Foi com muita emoção que o Clube de Regatas do Flamengo, do Rio de Janeiro, treinado pelo português Jorge Jesus, venceu a Copa Libertadores da América e o Campeonato Brasileiro na mesma semana. No segundo caso, mesmo sem entrar em campo, beneficiando da vitória do Grémio de Porto Alegre sobre o Palmeiras que garantiu aritmeticamente o primeiro lugar do Flamengo nessa competição nacional que já não conquistava desde 2009 (quanto à Copa Libertadores da América, o período de jejum foi mais extenso, datando a última e única vitória de 1981).
Após a vitória na final da Copa Libertadores da América contra o River Plate da Argentina, em jogo disputado na capital do Peru, Lima, a 23 de novembro, os adeptos do Flamengo encheram as ruas do Rio de Janeiro para celebrar essa conquista internacional no dia seguinte, 24 de novembro, quando foi também confirmado o título de campeão brasileiro mediante a já referida derrota do Palmeiras. Tornou-se assim uma dupla celebração.
A equipa de Jorge Jesus conquistou os dois títulos mais importantes da época, motivo de orgulho não só para os adeptos do Fla mas também para muitos portugueses que viram com carinho o sucesso do ex-treinador do Sporting, Benfica, Braga, Belenenses, entre outros clubes.
No futebol como na política, em momentos de grandes decisões intensificam-se as campanhas de desinformação nas redes sociais, através de boatos ou fake news, muitas vezes com o objetivo de desestabilizar ou prejudicar os adversários. A dupla vitória do Flamengo de Jorge Jesus originou uma série de publicações falsas. O Polígrafo destaca três das mais partilhadas, com a respetiva verificação de factos.
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Jogadores do Flamengo exibiram camisola com o nome de Haddad após a vitória no Peru
A imagem começou a circular pouco depois da vitória do Flamengo na Copa Libertadores da América. Mostra vários jogadores a exibirem uma camisola do clube com o nome de Fernando Haddad, candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais do Brasil, e o número 13 nas costas.
Em caixa de texto no topo da imagem destaca-se a seguinte mensagem: “Tirando o chapéu pra quem defende a democracia. Valeu, Flamengo!”
Segundo um artigo da plataforma brasileira de fact-checking “Boatos“, a imagem original data de 2018 e a camisola pertencia a Juan, ex-jogador do Flamengo. Os jogadores celebravam uma vitória contra o Chapecoense e dedicaram-na a Juan que, na altura, se encontrava lesionado. A fotografia foi alvo de uma montagem. Embora não pareça óbvia à primeira vista, um olhar mais atento revela detalhes evidentes de modificação e falsificação. Fotografias adulteradas com propósitos políticos não são novidade – recentemente, o Polígrafo verificou uma semelhante relativa a Caetano Veloso.
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River Plate vendeu o título da Copa dos Libertadores à FIFA
O segundo boato denuncia uma suposta venda do título da Copa Libertadores da América à FIFA. A publicação viral em causa atribui uma citação ao jogador argentino Pinola, do River Plate: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu na final da Libertadores 2019, ficariam enojadas“. Problema: o jogador nunca disse isso.
“Facto comprovado: O River Plate vendeu o título da Libertadores para a FIFA”, destaca-se na mensagem. Nessa publicação sugere-se que os jogadores foram avisados sobre essa venda no decurso de “uma reunião envolvendo o Matías Suarez, o técnico do River Plate e os presidentes da FIFA“. Mais, garante-se que em contrapartida foi pago o total dos prémios relativos à competição, com um bónus adicional de 300 milhões de reais, além de promessas de melhorias no estádio do River Plate.
Mensagens em que se denuncia a venda de campeonatos são frequentemente propagadas nas redes sociais. Não é portanto de admirar que não se encontre qualquer registo de que o jogador Pinola, do River Plate, tenha dito a frase em questão. Pesquisando no motor de busca Google encontra-se a mesma citação atribuída a outros jogadores em diferentes contextos. O modelo do texto é sempre o mesmo, só mudam as equipas, os valores e os campeonatos.
A carta geralmente é assinada por um “jornalista”: Gunther Schweitzer. Mas Gunther não é jornalista, mas sim um professor de Educação Física que se deixou apanhar por esta corrente: “Nunca escrevi esse texto. Eu recebi no meu e-mail. Vi que era uma coisa meio absurda, meio louca, então decidi repassar para todo mundo ficar sabendo. Trabalhava na Volkswagen. Repassei para umas 500 pessoas pelo e-mail corporativo. Alguém colocou meu nome na assinatura e trocou minha função, fui de analista de produção para jornalista. Só não tiraram meu telefone. Não parou de tocar por umas duas semanas”, explicou o próprio à “Globo”.
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O jogador Quintero do River Plate disse que nem sequer conhecia o rival Flamengo
Mais um boato, desta vez envolvendo o jogador colombiano Juan Quintero, também do River Plate. De acordo com uma publicação viral, Quintero terá declarado durante uma entrevista que não conhecia o Flamengo. Nessa mesma entrevista terá também afirmado que ficou surpreendido “por uma equipa de tradição como o Grémio ser eliminada por um clube sem expressão“. Mas o jogador não disse nada disso.
“Me disseram que a sua única Libertadores na história [do Flamengo] foi roubada, expulsaram cinco do time adversário”, conclui-se na citação que foi atribuída ao jogador colombiano que já representou o Futebol Clube do Porto. Contudo, não há qualquer registo público de que Quintero tenha proferido tais afirmações, nem em entrevistas a órgãos de comunicação social nem nas suas páginas nas redes sociais. Os únicos registos dessas declarações, como revela a plataforma “Boatos“, foram publicadas em páginas nas redes sociais de clubes rivais do Flamengo ou do Grémio. Trata-se de uma citação apócrifa, servindo assim para difundir mais uma fake news.