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Eleições Americanas. As quatro afirmações falsas de Donald Trump em apenas um “tweet”

Este artigo tem mais de um ano
O presidente dos EUA já ultrapassou a marca das 20 mil "fake news" desde que chegou à Casa Branca. Desta vez, os alvos das falsidades (quatro em apenas uma mensagem no Twitter) foram Hillary Clinton e Andrew McCabe.

O presidente dos EUA, Donald Trump, utilizou novamente a rede social Twitter para atacar duas das personagens que mais tem criticado nos últimos anos: a rival democrata nas eleições de 2016, Hillary Clinton, e o antigo diretor adjunto do FBI Andrew McCabe, demitido pelo procurador-geral dos EUA a pouco mais de um dia de se poder reformar, em março de 2018. Na época, Jeff Sessions disse que uma investigação interna da polícia federal norte-americana e do Departamento de Justiça concluiu que McCabe deu informações, de forma não autorizada, a meios de comunicação social e não foi franco, mesmo sob juramento, em múltiplas ocasiões.

Cerca de um ano antes da demissão, no verão de 2017, McCabe exerceu o cargo de diretor interino da agência, depois de Donald Trump ter despedido James Comey.

O líder da Casa Branca concentrou no advogado grande parte do mal estar provocado pela investigação sobre a alegada interferência russa nas presidenciais que elegeram o milionário republicano – e nunca deixou esmorecer o combate contra McCabe. Neste caso, juntando o antigo diretor adjunto do FBI e Hillary Clinton na mesma teoria conspirativa. 

Tweet Trump

“Andy McCabe alguma vez foi obrigado a devolver os 700 mil dólares que lhe foram ilegalmente doados a ele e à sua mulher – para a campanha política desta última – pela desonesta Hillary Clinton, quando esta estava a ser investigada pelo FBI e McCabe era chefe da agência? Estou só a perguntar”, escreveu o presidente dos EUA na rede social Twitter, este sábado. 

“Andy McCabe alguma vez foi obrigado a devolver os 700 mil dólares que lhe foram ilegalmente doados a ele e à sua mulher – para a campanha política desta última – pela desonesta Hillary Clinton, quando esta estava a ser investigada pelo FBI e McCabe era chefe da agência? Estou só a perguntar”, escreveu o presidente dos EUA na rede social Twitter.

Uma única frase com quatro informações falsas, como explica a CNN, relativas a quem deu e a quem recebeu o dinheiro, à legalidade da verba e ao cargo exercido pelo advogado na altura dos factos relatados. 

  • “(…) os 700 mil dólares que lhe foram ilegalmente dados a ele e à sua mulher – para a campanha política desta última (…)”

Apenas neste excerto, existem duas informações falsas, de acordo com a cadeia televisiva norte-americana: McCabe não recebeu qualquer verba e os donativos não eram ilegais.

A acusação de Trump refere-se a 675.288 dólares doados à campanha mal sucedida de Jill McCabe, em 2015, para senadora do estado da Virgínia. Essa verba provinha de duas fontes: o Partido Democrata local (207.788 dólares, divididos em duas tranches) e o Common Good VA, comité criado pelo governador democrata Terry McAuliffe para angariar donativos políticos. 

Os donativos constam dos arquivos financeiros da campanha de Jill McCabe, não havendo qualquer evidência que tenham sido cometidas ilegalidades. 

  • “(…) pela desonesta Hillary Clinton (…)”

A antiga primeira-dama dos EUA e rival de Trump nas eleições de novembro de 2016 não fez nenhuma das doações referidas pelo presidente norte-americano. O governador Terry McAuliffe é amigo de longa data de Hillary e Bill Clinton, e apoiante de ambos, mas não existe nenhuma indicação que o casal tenha estado na origem das doações feitas pelo Common Good VA.

“Não há evidências de que Hillary Clinton tenha dado apoio político ou financeiro à campanha da Dra. McCabe para o Senado em 2015”, garantiu o antigo inspetor-geral do Departamento de Justiça norte-americano Michael Horowitz, num relatório publicado em 2018. 

Clinton Trump

De registar também que as doações do comité de McAuliffe à candidata a senadora não foram sequer as mais altas feitas numa tentativa de ajudar o partido a conquistar a maioria o senado estadual: foram doados 803.500 dólares a Jeremy McPike e 781,500 dólares a Daniel Gecker.

  • “(…) McCabe era o chefe do FBI(…)”

Tal como se explica anteriormente, o advogado foi diretor interino da agência em 2017, sendo que os alegados donativos ilegais a que se refere Trump teriam ocorrido em 2015. Logo, McCabe não era o responsável máximo pelo FBI nessa altura. 

Segundo a CNN, em 2015, o advogado era diretor-adjunto do escritório do FBI em Washington. Subiu a diretor-adjunto em setembro de 2015 e, cinco meses mais tarde, foi nomeado vice-diretor. Foi já depois das doações e da eleição que McCabe acabou por assumir o papel de fiscalizador das investigações relacionadas com os emails de Hillary Clinton e sobre doações relativas à Fundação do antigo casal presidencial norte-americano. 

As mais de 20 mil fake news proferidas pelo presidente dos EUA

As quatro informações falsas proferidas por Donald Trump no tweet publicado sábado juntam-se à lista de mais de 20 mil fakes em 1267 dias. Os números fazem parte da base de dados The Fact Checker do “The Washington Post“, projeto criado para verificar as declarações falsas ou enganadoras proferidas pelo chefe de estado norte-americano desde que tomou posse, em 20 de janeiro de 2017.

O presidente dos EUA precisou de 827 dias para superar as 10 mil afirmações falsas ou enganadoras, numa média de 12 fake news por dia. Porém, apenas 440 dias depois, ultrapassou a marca das 20 mil, numa média de 23 por dia durante 14 meses, com destaque para questões relacionadas com o julgamento de impeachment de que foi alvo, a pandemia de Covid-19 e consequente crise económica e os protestos causados pela morte de George Floyd – o cidadão afro-americano morto por um polícia que lhe provocou lesões fatais ao asfixiá-lo com um joelho no pescoço. 

Segundo o jornal norte-americano, foi durante uma entrevista na Fox News que Donald Trump ultrapassou as 20 mil afirmações falsas. Nesse dia, acumulou 62, cerca de metade das quais durante a referida conversa com o apresentador Sean Hannity, sendo o seu antecessor, Barak Obama, um dos principais alvos da desinformação.

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