A indústria da moda produz 20% das águas residuais a nível global e só num ano são gastos cerca de 93 mil milhões de metros cúbicos de água, segundo um artigo publicado na página da Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, o setor é responsável por 2 a 8% das emissões globais de dióxido de carbono, um gás com efeito de estufa que contribui para as alterações climáticas.
Por isso, estender a vida útil das roupas e utilizar práticas mais sustentáveis de lavagem é essencial para poupar recursos e dinheiro. No relatório do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente, os autores aconselham os órgãos de decisão a “criar indicadores de durabilidade para as roupas”, estimulando “novos modelos de negócios (como o aluguer de roupas)” e a “educar os consumidores quanto a práticas mais sustentáveis” de lavagem das peças. Mas o que podem fazer os consumidores? Eis algumas recomendações práticas.
Diminuir a frequência das lavagens e secar a roupa ao ar livre
A principal fonte dos microplásticos primários nos oceanos é a libertação de fibras nos processos de lavagem. Segundo as Nações Unidas, cerca de meio milhão de toneladas de microfibras são lançadas ao mar anualmente. Para mais, ainda não existem filtros suficientemente finos nas máquinas de lavar roupa ou nas estações de tratamento de esgotos que impeçam a sua passagem.
Noutro plano, lavar a roupa a baixas temperaturas e secá-la ao ar livre são dois dos gestos recomendados para diminuir a pegada ambiental das lavagens. Nesse sentido, sugere-se também que se utilize a máquina de lavar com a carga completa, diminuindo o atrito entre a roupa, o que resulta em menos fibras libertadas. Outra estratégia proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é a utilização de dispositivos de retenção de fibras durante as lavagens.
Comprar menos e com mais consciência
A máxima “menos é mais” também se pode aplicar na hora em que a tentação de encher o armário de peças novas e baratas é aguçada pelos catálogos coloridos da próxima estação. A redução do consumo é, por isso, uma das formas mais eficazes de reduzir a pegada ambiental do guarda-roupa, mas, quando tal não é possível, as recomendações tendem para um cuidado especial aos materiais dos artigos. Há tecidos mais sustentáveis e duradouros que outros, como o algodão orgânico, o cânhamo, a lã, o linho ou as fibras recicladas. Já o poliéster é um material evitar: além de não ser biodegradável, contribui para o aumento das emissões de dióxido de carbono.
Os certificados ambientais credíveis presentes nas etiquetas podem ser também um indicativo de que aquela peça foi pensada de forma mais consciente do ponto de vista ambiental. O Rótulo Ecológico Europeu, por exemplo, aplica critérios de limitação de substâncias nocivas para a saúde e o meio ambiente e é dos mais fiáveis e rigorosos da União Europeia.
Dar uma segunda vida à roupa velha ou defeituosa
O “upcycling” não é uma prática nova, mas ganhou um novo fôlego com a crescente preocupação ambiental. O conceito consiste em restaurar, readaptar e reparar peças antigas, dando uma nova vida a artigos que, caso contrário, seriam descartados. Por exemplo, um par de calças de ganga que se rasgou pode dar lugar a uns novos calções e um buraco numa blusa pode ser tapado com um bordado.
Há várias oficinas e iniciativas em Portugal dedicadas a ensinar os consumidores a dar uma nova vida a peças de roupa com defeito. Este método, além de reduzir o consumo de novas matérias-primas e a emissão de gases poluentes, potencia a circularidade de produtos em fim de vida.
Comprar e vender roupa em segunda-mão
Na hora de descartar uma peça de roupa ou de comprar um artigo em falta no armário, uma opção mais sustentável do que aproveitar os preços baixos das lojas fast-fashion é a “segunda mão”. As plataformas online para vender e comprar roupa que já teve outro dono estão em crescimento, mas as lojas físicas de artigos usados e em bom estado continuam a existir, sobretudo nas grandes cidades. Além disso, trocar roupa com amigos e família pode ser também uma forma de poupar o ambiente, mas também os recursos necessários para fazer uma peça nova.
Outra alternativa à venda pode ser a doação de roupa quer a amigos e familiares, quer a instituições de solidariedade social. Neste caso, é particularmente importante que as roupas estejam em bom estado de conservação e que se escolham entidades confiáveis e transparentes quanto ao fim destinado aos artigos doados.
Caso a peça de roupa esteja muito deteriorada, pode ganhar novos fins que não aquele para o qual foi criada. Peças como lençóis ou toalhas podem transformar-se em panos de limpeza, enchimento de almofadas ou retalhos para remendos.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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