.

  • Joe Biden, 11 de fevereiro de 2020.

Não existe qualquer registo de que Joe Biden tenha alguma vez sido detido pelas autoridades quando tentava encontrar-se com o histórico líder sul-africano, na altura em que ainda estava preso em Robben Island.

Andrew Jackson Young Jr., nomeado como embaixador dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU) em 1977, garantiu ao “Politifact” que nem ele nem Biden foram presos na África do Sul. Na verdade foram apenas retidos temporariamente no aeroporto antes do embarque no avião. Biden entretanto já mudou a versão da sua história.

  • Avaliação do Polígrafo: Pimenta na língua.

________________________________

  • “Os democratas querem fechar as igrejas permanentemente. Espero que vejam o que está a acontecer”.

  • Donald Trump, 7 de setembro de 2020.

Donald Trump baseia esta sua afirmação num vídeo que circulou nas redes sociais, mostrando um homem a ser preso alegadamente “por realizar cultos ao ar livre na igreja“. No entanto, o indivíduo em causa foi preso por suspeita de resistência à polícia.

No dia 24 de setembro, a Associated Press noticiou que três pessoas foram presas em Moscow, Idaho, no âmbito de um evento de canto de salmos ao ar livre realizado numa igreja local. Os participantes não cumpriram as regras de utilização obrigatória de máscaras e distanciamento físico. Não existe qualquer indício de que o Partido Democrata tenha a intenção ou defenda o encerramento de igrejas nos EUA.

  • Avaliação do Polígrafo: Pimenta na língua.

________________________________

  • “400 mil dólares é mais do que alguma vez ganhei num ano”.

  • Joe Biden, 9 de setembro de 2020.

De acordo com um artigo do “Politifact”, mediante consulta num arquivo de “declarações fiscais presidenciais”, os rendimentos conjuntos do casal Joe Biden e Jill Biden excederam 400 mil dólares em pelo menos três anos desde 1998.

Em 2013, o casal Biden auferiu cerca de 407 mil dólares. Em 2017 e 2018, os rendimentos aumentaram até à escala dos milhões de dólares: 11.031.3094.580.437, respetivamente. Ou seja, a alegação de Biden é refutada pelas suas declarações de impostos nos últimos anos.

  • Avaliação do Polígrafo: Falso.

________________________________

  • “Só 6% das pessoas registadas como tendo morrido por Covid-19 morreram mesmo em consequência da doença. As outras morreram por outras razões”.

  • Donald Trump, 1 de setembro de 2020.

No âmbito desta alegação, o Presidente dos EUA baseou-se num relatório do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, mas interpretou-o de forma errada. Nesse documento, na secção dedicada a “comorbidades”, indica-se que “para 6% das mortes, a Covid-19 foi a única causa mencionada”.

Em entrevista ao programa televisivo “Good Morning America” da ABC, edição de 1 de setembro, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, explicou que “o que o CDC estava a tentar dizer no relatório é que uma certa percentagem dos mortos não tinha nada além de Covid-19“. Mais, ressalvou que “tal não significa que alguém que tem hipertensão ou diabetes e morre de Covid-19, não morre por causa do novo coronavírus”.

  • Avaliação do Polígrafo: Pimenta na língua.

________________________________

  • “Joe Biden nunca condenou grupos violentos de esquerda como os Antifa, preferindo apontar o dedo aos bravos agentes da lei”.

  • Donald Trump, 1 de setembro de 2020.

Há registo de várias declarações de Joe Biden que comprovam o contrário. Após o assassinato de George Floyd e subsequentes protestos nas ruas de Minneapolis, por exemplo, o antigo vice-presidente dos EUA defendeu (no final de maio) que “protestar contra tal brutalidade é correto e necessário. É uma resposta totalmente americana. Mas incendiar comunidades e destruir sem motivo, não. A violência que coloca vidas em risco, não. A violência que destrói e encerra negócios que servem a comunidade, não”.

Posteriormente, em julho, Biden foi mais incisivo ao afirmar que “os incendiários e anarquistas devem ser processados“, sublinhando que “a polícia local pode fazer isso”. Pelo que a acusação de Trump é infundada.

  • Avaliação do Polígrafo: Falso.

________________________________

  • “Joe Biden passou num comício a música ‘Fuck the Police’ dos N.W.A.”.

  • Donald Trump, 16 de setembro de 2020.

Na verdade, o candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA homenageou o cantor Luis Fonsi, no decurso de um comício de campanha na Flórida, ao colocar um telemóvel junto ao microfone tocando a música “Despacito” (pode conferir aqui na gravação em vídeo do momento).

Logo no dia seguinte, porém, Trump partilhou por duas vezes no Twitter um vídeo manipulado no qual se mostrava Biden a difundir uma música diferente, “Fuck the Police” dos N.W.A. (grupo de hip hop californiano) que contém uma mensagem anti-policial. O vídeo foi denunciado como falso e acabou por ser eliminado pelo Twitter.

  • Avaliação do Polígrafo: Pimenta na língua.

________________________________

  • “A Administração Obama não punha imigrantes em celas”.

  • Joe Biden, setembro de 2019.

O antigo vice-presidente dos EUA garantiu que a Administração liderada por Barack Obama, da qual fez parte, não encarcerou imigrantes em celas. Ao contrário da atual Administração liderada por Donald Trump.

Mas o facto é que numa reportagem de 2014 do jornal norte-americano “Arizona Republic”, por exemplo, descreveu-se a situação de crianças desacompanhadas dos pais que estavam “alojadas em celas com arame farpado” (pode conferir aqui em fotografias captadas na altura). Também o então Secretário de Segurança Interna da Administração Obama, Jeh Johnson, admitiu que se tratavam de celas, ressalvando porém que eram “temporárias”.

  •  Avaliação do Polígrafo: Falso.

________________________________

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque