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Mariana Mortágua vs. André Ventura: Quem faltou mais à verdade no frente-a-frente?

O debate entre os líderes do Chega e do Bloco de Esquerda envolveu legos e insinuações sobre o TikTok. Foi uma troca de ideias intensa e caótica entre dois inimigos políticos, mas em matéria de verdade só um saiu a ganhar. Ventura enganou-se na dimensão da própria casa e também mostrou não conhecer a 100% as posições do próprio partido. Perde, por isso, no frente-a-frente da verdade.

Mariana Mortágua: “André Ventura é o único político português que defende as politicas de Donald Trump e diz que quer fazer igual”

Durante o debate com Rui Tavares o líder do Chega defendeu as medidas de Donald Trump em matéria de tarifas e disse mesmo que “o que Donald Trump está a fazer nos Estados Unidos é o o que nós temos que fazer na Europa. Proteger os nossos trabalhadores, proteger as nossas empresas, proteger quem trabalha”. Ou seja, Mortágua tem razão.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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André Ventura: “Eurodeputado do Chega não apoiou acordo UE-Mercosul”

Em fevereiro de 2025, ao intervir no Parlamento Europeu, Tiago Moreira de Sá, eurodeputado do Chega, declarou: “Apoiamos firmemente o comércio livre, reconhecendo os seus benefícios para o crescimento económico e a prosperidade das nações. Conhecemos bem a história dos anos 20 e 30 do século passado e não queremos repeti‑la. Acreditamos também que o Acordo União Europeia-Mercosul tem vantagens geopolíticas, como a contenção da influência crescente da China na América do Sul e o fortalecimento do eixo Atlântico da Europa. Mas, como sempre, definiremos as nossas posições em função dos nossos interesses nacionais, especialmente os dos nossos agricultores, pescadores, industriais e pequenos e médios comerciantes, que constituem a espinha dorsal da nossa economia.”

Na mesma altura, em vídeo publicado nas redes sociais, o mesmo eurodeputado afirmou: “Intervim em Plenário sobre o acordo comercial União Europeia-Mercosul, um importante acordo que amplia o acesso europeu aos mercados estratégicos da América Latina, mas que não pode ir contra os nossos interesses nacionais.”

Embora ressalvando a necessidade de defender os “interesses nacionais”, as declarações de Moreira de Sá apontam explicitamente para as “vantagens” do acordo União Europeia-Mercosul. De resto, o eurodeputado do Chega até faz parte da “Delegação para as relações com o Mercosul” no Parlamento Europeu.

“Foi com grande honra que assumi as funções nas delegações da União Europeia com o Brasil, América Latina e Mercosul. Estes vínculos são, sem dúvida, essenciais para o futuro da nossa política externa e para o reforço das nossas relações com o Atlântico Sul no seu conjunto”, destacou Moreira de Sá, em outubro de 2024.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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Mariana Mortágua: “75% das importações portuguesas vêm da União Europeia”

De acordo com o Banco de Portugal, 75% das importações de bens de Portugal em fevereiro deste ano tiveram origem em países da União Europeia (UE). Destaca-se que grande parte dessas importações provinham de Espanha, fazendo deste país um dos principais parceiros comerciais de Portugal.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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André Ventura: “Sair da NATO e do Euro é com o Bloco de Esquerda”

Começando pelo Programa Eleitoral 2022-2026 do Bloco de Esquerda, no capítulo sobre política externa deparamos com a proposta em causa, tal e qual: “Saída de Portugal da NATO e defesa do desarmamento negociado e com uma base multilateral, rejeitando inequivocamente todos os cenários de aproximação à formação de um exército europeu”.

No documento lê-se também – em forma de fundamentação das propostas – que “uma política externa assente nos direitos humanos e na solidariedade implica igualmente a rejeição da participação na NATO e nas suas operações militares“.

Os bloquistas defenderam também a saída do euro. Recuando até ao dia 26 março de 2017, deparamos com uma conferência de imprensa no final de uma reunião da Mesa Nacional do BE, em Lisboa, tendo então Catarina Martins anunciado que a resolução aprovada propunha “claramente que, para recuperar a capacidade democrática” do país sobre a economia e a finança, “é urgente preparar o país para o cenário de saída do euro ou mesmo de fim do euro”.

“Numa Europa em degradação, o nosso país não pode ficar alegremente no pelotão da frente para o abismo europeu e tem de ter capacidade de defender a capacidade produtiva da sua economia, o seu emprego e o seu Estado Social”, declarou a então líder do BE, segundo relatou na altura a Agência Lusa.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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“É um disparate”. André Ventura diz ser contra limitar salários mas votou a favor do Livre sobre rácios salariais? 

O partido de Rui Tavares quis, em janeiro deste ano, impedir que alguém “ganhe num mês aquilo que outra pessoa ganha num ano”, através de um Projeto de Lei 449/XVI/1 que criaria um valor de referência para os rácios salariais a observar no setor público. Um rácio que, de acordo com a proposta, “não pode exceder 14 vezes, tantas quantas as remunerações que qualquer trabalhador por conta de outrem recebe por um ano de trabalho”. O Chega acompanhou a proposta (que acabou por ser chumbada com votos contra do PSD, IL e CDS-PP) e abstenções do PS, PCP, PAN.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Mariana Mortágua: “Acordo do Mercosul ainda não está em vigor”

De facto, no dia 6 de dezembro de 2024, após um longo processo de 25 anos, a União Europeia e os quatro países fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) concluíram as negociações para um Acordo de Parceria, composto por um pilar político e de cooperação e um pilar comercial.

No entanto, o Acordo de Parceria entre a União Europeia e os países do Mercosul ainda não está em vigor.

Segue-se mais um longo processo jurídico e político até à ratificação do Acordo de Parceria pelo Parlamento Europeu e os Estados-membros da União Europeia. E não é certo que venha a ser aprovado, contando com a oposição de países como a França e a Polónia. Por seu lado, Giorgia Meloni, Primeira-Ministra da Itália, ainda não definiu o seu sentido de voto. Se se juntar à França na oposição, o Acordo de Parceria dificilmente terá viabilidade.

A aprovação implica uma maioria qualificada dos Governos dos Estados-membros e uma maioria simples dos eurodeputados no Parlamento Europeu.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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André Ventura: “Bloco de Esquerda quer nacionalizar a Galp, a EDP, a REN, a ANA, os CTT e a TAP”

No programa referente às eleições legislativas de 2024 (pode consultar aqui), de facto, o Bloco de Esquerda propõe “recuperar a soberania pública sobre o setor da energia, obtendo o controlo acionista da Galp, da EDP e da REN. Os dividendos gerados por estas empresas têm sido de 1.000 milhões de euros por ano, pelo que será possível financiar essa aquisição, realizando a operação inversa à que esses acionistas realizaram”.

Mais, “garantir o controlo público dos CTT e realizar uma auditoria independente que quantifique todas as ações lesivas do serviço e do erário público tomadas pela atual gestão dos CTT” e “resgatar as infraestruturas aeroportuárias para a gestão pública através da nacionalização da ANA“.

O BE ainda não apresentou programa às legislativas de maio, pelo que é impossível saber se os objetivos se mantêm.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Mariana Mortágua: “Proposta de revisão constitucional do BE diz que, para votar, imigrantes devem viver em Portugal há pelo menos quatro anos”

De facto, em 2022 o Bloco de Esquerda apresentou um projeto de revisão constitucional no qual propôs que o direito de voto fosse atribuido a quem resida em Portugal há quatro anos.

“A lei pode atribuir a pessoas estrangeiras residentes no território nacional há pelo menos quatro anos capacidade eleitoral ativa e passiva para a eleição dos titulares da Assembleia da República, das Assembleias Legislativas das regiões autónomas e das autarquias locais”, lê-se no respetivo documento.

No entanto, essa especificação não é feita no programa do partido. Nem de 2022 nem de 2024.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro, Mas…

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André Ventura: “Vivo numa casa com 30m2”

“A minha casa tem 30m2, não é um palacete como os do Bloco”. Esta medida – 30m2 – foi repetida várias vezes ao longo do debate transmitido ontem à noite na SIC Notícias. O Polígrafo questionou o partido sobre a dimensão da casa – logo depois do soundbite de Ventura que se tornou viral nas redes sociais -, mas o Chega não respondeu. Fê-lo apenas esta tarde, em entrevista a Júlia Pinheiro, onde admitiu que, afinal, a sua casa tem mais do dobro de área: são 70 metros quadrados. E até um mini-closet.

“São 70 m2, na verdade. Eu é que me enganei ontem. 70, na verdade… enganei-me. Foi um lapso mesmo. É 70. Mas é um T1. O closet é pequeníssimo. Há um armário pequenino para a minha roupa”, afirmou André Ventura esta tarde no “Júlia”, na SIC.

Este T1 situado num condomínio fechado de luxo em Lisboa (o MetroCity no Parque das Nações) está numa freguesia onde o metro quadrado rondava em março os quase 6 mil euros. Segundo a informação encontrada pelo Polígrafo, os lofts neste condomínio variam entre os 78m2 até aos 154m2. Neste momento, um apartamento desta tipologia com 151 metros quadrados de área bruta privativa está à venda por 575 mil euros. Já um T0 de 78 metros quadrados vende por 395 mil euros. O T1 mais pequeno disponível para arrendamento neste condomínio tem 53 metros quadrados de área útil e custa 1.690 euros/mês.

Nesta reportagem transmitida pela SIC em 2006, o condomínio era descrito como um conjunto de 184 apartamentos, de t0 a t4, com áreas entre os 50 e os 188 metros quadrados.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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